A maior presença de adolescentes no eleitorado de São Carlos trouxe junto a predominância feminina à faixa etária de votantes com menos de 18 anos. O município conta com maior proporção feminina entre os adolescentes de toda a série histórica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que começou em 2004.
A última estatística eleitoral estratificada da cidade, encerrada no final do mês passado mostra que as meninas detêm 53,4% dos eleitores fora da maioridade. O percentual é puxado pelos 54,98% delas na faixa dos 16 anos. Nos 17 anos o percentual é menor, mas ainda formam maioria, com 51,8%.
O predomínio feminino em 2022 reverte uma situação de maioria masculina no eleitorado com menos de 18 anos vivida na cidade pelo menos desde março de 2010. Com a exceção de 2016, quando elas tiveram 51,1% dentre os adolescentes de 17 anos, em todas as estatísticas os rapazes apareceram à frente.
O maior interesse das mais jovens pelo processo eleitoral tem mudado o perfil geral do eleitorado na cidade. Em março de 2004 elas representavam 50,37% dos votantes, proporção que passou para 51,36% no mesmo mês de 2014 e 52,34% na última estratificação. Em suma, as mulheres são maioria na população residente na cidade, com 50,9% conforme o Censo 2010, o último realizado no país.
A presença feminina é boa notícia na opinião de cientistas políticos. Para Aline Zambelo, o alistamento eleitoral das meninas pode ter a ver com o perfil dos influenciadores que participam da campanha para que os jovens tirem o título eleitoral. Cantoras como Anitta e Luíza Sonza, de grande presença nas redes sociais, participaram da ação.
“Temos um pouquinho mais de mulheres do que homens na população brasileira. Então é esperado um pouco de diferença entre um e outro na retirada do título pela quantidade. No entanto, não dá para desprezar a influência das redes sociais nessa campanha articulada que foi feita por esses influenciadores, celebridades e famosos ter afetado prioritariamente as mulheres e ter feito elas tirarem o título também”, afirma.
Em um aspecto geral, a participação dos menores de 18 anos na escolha dos representantes é bem-vinda, na visão da cientista política Lorena Barberia, da USP. Apesar de haver crescimento em números absolutos, em termos porcentuais houve redução na proporção de adolescentes, de 0,88% em 2012 para 0,52% neste ano. Ainda assim, um eleitorado jovem e, sobretudo, maior diversidade entre os eleitos pode ajudar na formulação de políticas públicas voltadas à faixa dos 16 aos 24 anos.
“Estes jovens que queremos integrá-los e pensar que quanto mais eles participam no país, mais políticas públicas serão sensíveis e vão procurar responder às necessidades deste grupo. Eu analiso ser importante os movimentos dos influenciadores e todo o esforço de trazer esses jovens e estimulá-los a conclamar por seus direitos. Votar é um direito, mas todos têm direito à educação, à saúde, à proteção de fome. Esses jovens precisam se engajar e fazer um grande trabalho de inclusão”, comenta.
Apesar de crescente participação feminina como eleitoras e a maioria inconteste em levantamentos censitários, elas ainda são minorias como eleitas. Em anos, pouco mudou. Por exemplo, em 1984 eram duas no Parlamento Paulista, número que subiu para 19 nas eleições de 2018. Uma delas, inclusive, foi vítima de assédio em plenário, sem punição severa contra o autor. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, 80% dos eleitos eram homens.
Em São Carlos, município com números crescentes de participação feminina entre as eleitoras, entre os eleitos a situação é ruim. São três entre 21 parlamentares, menos de 15% do total. Não houve eleição de prefeita na cidade desde a criação do município.
“Lembrando que lutamos muito na política pela representação feminina, pela equidade na política. Nós [mulheres] não ocupamos o espaço público que deveríamos ocupar, nos cargos eletivos, tanto no Legislativo quanto no Executivo. Estamos vendo essa questão muito importante que precisamos conclamar maior equidade na representação. O fato de que mais mulheres comparecem, se alistam, nos ajuda a mobilizar”, afirma Lorena.
Representação feminina nos parlamentos
Câmara de São Carlos: 3 mulheres entre 21 cadeiras (14,3% dos representantes).
Assembleia Legislativa de São Paulo: 19 mulheres dentre 94 cadeiras (14,9% dos representantes).
Câmara Federal: 77 mulheres de 513 cadeiras (15% dos representantes).
Senado Federal: 13 mulheres de 81 cadeiras (16% dos representantes).