*Por: Luana da Fonte
Com a chegada do inverno, produtores rurais de todo o país se deparam com uma nova realidade climática que pode tanto favorecer como ameaçar as lavouras. A estação, que começou oficialmente dia 20 de junho, exige atenção redobrada com o manejo e preparo do solo, além da escolha das culturas mais adequadas às baixas temperaturas.
Segundo a agrometeorologista Ludmila Camparotto, muitas culturas típicas da estação já estão sendo semeadas. “Durante o inverno são semeadas as culturas que são adaptadas a essas condições climáticas, como trigo, sorgo, feijão, canola e aveia. Muitos produtores utilizam esse período para fazer plantas de cobertura, eles plantam e mantêm essas palhas para que o solo fique mais úmido quando vier o plantio da nova safra de soja, por exemplo”, destaca Ludmila.
Apesar dos benefícios para determinadas culturas, o frio pode retardar o desenvolvimento de outras. “O grande ponto da temperatura baixa é que ela atrasa o ciclo. Uma planta tem o acúmulo de graus dias, que é o acúmulo de energia, e cada cultura precisa de um determinado acúmulo de graus dias”, explica a agrometeorologista. Ela cita o exemplo do milho, que precisa de 1.300 graus dias para completar o ciclo, com temperaturas mais baixas esse processo pode demorar mais.
Entre as culturas que se beneficiam do frio, o trigo é destaque. “O trigo adora frio, até uma certa geada não é ruim, porque atua com um defensivo agrícola, assim, um herbicida natural, porque o frio controla ervas daninhas”, afirma a especialista.
Já as hortaliças requerem maior cuidado. “As hortaliças são sensíveis ao frio e elas sofrem sim com essas baixas temperaturas, principalmente se tiver geadas pode ter queimas de folhas”, diz Ludmila. Ela destaca, porém, que temperaturas moderadas mantêm a qualidade dos produtos por mais tempo, “um friozinho mantém a qualidade daquela hortaliça por mais tempo, porque ela não estraga tanto”.
A fase de desenvolvimento das plantas também é um fator importante. “Um dos estágios mais prejudiciais com frio intenso é principalmente o desenvolvimento inicial, porque a planta está próxima do solo, então ela é mais vulnerável à ocorrência de geadas”, explica a agrometeorologista.
Além disso, em culturas como o café, o frio durante a floração pode causar sérios prejuízos. “Se você tiver um frio muito intenso, principalmente geadas, você tem abortamento de botões florais. Se você tiver geadas também nas folhas, pode causar danos nas folhas e tem esse problema com a parte vegetativa da planta”, alerta a especialista.
A geada é, sem dúvida, a maior preocupação, Ludmila destaca que “basta apenas um dia, não precisa ser vários dias consecutivos. Um dia de geada pode acabar com uma produção inteira. Veja o que aconteceu em 2021 com o café, a gente teve as geadas acontecendo e muitas pessoas agora estão se recuperando dessa geada”.
Para enfrentar o inverno, Ludmila orienta boas práticas no preparo do solo. “Se você tem um bom preparo de solo, correção de matéria orgânica, boa estrutura, acidez, você garante um desenvolvimento bom, principalmente inicial das plantas, isso vai tornando as plantas mais resistentes às condições adversas”.
Outras estratégias também são eficazes, como o uso de cobertura de solo, irrigação por aspersão em noites frias e até práticas simples, como cobrir as plantas mais jovens. “Quando a gente tem um risco para lavoura de geadas cobrir o pé, se ele for novinho, ou cobrir a base do tronco ali do café, essas são medidas que ajudam a prevenir uma perda maior se a gente tiver geadas”, finaliza Ludmila.
*Supervisionado por Virginia Alves