Estudo realizado Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), da USP São Carlos, sugere que em regiões com prevalência da variante delta do novo coronavírus, o intervalo entre as doses da vacina precisa ser menor do que 12 anos. A medida ajudaria em um controle mais efetivo da pandemia.
O modelo matemático usa dados preliminares da vacina da Astrazeneca para a variante delta. A ferramenta foi descrita em artigo publicado em revista internacional. A tecnologia projeta o intervalo ideal entre as duas doses para o controle da pandemia, tudo a partir dos dados de eficácia.
O desenvolvimento da tecnologia foi feito pelo grupo ModCovid-19, que integra pesquisadores da Unicamp, Fundação Getúlio Vargas e USP.
O trabalho do ModCovid-19 mostra que vacinas com menos de 50% de eficácia na primeira dose precisam de um intervalo menor de aplicação do que vacinas com taxas de eficácia maiores. Alimentada com estudos prévios sobre eficácia dos imunizantes, a tecnologia indica quando é possível adiar as doses e quando se atinge o máximo possível de proteção.
“O próprio algoritmo decide quando é melhor aplicar a segunda dose, levando em conta a primeira, de maneira a controlar o mais rápido possível a pandemia”, explica Paulo José da Silva e Silva, coautor do estudo e professor da Unicamp. Por isso, a ferramenta disponível on-line pode ajudar na tomada de decisão durante o processo de imunização da população brasileira e de outros países.
O professor lembra que, quando o artigo foi escrito, em fevereiro de 2021, a principal pergunta era se valeria a pena adiar a segunda dose e qual a maneira mais segura de se fazer isso, em virtude da quantidade limitada de doses. Nesse sentido, o estudo teve como base a vacina da Astrazeneca e concluiu que a diferença no percentual de eficácia entre a primeira dose e a segunda era muito pequena e, por isso, valeria a pena esperar e vacinar mais gente com a primeira dose.
Agora, com o avanço da variante Delta em algumas regiões do Brasil e do mundo, as estratégias de vacinação podem ser revistas a partir desse modelo.
“Com a publicação do artigo na PNAS, esperamos que a tecnologia que desenvolvemos se torne mais acessível e possa chegar a vários países e tomadores de decisão. Deixamos o código totalmente disponível na internet e nos disponibilizamos também para ajudar qualquer pessoa que queira usar. Nosso trabalho desenvolve e implementa a metodologia que pode analisar a situação em diferentes locais. Desenvolvemos um modelo que não é só para o Brasil, ele é uma contribuição para a ciência e é uma tecnologia que pode ser usada no futuro, não apenas para a Covid-19”, finalizou Silva.