Em menos de 24 horas de nascida, a pequena Ana Júlia já foi vacinada. O calendário vacinal dela foi iniciado com imunizações contra tuberculose, hepatite B. Foram picadas que devem garantir uma vida mais saudável para a bebê. Apesar do benefício, a pequena abriu um berreiro na hora da imunização.
“A gente fica com uma dorzinha, né, mas é importante”, afirma a mãe Diana Dantas Oliveira dos Santos.
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O PNI (Programa Nacional de Imunização) garante vacinas essenciais logo nas primeiras horas para as crianças pelo SUS (Sistema Único de Saúde), de forma totalmente gratuita. Os bebês saem da maternidade no colo das mães com proteção completa contra doenças graves.
“Neste primeiro momento nós entregamos a carteirinha de vacinação e explica para os pais que daqui em diante, todos os meses têm uma vacina. Então é extremamente importante que esse pais compareçam todos os meses na unidade de saúde, sala de vacina, para dar continuidade ao calendário que é longo”, explica a chefe de seção de imunização Fabyolla da Silva Lourenço. Segundo a profissional, ao longo do primeiro ano de vida são muitas vacinas aplicadas. Os reforços são importantes para que seja garantido um crescimento saudável para o bebê.
E a vacinação não ocorre somente na infância. Na adolescência, são aplicados imunizantes contra o HPV, meningocócica, febre amarela, difteria e tétano e Hepatite B, por exemplo.
Apesar de ser de extrema importância para a prevenção de câncer na idade adulta, a procura pela vacina do papilomavírus humano (HPV) está longe de atingir patamares mínimos, segundo o Ministério da Saúde. Dos 80% estimados como alvo, 57% das meninas e 40% dos meninos tomaram o imunizante.
A profissional de saúde aposentada Raquel Rubini Escher sabe bem a importância de imunizar as crianças, do filho ao neto, que é ainda bebezinho.
“Eu vacinei meu filho mais velho, de 26 anos, com a BGC no Centro de Saúde. Eu pude vaciná-lo. Com o mais novo, de 17 anos, já tinha o Programa Materno Infantil. E eu vacinei o meu neto que nasceu em novembro do ano passado e eu não tinha aposentado ainda. Então tive a oportunidade de vaciná-lo. Para mim isso foi um privilégio muito grande”, afirma.
O Programa Nacional de Imunização oferece pelo SUS mais de 20 imunizantes que garantem saúde em todas as fases da vida. Para os adultos, por exemplo, são recomendadas doses contra hepatite B, tríplice viral, febre amarela, difteria e tétano. Apesar de ser de graça e acessível na maior parte dos postos de saúde das cidades, o Ministério da Saúde encontra resistência em atingir o público-alvo.
Ao longo dos últimos anos, os índices de vacinação têm caído drasticamente. Em 2015, 97% do público-alvo era vacinado no país. Em 2020, percentual caiu a 75%.
“Quando não garantimos altas coberturas vacinais, na população começa a ter acúmulo de suscetíveis, que são pessoas que podem adoecer por doenças evitadas por vacina. Embora algumas doenças não existem no território nacional, elas circulam pelo mundo. Então, por exemplo, podemos ter a reintrodução da poliomielite, a paralisia infantil, e ter um surto dessa doença novamente no país”, adverte o diretor do PNI, Eder Gatti.
Além da tão temida poliomielite, outras doenças, como sarampo, difteria e rubéola correm o risco de voltarem ao país. “Estou falando de doenças que deixam sequelas e matam”.
FAKE NEWS
Mentiras disseminadas pela internet, medo incutido por políticos e movimento anti-vacina infectaram a população com uma rejeição à imunização que não existia há anos. A OMS (Organização Mundial de Saúde) analisa esse movimento coletivo e explica que “três Cs” que o justifica: Confiança, Complacência e Conveniência, segundo o infectologista Leonardo Vinicius de Moraes.
“A confiança tem relação com o medo de possíveis eventos adversos após a vacinação. A complacência, com o fato de as pessoas se sentirem com baixo risco de adoecer por aquela doença. Então, veja, se a gente fala da poliomielite, [questionam]: ‘Mas vou vacinar o meu filho da poliomielite, mas ela já foi erradicada no Brasil há muitos anos, precisa mesmo?’. Precisa sim”, afirma.
Já a conveniência é relacionada à facilidade à disponibilidade de imunizante, como por exemplo, a influenza em que a população idosa deve se vacinar todos os anos, ou então um posto de saúde muito longe de casa.
A aposentada Sônia Riani Costa é de uma geração em que as vacinas não eram disponibilizadas de graça. Ela perdeu uma amiga para a meningite e foi acometida com as irmãs pelo sarampo na infância. São doenças que hoje estão controladas pela disponibilidade de imunizantes que não havia décadas atrás. Olhando para a atualizada, a aposentada lamenta a falta de empatia de quem não toma as vacinas disponibilizadas pelo SUS.
“É nossa responsabilidade enquanto pais de ir e levar. Acho uma falta de respeito com os filhos, falta de amor, não só com os filhos, mas com a coletividade”, opina.
A família Sônia é grande, com 13 irmãos. José Luiz Riani é médico e segue o legado, repassado para os filhos e netos.
“Nossos filhos mais velhos nasceram em 1976 e já havia o Plano Nacional. Eles foram vacinados, passamos para eles e eles passam isso para os netos”, comenta.
O PNI é um programa elogiado em todo o mundo e serve como exemplo de política pública que deu certo, segundo o infectologista Moraes. “Ele é uma referência no mundo todo”, concorda Fabyolla.
“Uma vez no PNI, a vacina é de boa qualidade. É boa, segura, não tem o que temer. A vacina é acesso à proteção, então todos precisam se vacinar, precisam vacinar seus filhos”, conclui o diretor do PNI.
*Com reportagem da EPTV
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