Terminou sem conclusões a audiência pública que discutiu, na quinta-feira (15), a falta de vagas e de professores na rede municipal da educação. A reunião foi encerrada pela vereadora Raquel Auxiliadora (PT) sob argumento de se manter a “saúde mental”, sob protestos da secretária Wanda Hoffmann.
O encontro entre gestão, mães, professores e parlamentares agitou a Câmara Municipal na noite de ontem e teve duração de duas horas.
As principais críticas são feitas à forma como a Educação fecha as turmas na educação infantil, uma vez que pais e professores afirmam que a gestão espera “completar o quadro de alunos” para efetivar uma nova sala. Há casos de crianças que não são atendidas por meses devido à falta de turma.
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As mães também reclamam da falta de creches integrais nos bairros mais carentes da cidade. A política pública permite que mulheres busquem mais rapidamente a recolocação no mercado de trabalho após ter o bebê.
Um dos casos é de Adrielly Cristina, que tem uma criança de cinco meses que está sem vaga em creche, mesmo já pedindo vaga na época do nascimento. Outro filho, que está na fase 3 em tempo integral, terá aula de meio período em 2023.
“Então eu não sei o que faço. Fizemos abaixo assinado na escola porque não tem o que escolher [integral ou parcial]. O que a Wanda tinha dito para a gente na última reunião é que vai tirar meio período da criança para atender mais. Vão tirar da criança meio período para a gente não saber o que fazer no restante do dia”, afirma.
Segundo ela, a falta de vagas impõe que as mães escolham, em plena crise econômica, entre manter um trabalho de período e cuidar dos filhos. “Não compensa trabalhar para pagar R$ 700 para babá”.
Outra mãe participante da audiência enviou depoimento por áudio explicando a situação vivida. Com R$ 1.100 de salário vai se ver obrigada a comprometer 1/3 do orçamento pessoal por falta de creche integral. “No meu caso eu tenho duas e eu pago R$ 400 para a babar ficar a tarde com meus filhos”, afirma.
A professora Aline de Paula defendeu que a rede municipal abra turmas independentemente do número de crianças, atendendo a resolução do Conselho Municipal da Educação.
“No começo do ano, na época da matrícula, a gente sempre abria duas turmas fase 1 com duas crianças matriculadas. Porque as crianças não nascem todas em setembro [mês de matrícula]. Elas vão ocupando as vagas conforme vão nascendo. É um direito”, opinou.
Para a professora, a falta de vagas na educação municipal afeta o direito das mulheres de buscarem trabalho. “Em um país como nosso em que as mulheres estão jogadas às traças, ganhando menos, sem ter vagas para filho? Isso é desaforo. A pior administração que eu já vi”, desabafa.
O conselheiro tutelar Sidnei Elias de Moura ponderou que São Carlos não pode continuar a violar o direito das crianças à educação. Ele pediu ação às autoridades municipais na resolução da questão. “Não podemos continuar desta maneira em 2023. [A gestão] não pode, de maneira alguma, repetir os erros, os equívocos e as deficiências do ano de 2022”.
A vereadora Raquel indagou se era “necessário desenhar” a situação vivida pelas mães e alunos para a secretária da Educação. Em determinado momento, pediu para que a gestora olhasse nos rostos aflitos e tivesse compaixão com as famílias. São Carlos tem 600 crianças na fila de espera por vagas. “Eu entendo que alguns tem ansiedade e ‘et cetera’, mas estamos fazendo as coisas”, respondeu Wanda.
“Mas estamos fazendo as coisas. Sobre as salas fechadas, não é isso. Estamos no processo de mapear a demanda”, justificou.
A secretária também comentou que não pode basear a gestão em postagens de redes sociais e “à política” do município. Raquel lembrou que Wanda é “agente política” e que todos ali estão fazendo política.
“É uma questão de humanidade que estamos falando, já passou do limite. Não é ‘diz que me diz’ de rede social. Estamos nos baseando em leis, em fatos, e a senhora está dizendo que estamos aqui mentindo. Prove que eu, as mães e as professoras não estão mentindo?”, disparou a vereadora.
Com as alegações da secretária da Educação e o crescente embate, a vereadora encerrou a reunião com a voz embargada sob argumentação de “preservação da saúde mental”.
“É um crime o que estamos vendo na nossa cidade, com nossas crianças. É criminoso o que está acontecendo com a nossa educação. Não temos sanidade para lidar, pois são vidas e vidas ceifadas com isso”, finalizou, sob protestos de Wanda.
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