No Jardim Gonzaga, bairro periférico de São Carlos, duas turmas de crianças e adolescentes se encontram duas vezes por semana na sede do Centro Municipal de Extensão e Atividades Recreativas (CeMEAR) para uma experiência totalmente nova para a maioria deles: aulas de balé, que são oferecidas no contraturno escolar da rede municipal.
As turmas são divididas pela faixa etária uma com crianças entre 7 e 10 anos, e outra, com os mais velhos, de 11 a 14 anos. Ambas compostas por meninos e meninas, tanto das escolas do município, quanto da comunidade no entorno da sede.
“A proposta do balé é levar uma dança que, culturalmente, não está inserida na realidade delas. Por meio dele, ensinamos a disciplina de chegar no horário, de se arrumar, de treinar com atenção. Alinhamos aspectos educativos ao ensino da dança”, explica a bailarina Juliana Prata Vieira, educadora física que ensina no CeMEAR, projeto da Secretaria Municipal de Educação (SME) que visa proporcionar uma formação integral, mais além da educação formal, especialmente em uma região onde há pouca estrutura e oferta de lazer.
Até o início da pandemia de Covid-19, existiam outras turmas de balé que, inclusive, já se apresentaram no Teatro Municipal de São Carlos em 2019 e em outros eventos da prefeitura. Contudo, diante da necessidade de isolamento, as aulas foram interrompidas juntamente com as demais atividades presenciais, retornando somente em 2021.
Sem preconceitos
A aulas de balé vêm se destacando dentro do CeMEAR também pelo fato de vários meninos abraçarem as aulas, lutando contra um preconceito, ainda muito enraizado na sociedade, de que a dança é uma prática exclusivamente feminina.
Para fazer frente à essa realidade, a professora Juliana conta que, também nas aulas, é analisada a participação do homem na dança e a ausência de gênero durante a prática.
“Na apresentação que fizemos no Municipal, os meninos levantaram as meninas no pas de deux [expressão francesa que denomina um dueto em que os bailarinos executam passos juntos]. Um dos pais me disse: É a primeira vez que vi meu filho tão concentrado”, lembra, com orgulho.
De acordo com Paulo Vinicius Pereira da Silva, supervisor do projeto e professor de Educação Infantil, o balé é uma ponte para dialogar sobre o assunto.
“É uma oportunidade de desconstruir preconceitos com os garotos que dançam e com os que não dançam. Sempre há alguns que caçoam, sendo que, muita coisa que eles pensam e falam, é replicada da rua ou de casa. Mas com esse trabalho de diálogo que os educadores fazem, as crianças passam a entender e a respeitar”, enfatiza