*Por Thiago de Souza
Quando se fala em Exorcismo, é muito difícil dissociar a imagem de Linda Blair interpretando Regan Macneil, no icônico “O Exorcista”, lançado em 1973 e, segundo este que vos escreve, o maior filme de terror da história. Mas, nas entranhas do sul de Minas Gerais, na lindíssima cidade de Borda da Mata, uma história de exorcismo apavora gerações.
E não foi Pazuzu – demônio sumério de alto escalão, que enfrentou padre Karras, entre praguejos e jatos de vômito verde nas telas de todo o mundo – que deu as caras em solos mineiros… Foi Chiquinho, o Capeta da Borda. E a história foi mais ou menos assim:
LEIA MAIS
Confira tudo que você precisa saber sobre a Loira do Banheiro
O que você estava fazendo quando Ayrton Senna morreu?
Em uma noite de abril de 1953, um homem apavorado invade a Basílica Nossa Senhora do Carmo, em Borda da Mata (MG). Ele solicitava pronto atendimento espiritual a uma família residente em uma fazenda, no bairro Ponte de Pedra. Segundo o homem, o local era assombrado com fenômenos sobrenaturais, que estavam levando pânico aos bichos e aos humanos. Gritos, xingamentos, vultos e gargalhadas aterrorizavam a propriedade.
O Padre Cintra, que no futuro se tornaria Monsenhor, de maneira diligente, foi até o local e fez uma benção, que cessou as manifestações, pelo menos momentaneamente. Mas o problema estava muito longe de ser solucionado.
Não demorou para os sons estranhos ganharem outro status, quando uma das filhas do proprietário da fazenda recebeu, em seu quarto, a visita de uma figura demoníaca. A menina, de cerca de 13 anos, estava sentada em sua cama quando a porta se abriu e uma figura maligna materializada se apresentou dizendo:
“Meu nome é Chiquinho e eu vim te buscar”. A criatura que possuía a descrição do próprio Capeta.
Por que o capeta queria a filha do fazendeiro de Borda da Mata?
Aqui um parêntese. Há duas versões para justificar o por quê do Capeta requerer para si a propriedade da filha adolescente do fazendeiro:
- A mais difundida é a de que o “Português”, pai da menina, havia prometido ao sete peles sua primeira filha, caso ficasse rico – condição econômica que se concretizou.
- A outra versão é a de que o “Português” foi beber com amigos depois de descobrir que sua mulher estava grávida. Ao ser questionado sobre sua expectativa em relação ao sexo da criança, o homem teria dito que o rebento seria homem e, se nascesse uma menina, ele a entregaria para o Capeta.
O encontro durou instantes, mas foi o suficiente para trazer pânico à família e à cidade, que denominou aquela figura demoníaca de “Chiquinho, o Capeta da Borda”.
Uma nova visita do Padre da Basílica Nossa Senhora do Carmo, foi requisitada. O Padre Cintra solicitou a avaliação de Frei Belchior – experiente Capuchinho Italiano que, depois de uma visita ao local, confirmou a presença demoníaca. Antes de seguirem com o exorcismo, Padre Cintra levou à fazenda autoridades do judiciário, civis e policiais, para observarem algum tipo de fraude, ou golpe.
O que houve foi muito mais aterrorizante, já que o grupo presenciou uma nova e agressiva manifestação de Chiquinho. Os fatos foram reportados ao Bispo de Pouso Alegre, que autoriza o ritual romano de exorcismo.
O exorcismo de Borda da Mata
Era 23 de abril de 1953. Diferente da outra ocasião, ao iniciar a liturgia sagrada, uma entidade enfurecida se materializa. Liderado por Frei Belchior, o bem sucedido exorcismo atravessou a madrugada e terminou no dia 24 de abril.
Entre xingamentos e praguejos de Chiquinho, que estava irritadíssimo com a presença dos sacerdotes, dizem que Padre Cintra convenceu o Capeta da Borda a beijar seu crucifixo, o que fez com que a criatura desse um grito de dor, que foi ouvido por toda a cidade. Criou-se à época, inclusive, uma mística sobre o poder do crucifixo do Padre Cintra.
O Capeta é expulso da fazenda. Contudo, há quem diga que antes de Chiquinho se evadir do local, ele profetizou que, assim que o Padre Pedro Cintra morresse, ele voltaria.
Padre Cintra morreu em 2003 e o retorno de Chiquinho é ventilado pela comunidade, especialmente por alguma aparições na já desativada danceteria “Plaza”.
Essa história ficou guardada por muito tempo até que em 1999, até que o livro tombo da Paróquia de Borda da Mata foi revelado e dizia mais ou menos isso:
Eram quase dez horas da noite, quando, depois do latido característico dos cães, uma voz rouquenha e masculina nos saudou: “Boa noite”.
Padre Cintra lançou a braba: “In nomine Sanctatissimae Trinitatis, Patris, Fillii et Spiritu Sancti, praecipio tibi ut dicas, quis sis tu?”. Em português: “Em nome da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu te ordeno que diga quem é você!”.
E Chiquinho não titubeou na resposta:
“Eu sou o Diabo”.
Chiquinho voltou?
Thiago de Souza foi a Borda da Mata (MG) conferir se Chiquinho retornou ou não. Confira no vídeo abaixo:
Quem é Thiago de Souza
Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba.
LEIA TAMBÉM