A ABL (Academia Brasileira de Letras) confirmou, na manhã desta quarta-feira (23), a morte do poeta carioca Antonio Cicero. Ele tinha 79 anos e, diagnosticado com Alzheimer, ele optou pela eutanásia. Ele estava na Suíça, onde a prática é permitida, e morreu na companhia de seu marido, o figurinista Marcelo Pires.
Quem foi Antonio Cicero?
Imortal da ABL desde 2017, Antonio Cicero era poeta, compositor, crítico literário e filósofo. Na música, fez as letras de famosas canções de sua irmã, a cantora Marina Lima, como “Fullgás” e “Pra Começar”. Também colaborou com outros artistas, como João Bosco, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos, com quem compôs o sucesso “O Último Romântico”.
Cicero começou a cursar filosofia pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e, na sequência, estudou no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ele, porém, terminaria seus estudos na Inglaterra, na Universidade de Londres, depois de precisar se mudar para a capital britânica em 1969 por causa da perseguição da Ditatura Militar.
Ele é autor de diversas publicações de poesia e reflexões sobre a modernidade. Em 1994, em parceria com o poeta Waly Salomão, organizou o livro “O Relativismo Enquanto Visão do Mundo”, que reuniu conferências realizadas no projeto Banco Nacional de Ideias, promovido pelos dois poetas com intelectuais de importância mundial.
Dentre os livros de poemas, destacam-se “Guardar” e “A Cidade e os Livros”. Cicero ainda teve o poema “Guardar” incluído na antologia “Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século”, em 2001, e foi finalista do Prêmio Jabuti pelos ensaios filosóficos reunidos em “Finalidades sem Fim”, em 2005.
Ele lançou, em 1996, o CD Antonio Cicero por Antonio Cicero, em que recita seus poemas, e participou, em 2002, de uma coletânea de quatro CDs feita com nomes como Gabriel o Pensador, Chico Buarque, Ronaldo Bastos e Fernando Brant em homenagem a Carlos Drummond de Andrade.
Imortal da ABL
Cicero foi eleito imortal na ABL no dia 10 de agosto de 2017, ocupando a cadeira número 27 e sucedendo Eduardo Portella. “O que é um poema imortal? Um poema imortal é um poema cujo valor não depende de fatores externos a ele: um poema, portanto, que vale por si”, declarou ele em seu discurso de posse.
Há algumas semanas, Marina Lima havia publicado uma homenagem pelo aniversário do poeta no Instagram. “Cicero é meu maior parceiro nesses anos todos de carreira, um grande letrista, poeta e filósofo que tenho a alegria de ser irmã”, escreveu na ocasião.
Carta de despedida de Antonio Cicero
Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!
*Com informações da Agência Estado
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