Eu lembro que meu primeiro contato com inovação foi parecido com o de muitas pessoas: startups fazendo coisas que eu achava que existiam só na ficção científica. Na época, 2018 mais ou menos, inteligência artificial estava mais distante da nossa realidade, e nem se falava tanto sobre metaverso (pelo menos nas minhas bolhas). Então ver uma startup que modificava plantas geneticamente para que elas brilhassem no escuro, ou a concepção de cidades extremamente inteligentes que conectassem todos os sistemas para que o uso dos seus recursos fosse altamente eficiente e até mesmo gêmeos digitais sendo usados para dar mais previsibilidade e segurança em procedimentos cirúrgicos de alto risco faziam meus olhos brilharem. Cada exemplo desses me deixava mais encantada e aumentavam minha vontade de trabalhar com isso, ou pelo menos de estar cada vez mais inserida nesse universo incrível.
No entanto, o que eu fui descobrir um tempo depois, já trabalhando em uma área de inovação e depois de passar por uma consultoria de inovação e estratégia, é que o que me encantava tanto no mundo da inovação afastava muitas pessoas dele. E é algo muito compreensível: muitos desses exemplos estão muito distantes do dia a dia das pessoas, e somos ensinados ao longo da nossa vida a sermos práticos, pensar no curto prazo, e buscar por respostas corretas. Afinal de contas, precisamos passar na prova, ser aprovado na faculdade, nos formar, conseguir um emprego e pagar boletos. Então com essa mentalidade, como as pessoas vão se encantar pela planta que brilha? Ou para que vão se debruçar sobre o conceito de cidades inteligentes, que parece tão distante e até mesmo impossível, quando o transporte público diário é ineficiente, desconfortável e caro? Gêmeos digitais então? Já viu quanto está uma consulta particular em um especialista? Quem dirá quanto custaria usar essa tecnologia de gêmeos digitais. Mas que fique claro: isso não é culpa das pessoas!
Quando eu entendi isso, uma ficha enorme caiu de forma meteórica. Como a grande inconformada que sou, logo pensei que eu precisava mudar isso! A inovação tem um potencial enorme de mudar muita coisa em nossas vidas, nos negócios e no mundo, e eu coloquei como missão profissional e pessoal esclarecer isso para o máximo de pessoas possível. Então mãos à obra!
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Meu primeiro passo (e que ainda está em andamento) foi mudar os cases de inovação que apresentaria no workshop da empresa. Inclusive, o workshop se chamou “inovação para além do óbvio”, e em momento algum ia falar de tecnologia, aplicativos, disrupção ou qualquer outro assunto que as pessoas não conseguissem se relacionar. Netflix, Airbnb, Spotify, Uber, Quinto Andar e Ifood não passaram nem perto do workshop (até porque já são exemplos saturados, e vemos que algumas dessas soluções hoje causam a precarização do trabalho de milhões de pessoas, e não é isso que queremos da inovação no presente, muito menos no futuro).
Nesse workshop, usei 3 exemplos que eu considero fascinantes: espelhos em elevadores, um abrigo de cães que olhou de forma crítica para informações que nunca eram questionadas e, por isso, resolveram seu problema de forma completamente nova e eficiente, e um resort brasileiro que utilizou seu estoque de canecas de forma brilhante para proporcionar uma experiência divertida para seus hóspedes, além de gerar mais receitas a partir disso. Também fiz as pessoas se abrirem para a teoria do Job to be Done (uma das minhas favoritas), mas sem usar de vocabulários muito técnicos ou termos em inglês. Na verdade, eu nem falei sobre a teoria em si, mas demonstrei o poder que as funções emocionais e sociais que os produtos e serviços têm, para além da sua função funcional, e como podemos nos utilizar disso para inovar e entender melhor as necessidades de nossos clientes. E pasmem: fiz isso dando o exemplo de velas, que é algo que todos já tiveram contato uma vez na vida, pelo menos.
Os resultados disso: NPS de 91, ou seja, zona de encantamento, além dos seguintes feedbacks (alguns deles me fizeram chorar de emoção):
-Cases fora dos habituais e a “provocação” para pensarmos em inovação
-Gostei do modo que a Carol levou o treinamento, foi leve, com um ótimo entendimento
-Conversa sobre como podemos ser inovadores no dia a dia
-Liberdade de opinião
-Entender melhor o que o setor de inovação faz e como funciona
-Da forma como foi passado o contexto de inovação e saber que inovação está mais perto do que imaginava
Esse último comentário foi, na verdade, o que me fez chorar de alegria. Meu objetivo nessa primeira etapa foi cumprido porque alguns dos princípios básicos da inovação ficaram claros para meu público. Ouso até dizer que eles fizeram sentido para quem estava lá comigo nos workshops. Pelo menos para uma parte do pessoal do Grupo EP, a inovação está mais tangível, ela faz mais sentido, e agora essas pessoas entendem o papel da Carol da Inovação ali dentro.
Para finalizar e não te iludir com o processo, ressalto que isso é resultado de uma trajetória árdua e de muitas coisas que deram errado nesse meu 1 ano e meio de Grupo EP e 8 meses como consultora de inovação antes de ser funcionária aqui. De dois programas de ideias que não foram tão bem quanto eu queria, mas que me mostraram de forma bastante clara quem era meu público, o que esse público precisava, e que mais do que nunca, eu precisava readaptar muitas coisas para que a inovação desse certo aqui dentro, neste contexto, com essas pessoas. Eu repensei tudo pela ótica do público, e não pela minha ótica, nem dos acionistas. Mas afinal de contas, não é isso que a galera de inovação tem que fazer e ensinar?
Quem é a Carol?
Carolina Pazinato é formada em Relações Internacionais e Economia, Pós Graduada em Economia Criativa, master em Neurobusiness, além de grande entusiasta de Inovação como modo de viver e ver o mundo. Já foi auditora contábil, trainee e especialista do setor farmacêutico, mas encontrou seu propósito trabalhando com inovação. Em 2020, começou como consultora de Inovação na Inventta e hoje trabalha na área de Inovação do Grupo EP, focada em cultura, futuro e tendências.