Por Luana da Fonte
A presença feminina no agronegócio tem se expandido significativamente ao longo dos anos. Se antes as mulheres estavam restritas a papéis secundários dentro das propriedades rurais, hoje elas ocupam posições de liderança e protagonizam a gestão de negócios agropecuários. No entanto, apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados.
Segundo um levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Embrapa e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres administram cerca de 30 milhões de hectares no Brasil, o que representa 8,4% das áreas rurais do país. Além disso, 1,7 milhão de mulheres atuam na gestão das propriedades, seja de forma exclusiva ou compartilhada.
Para a consultora em sucessão familiar Mariely Biff, que também é coautora do livro ‘Mulheres no Agro: Inspirações para Vencer Desafios Dentro e Fora da Porteira’, essa evolução é fruto de diversos fatores, como a mudança no perfil das famílias rurais, iniciativas de empresas para inclusão feminina, a criação de grupos de apoio e o aumento de eventos técnicos voltados para o público feminino.
“Antigamente, as mulheres acompanhavam os trabalhos nas propriedades rurais, mas não tinham voz na tomada de decisão. Com o passar dos anos, firmaram seus lugares tanto dentro quanto fora da porteira, participando ativamente da gestão e em cargos de liderança”, destaca Mariely.
Entretanto, o setor agropecuário ainda resiste em aceitar a mulher como protagonista. De acordo com Mariely, algumas famílias e empresas mantêm uma visão ultrapassada, enxergando a mulher apenas como cuidadora do lar, sem capacidade para liderar. “Esta barreira cultural precisa ser quebrada. As mulheres precisam ser genuinamente ouvidas. Há uma frase que diz o seguinte: ‘diversidade é quando você tem um lugar na mesa. Inclusão é quando você pode falar. Pertencimento é quando você é ouvida.’”, explica a consultora.
Outro desafio apontado por ela é a sucessão familiar no campo, problema que os meninos e meninas sofrem, mas é ainda mais complexo para elas. De acordo com a consultora, “os filhos costumam ser preparados para o processo, enquanto as filhas, muitas vezes, seguem carreiras fora do setor. Quando surge a necessidade ou o desejo de assumir a gestão da propriedade, elas não se sentem preparadas para isso”.
A resistência da geração anterior e a falta de reconhecimento também dificultam a trajetória feminina no agro. “Falta de oportunidade para terem suas ideias aceitas, para mostrar sua competência, descrédito de familiares e colaboradores, questões emocionais do sucedido que muitas vezes sonha com a sucessão de outra forma”, acrescenta Mariely.
Para que mais mulheres conquistem espaço no agronegócio, a consultora ressalta a importância do acesso ao conhecimento, da troca de experiências e da construção de redes de apoio. “Proporcionando conhecimento e acesso; Dividindo experiências e acolhendo com amor e tolerância quem está começando agora; Dando voz e colaborando para que elas cheguem aos mesmos lugares; Formando alianças, grupos e comunidades para ampliar o diálogo e o compartilhamento de ideias.”, afirma.
O crescimento da participação feminina no agro é uma realidade, mas os desafios ainda existem. Superá-los passa pela quebra de paradigmas, pelo incentivo à qualificação e pelo reconhecimento do papel da mulher na construção de um setor cada vez mais forte e diverso.
Supervisionado por Virgínia Alves.
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