*Por Thiago de Souza
A história de vida da Dra. Eunice Paiva saiu das páginas do livro “Ainda Estou Aqui”, do escritor Marcelo Rubens Paiva (filho da icônica advogada), e foi parar nas telas do cinema.
Em poucas semanas em exibição, o filme já foi assistido por mais de dois milhões de pessoas, o que é um grande feito para um longa nacional.
O interesse na película pelos brasileiros ganhou impulso com a possível indicação de Fernanda Torres ao Oscar de Melhor Atriz e a possível indicação do próprio filme na categoria de Melhor Filme Internacional.
Dra. Eunice Paiva merece ser muito mais conhecida, mesmo.
A forma resiliente que lidou com o sequestro do marido Rubens Paiva, que a desafiou a reerguer sua família dentro da vastidão da ausência do pai de seus cinco filhos, ao mesmo tempo que lutava por informações sobre o paradeiro dos restos mortais de seu amado, morto pela Ditadura Militar que governou o Brasil de forma violenta e autoritária entre 1964 e 1985.
Mas, eu tentarei trazer outro olhar sobre toda essa história forte. Afinal, a grande luta dessa mulher monumental foi a de confirmar a morte de Rubens Paiva e, claro, a assumpção das responsabilidades decorrentes de seu assassinato.
Daí o primeiro tema: o direito de enterrarmos nossos mortos.
Por pior que possa parecer enterrar alguém que amamos, saber que essa pessoa morreu e não poder fazer uma despedida é uma crueldade.
Essa página fica aberta e a angústia das incertezas não permitem o encerramento deste capítulo. A conexão física não se encerra.
No último dia 25 de novembro, Fernanda Torres postou em uma de suas redes sociais a foto da visita que fez ao local de sepultamento da Dra. Eunice, no cemitério do Araçá – Cemitério situado na Avenida Dr. Arnaldo, na capital paulista. Fernanda foi agradecer Eunice e tornou público os seguintes dizeres:
“Há um ano, se encerravam as filmagens de Ainda Estou Aqui e fui sozinha agradecer essa grande brasileira, pela honra de tê-la encarnado no cinema. Obrigado, Eunice.”
Cemitérios, assim como a Dra. Eunice, lutam bravamente por manterem as memórias de pessoas, famílias, comunidades e países.
No mesmo Cemitério do Araçá, se estabelece o Ossário em que os corpos das 1046 ossadas de pessoas executadas pela Ditadura e enterradas no Cemitério de Perus, também em São Paulo.
É muito bom ver o cemitério cumprindo com dignidade seu papel de coadjuvante nessa tarefa permanente de protegermos a memória de quem viveu até morrer e, depois desse marco de despedida física, passa a existir na história.
Quem é Thiago de Souza
Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba.
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