SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de São Paulo deve decidir na próxima quinta-feira (26) uma estratégia de dose reforço em pessoas que já receberam as duas doses das vacinas contra Covid-19 com mais de 60 anos.
Segundo o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a decisão do comitê científico sobre o assunto já foi discutida em almoço na última terça (24) e será apresentada na próxima sexta (27).
A discussão já vem sendo conduzida por especialistas e pela cúpula do governo devido a diversos estudos que apontam queda de efetividade das vacinas neste grupo.
Doria disse ainda que o assunto é prioridade e está sendo discutido em ritmo acelerado no governo, desde as últimas semanas.
Recentemente houve também um aumento dos casos e mortes de idosos que já receberam as duas doses no país, e que hoje já representam a maioria dos internados em UTIs de Covid em hospitais privados e da rede pública na capital paulista.
O aumento das internações de pessoas mais velhas já é notado em São Paulo e no Rio de Janeiro, que na última terça (24) registrou aumento de 73% de mortes de idosos vacinados.
Uma dose reforço dos imunizantes é defendida por especialistas para conter novas infecções e hospitalizações em pessoas mais vulneráveis, como os idosos ou imunossuprimidos, sem detrimento para a a aplicação da segunda dose dos adultos com mais de 18 anos já vacinados com primeira dose no momento.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, disse que o aumento de internações tem sido verificado apenas nos locais com maior dominância da variante delta, o que não seria no momento o caso do país, que apesar da introdução da cepa ainda não apresenta ela como a forma mais frequente do vírus em circulação.
“A grande questão é o desafio da variante delta que apresenta um escape vacinal de todas as vacinas. Precisamos determinar qual é o alcance desse escape vacinal para poder agir. Sem dúvida nenhuma a terceira dose precisa ser considerada, mas precisa ser considerado também que existe uma faixa grande da população que só recebeu uma dose. Vale colocar na balança e ver qual é a urgência do momento”, disse.
Covas afirmou ainda que esta é a avaliação que faz também a OMS (Organização Mundial da Saúde), de acelerar a vacinação com primeira e segunda dose nos adultos com mais de 18 anos para depois iniciar a aplicação de uma dose de reforço, uma vez que a delta consegue escapar parcialmente da proteção conferida por uma dose.
A imunização dos mais jovens, portanto, vem em meio a um debate sobre se o momento de iniciar a aplicação da vacina nesses grupos seria o ideal ou seria uma estratégia melhor injetar uma dose reforço nos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos.
Apesar disso, SP já começou, desde a última quarta-feira (18), a imunização de adolescentes de 12 a 17 anos no estado antes de completar o esquema vacinal tradicional de cerca de dois terços de sua população.
Entre os argumentos em favor da dose de reforço está o fato de que crianças e adolescentes costumam ter menores chances de adoecer e ter Covid grave.
Na última segunda-feira (23), a cidade de São Paulo também começou a aplicar uma dose da Pfizer em adolescentes de 12 a 15 anos.
O secretário estadual da saúde Jean Gorinchteyn disse ainda que todas as internações nas UTIs ou enfermarias de Covid-19 do estado não são em sua maioria ocasionadas por delta. “A nossa preocupação é ter doses disponíveis para antecipar a segunda dose, uma vez que a antecipação da segunda dose é a melhor estratégia para conter a delta”, afirmou.
No estado de São Paulo, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, já foram detectadas 266 amostras da variante delta, sendo 175 provenientes da capital, um aumento de 15% em relação à última semana. Essas sequências foram identificadas a partir do sequenciamento aleatório de amostras do vírus que sejam de interesse clínico.
Diversos estudos mostraram que a delta possui capacidade de driblar parcialmente a proteção oferecida por uma única dose dos imunizantes desenvolvidos contra a Covid, e mesmo em indivíduos vacinados podem ocorrer infecções, embora em menor proporção do que naqueles não vacinados.
A proteção contra casos graves da delta, no entanto, parece permanecer alta.
Nesta quarta (25), o Instituto Butantan, junto ao governo de SP, realizou mais uma entrega de quatro milhões de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde, chegando assim a um total de 82,85 milhões de doses destinadas à campanha de vacinação nacional contra Covid-19.
Esta foi a terceira entrega em uma semana deste quantitativo. A previsão é de completar os 100 milhões até o dia 30 de agosto, um mês antes do previsto inicialmente.
As doses serão encaminhadas ao PNI (Programa Nacional de Imunizações), para serem distribuídas proporcionalmente aos estados.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acompanhou a entrega ao lado do secretário estadual da saúde, Jean Gorinchteyn, Regiane de Paula, coordenadora do Programa Estadual de Imunizações (PEI) e Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan em uma entrevista para jornalistas na manhã desta quarta.
Além da Coronavac, o país conta hoje com outros três imunizastes: a vacina da AstraZeneca/Oxford, produzida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, a americana-alemã Pfizer/BioNTech e a belga-americana Janssen.