Afirmações como “correr faz bem para saúde” são mais que chover no molhado. A frase vai além da sabedoria popular. É uma conclusão lógica. Porém, é preciso entender como, o quanto e em qual área a atividade aeróbia é importante para o corpo e a mente das pessoas. É nesse ponto que a ciência entra em ação.
Quer entender por que a coisa não é tão simples quando falamos sobre benefícios à saúde?
Vamos Lá!
Primeira pergunta: Você sabe o que é barreira hematoencefálica?
Barreira hematoencefálica é uma estrutura cuja função é regular o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central, barrando a entrada de substâncias tóxicas e de hormônios plasmáticos em excesso.
Se essa barreira falhar, os hormônios em excesso são capazes de ativar neurônios que estão envolvidos na regulação do sistema cardiovascular, levando à disfunção autonômica e ao desequilíbrio da circulação sanguínea.
Traduzindo, isso facilita o aparecimento de lesões em órgãos-alvo, podendo comprometer coração, cérebro, rim, entre outros órgãos.
Segunda pergunta: Como manter a barreira hematoencefálica sempre ativa?
Faça exercícios aeróbios.
Quem garante são os pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Estudos com ratos comprovaram que o exercício físico aeróbico é capaz de corrigir a disfunção da barreira hematoencefálica, tanto na hipertensão crônica como na insuficiência cardíaca, restaurando o fluxo sanguíneo do cérebro mesmo na persistência da doença.
O ESTUDO
Se um estudo com ratos parecer pouca coisa para você, saiba que os pesquisadores da ICB-USP receberam, desde que teve início, em junho de 2019, diversos prêmios nacionais e internacionais ao encontrar, nesse simples e antigo hábito de se movimentar, uma solução comprovada para melhorar o controle da hipertensão arterial.
Lisete Compagno Michelini, coordenadora do Laboratório de Fisiologia Cardiovascular, responsável pelos estudos, afirma que “além de corrigir o controle autonômico da circulação, o treinamento aeróbico também contribui para reduzir de 10% a 15% os níveis da pressão arterial nos hipertensos.”
LEIA MAIS
Entenda a importância do glicogênio muscular para sua corrida
As descobertas feitas pela equipe reforçam a importância do treinamento físico para a melhora do controle autonômico da circulação. Pois, além de ser um importante aliado no tratamento farmacológico dessas patologias, possibilita a diminuição da quantidade necessária de medicamentos e, consequentemente, há menos efeitos colaterais. “O exercício físico, assim como diferentes fármacos, favorece a vasodilatação vascular, ajuda a balancear desvios do sistema renina angiotensina, responsável por regular a pressão arterial, e melhora o controle autonômico da circulação“, afirma.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, e sua presença está associada a fatores de risco como tabagismo, diabetes, colesterol alto, sedentarismo, estresse e obesidade. Modificações nos hábitos de vida podem reduzir em até 80% os casos de doenças cardiovasculares. “Fazer exercícios físicos, perder peso, não fumar e controlar os fatores de risco diminuem os riscos de infarto e outras doenças cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC)”, ressalta a Dra. Amanda Gonzales, Médica da Unidade de Cardiologia do Exercício do Hospital Sírio-Libanês.
SAIBA MAIS
Encontrada nos capilares cerebrais por onde o sangue circula, a barreira hematoencefálica é composta por células endoteliais intimamente ligadas umas às outras por junções oclusivas, que limitam a passagem de substâncias hidrossolúveis (solúveis em água). Não há limite para a passagem de substância lipossolúveis, como oxigênio e gás carbônico, através da célula endotelial. O problema são as macromoléculas.
“Em indivíduos saudáveis, a passagem de macromoléculas, como substâncias tóxicas e hormônios plasmáticos, feita através de vesículas sanguíneas, é bastante limitada. No entanto, observamos que em hipertensos e portadores de insuficiência cardíaca há um aumento expressivo no número dessas vesículas em áreas autonômicas, o que eleva a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Por outro lado, observamos que o treinamento aeróbico reduziu em muito a formação dessas vesículas, além de normalizar a permeabilidade da barreira hematoencefálica“, explica.
Os estudos foram realizados no âmbito do projeto temático da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) “Barreira Hematoencefálica – Um novo paradigma no tratamento da Hipertensão” e foram publicados em periódicos de circulação internacional. CLIQUE AQUI para conferir a pesquisa.