Uma das mais importantes repórteres brasileiras, Glória Maria faleceu no Rio de Janeiro nesta quinta-feira (2). Muito além das entrevistas inesquecíveis e os diversos passaportes que colecionou, a trajetória da jornalista foi marcada pelo pioneirismo, especialmente como mulher negra.
Considerada a primeira repórter negra a aparecer na televisão, Glória Maria também foi pioneira ao entrar ao vivo no Jornal Nacional, em 1977. Mais tarde, também se tornou a primeira mulher negra a apresentar o Fantástico, permanecendo à frente da atração entre os anos de 1998 e 2007. Em seu último ano no programa, tornou-se a primeira jornalista a participar de uma transmissão em HD na televisão brasileira.
VEJA TAMBÉM
Personalidades prestam homenagem a Glória Maria
Quem Glória Maria entrevistou?
Diante da sua presença de destaque, Glória também precisou se posicionar contra o racismo diversas vezes ao longo de sua carreira. Em sua última publicação nas redes sociais, ela compartilhou um trecho de uma participação no programa TV Mulher, em 2016, em que falou sobre o assunto.
Na ocasião, a apresentadora Marília Gabriela destacou a importância da repórter para o jornalismo brasileiro, sendo a “primeira profissional negra a ter uma imensa visibilidade televisiva, além de criar um estilo só dela”. Questionada se ainda sofria preconceito, mesmo com anos de carreira, Glória Maria afirmou que sim, mas de forma mais sutil. “Continuo sofrendo. É uma coisa que não termina. Só que ele tem diversas faces”, disse.
LEI AFONSO ARINOS
Em junho de 2020, durante uma entrevista ao Globo Repórter, a jornalista comentou sobre o seu pioneirismo na luta contra o preconceito. Glória Maria foi a primeira pessoa a usar a Lei Afonso Arinos, em 1951, que não considerava o racismo crime, mas contravenção. Ela havia sido barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar.
“Racismo é uma coisa que eu conheço, que eu vivi, desde sempre. E a gente vai aprendendo a se defender da maneira que pode. Eu tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo, não como crime, mas como contravenção. Eu fui barrada em um hotel por um gerente que disse que negro não podia entrar, chamei a polícia, e levei esse gerente do hotel aos tribunais. Ele foi expulso do Brasil, mas ele se livrou da acusação pagando uma multa ridícula. Porque o racismo, para muita gente, não vale nada, né? Só para quem sofre”, escreveu em uma publicação no Instagram.
LEIA MAIS