Professora da Rede Municipal e fundadora do Coletivo Promotoras Legais Populares em São Carlos, Raquel Auxiliadora dos Santos (PT), de 37 anos, recebeu 1.292 votos nas Eleições 2020 e iniciou, em 2021, seu primeiro mandato como vereadora em São Carlos.
Em entrevista concedida ao ACidade ON São Carlos, que faz parte de uma série do jornal com os 21 vereadores eleitos na cidade, a petista disse que terá como prioridades a defesa da educação, dos direitos dos trabalhadores e do movimento feminista: “A gente escolheu durante a campanha trabalhar os temas que tinham a ver com a minha trajetória, temas que dominava e tinha, inclusive, coletivos em torno. Eu sou professora da Rede Municipal, então a educação é um tema importantíssimo; por ser servidora, a defesa dos direitos dos trabalhadores, em especial os servidores públicos; e eu tenho uma trajetória importante no movimento feminista, eu fundei aqui na cidade o coletivo de promotoras legais populares. Então a defesa dos direitos das mulheres, do feminismo, também é um outro eixo importante no nosso mandato”.
Trajetória, Partido dos Trabalhadores e renovação
Militante do Partido dos Trabalhadores (PT) desde os 16 anos, a vereadora disse que sua trajetória pelo movimento estudantil, sindical e feminista acabou a levando até o Legislativo. “Foi mais uma consequência do que um projeto pessoal. Eu represento muito a construção dessas lutas que eu participei ao longo da minha vida”.
Questionada sobre o enfraquecimento do PT na política da cidade, Raquel afirmou que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff foi muito difícil para o partido. “A gente passa por alguns ciclos e, realmente, o ciclo pós-golpe da presidenta Dilma foi muito difícil para o PT. Até certo ponto, houve uma criminalização com o PT. E na cidade a gente passa por um ciclo de renovação das pessoas, o que é também normal”.
Representando uma nova geração petista, a vereadora exaltou o legado dos governos Newton Lima e Barba, mas disse que chegou o momento de mostrar uma renovação do partido. “O nosso legado, principalmente aqui em São Carlos, para a gente é muito importante. Os três governos municipais que o PT teve mudaram a cara de São Carlos e são referência até hoje. Muitas políticas públicas que a gente tem em São Carlos foram criadas no governo PT, são referências que a gente tem de políticas públicas. Então esse nosso legado a gente não abandona, pelo contrário, a gente sempre ressalta. E entender isso, tem que haver renovação, então nosso mandato tem essa característica: resgatar nosso legado e, ao mesmo tempo, mostrar uma renovação do partido”.
Oposição, educação sexual e igualdade
Com toda essa bagagem na política, apesar da pouca idade, a vereadora agora pretende defender pautas da esquerda na Câmara Municipal e fazer uma oposição responsável ao governo de Airton Garcia (PSL). “Nós seremos um mandato de oposição ao governo Airton Garcia, porque a gente, inclusive, apresentou um projeto diferente para a cidade na eleição. Então seria incoerente apresentar um projeto e depois ingressar em outro. A gente continua defendendo nosso projeto, fazendo uma oposição, mas uma oposição responsável”.
Um dos projetos que a professora pretende apresentar na Câmara Municipal é para incluir temas como educação sexual e igualdade no currículo escolar das escolas municipais. “A gente propôs isso na nossa campanha, não só da questão da educação sexual, mas, sobretudo, a igualdade. A gente precisa trabalhar uma educação que demonstre para as crianças a importância da igualdade entre mulheres, entre negros e brancos, entre diferentes etnias, entre diferentes orientações sexuais, o respeito, a igualdade, têm que ser princípios da educação. A gente precisa, através da educação, valorizar isso”.
Raquel salientou que é necessário tratar desses assuntos com crianças e jovens para protegê-los de abusos, violência e gravidez precoce. “É um tema que a gente tem que trabalhar no sentido de proteção das crianças. Cada vez que a gente demoniza esse tema, diz que é proibido, a gente não esclarece e, não esclarecendo, a gente deixa essa população vulnerável a situações, por exemplo, de violência, abuso sexual, gravidez na adolescência. O Brasil tem índices grandes de gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis. Então a gente precisa falar sobre isso, para proteger nossas crianças. Não pode ter tabu em falar sobre isso”.
Por se tratar de um tema sensível e, muitas vezes, demonizado por alguns setores da sociedade, a vereadora ressaltou a importância de debater o assunto com a sociedade civil antes de apresentar a proposta na Câmara Municipal. “Nossa ideia é chamar professores, estudantes, pessoas de conhecimento na área, que possam ajudar a construir e debater junto. É muito fácil um vereador inventar um projeto da sua cabeça, difícil é dialogar com tudo mundo, construir coletivamente. Eu tenho certeza, quando a gente faz isso, o resultado sai muito melhor”.
Reflexos da pandemia
Com mais de 100 mortes registradas por Covid-19 e reflexos devastadores para a economia de São Carlos, Raquel acredita que lidar com as consequências da pandemia será o grande desafio para os próximos anos. “O sistema de saúde terá muitas consequências, a geração de emprego e renda, a educação, que foi um dos setores mais atingidos durante a pandemia. Então retomar as aulas presenciais, retomar o conteúdo com essas crianças, o atraso que elas tiveram em questão de educação. Eu acho que, para lidar com as questões que a pandemia nos trouxe, ainda vamos ficar mais de 4 anos aprendendo a lidar com eles”.
Confira algumas curiosidades sobre Raquel Auxiliadora:
Um ídolo?
Paulo Freire
Time do coração?
Ponte Preta
Um livro de cabeceira?
Educação como prática da liberdade, de Paulo Freire.
Estilo musical?
Música brasileira em geral
Em uma palavra, no seu mandato como vereadora não vai faltar?
Participação
Perfil
Natural de Campinas (SP), Raquel Auxiliadora dos Santos, de 37 anos, foi eleita vereadora pela primeira vez nas eleições 2020 após receber 1.292 votos.
Pedagoga, especialista e mestra em educação pela Universidade Federal de São Carlos, a petista trabalha como professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Raquel atua politicamente desde o movimento estudantil.
Além disso, fundou o Coletivo Promotoras Legais Populares em São Carlos e foi gestora de política para as mulheres na cidade entre 2007 e 2012, quando implantou o Centro de Referência da Mulher.
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