14 de dezembro de 2024
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Tudo Inovação

Você já ouviu falar em inovações de configuração? entenda

Carolina Pazinato é da área de Inovação do Grupo EP e colunista do Tudo inovação do Tudo EP

No artigo de hoje (11) vamos explorar as inovações de configuração. Este é o terceiro artigo de uma sequência de cinco artigos que vai explorar a relação de tipos de inovação e tecnologia, com base no livro “Dez Tipos de Inovação: a disciplina de criação de avanços de ruptura”, por Larry Keeley – aliás, todas as citações deste artigo são deste livro.  
 
Quer ver os outros artigos? Confira abaixo!
 
– Como a tecnologia pode ajudar nas inovações de experiências?
 
– Inovação é, necessariamente, tecnológica?

As Inovações de configuração, muitas vezes, passam despercebidas por nós por serem inovações que se concentram nos trabalhos mais internos das empresas. No entanto, elas podem ser uma porta de entrada muito interessante para as empresas que querem começar a inovar, justamente por olharem para dentro de casa e terem riscos menores: conhecemos bem os ambientes, as pessoas e podemos aprofundar bastante o conhecimento sobre os problemas, dentro de espaços controlados e sem interface direta com o cliente externo.

Aqui, temos 4 tipos de inovação, e vamos descrever cada um deles, dar exemplos e relacionar cada tipo com tecnologia:

Modelo de Lucro

– O modelo de lucro talvez seja o tipo mais glamuroso de inovação de configuração justamente por olhar para aquilo que as empresas mais presam: lucro. Aqui, a inovação está em identificar “uma nova forma de converter as propostas e outras formas de valor de uma empresa em dinheiro”. Isso significa, inevitavelmente, 3 coisas:

Devemos sim contestar pressupostos que sempre foram utilizados pela empresa para pensar no negócio! Não é porque sempre foi assim, que precisa continuar sendo! É mais arriscado ficar no lugar que tentar inovar.

Para entender este modelo em profundidade, é preciso entender o que seus clientes valorizam. Por isso, indicamos 2 ferramentas: (1) mapa de empatia e (2) jornada do cliente.

“para ter êxito, os modelos de lucro talvez mais do que qualquer outro tipo de inovação – devem estar alinhados com a estratégia abrangente e o propósito da inovação na empresa”.

Sendo um pouco mais específica sobre este tipo de inovação, as empresas podem pensar em, ao invés de vender apenas um produto, vender um serviço ao qual o produto faça parte (aqui, vai depender muito do que a empresa vende e do setor). Também podemos pensar na composição das margens dos produtos e serviços, sobretudo olhando para custos fixos e variáveis. Outra opção seria entender o tempo que a empresa leva para gerar caixa: é uma geração imediata ou existem fluxos que podem ser melhorados? Ou ainda, podemos pensar em formas de tornar uma receita/compra esporádica em algo recorrente, como um modelo de assinatura.

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Um exemplo bastante interessante é do restaurante Next, em Chicago: para comer nesse restaurante, os clientes devem fazer o pagamento adiantado, e os preços variam de acordo com o horário que as pessoas escolhem para jantar: horários de pico são mais caros que outros horários mais cedo ou mais tarde. Perceba que aqui, o restaurante consegue adiantar sua receita, minimizar mesas vazias e cancelamentos, além de ter previsibilidade de demanda e ganha juros sobre o capital de giro.

O mais interessante é que neste tipo de inovação, o principal recurso necessário é conhecimento do negócio, das suas operações e do cliente (e um pouco de criatividade, não vamos negar). Além disso, é sempre interessante buscar inspirações de outros negócios, por mais que sejam diferentes do mercado em que você já atua. Portanto, é possível inovar tranquilamente em modelos de lucro sem precisar do aporte tecnológico. É um tipo de inovação extremamente democrático, visto que todos os negócios têm seu modelo de lucro.

Rede

As inovações de rede fazem referência a “parcerias, associações, afiliações e relacionamentos externos” que empresas podem fazer para melhorar qualquer componente do seu negócio: tecnologias, produtos, serviços, canais e até marcas. Esse tipo de inovação também ajuda a diluir riscos entre parceiros, e podem ser curtas ou longas. Essa inovação também inclui as iniciativas de inovação aberta.

Além disso, parcerias com atores mais inovadores e vanguardistas podem ter dois efeitos muito interessantes para empresas:

Choques culturais: ao entrar em contato com empresas com culturas menos hierarquizadas, mais ágeis e menos formais, pode haver um choque positivo que tem potencial para acender faíscas de mudanças internas;

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Melhoria de processos: ao mesmo tempo, empresas, parceiros e startups com processos mais ágeis e simples podem servir de inspiração e até mesmo forçar melhorias dos processos internos para que as negociações aconteçam de fato.

Vale ressaltar que, para essa inovação, é importante pensar nas relações e parcerias como uma via de mão dupla: é muito importante que a empresa tenha ganhos com a parceria, mas é importante que seus parceiros também tenham ganhos (os quais podem ser além de financeiros, baseados em ativos tangíveis e intangíveis).

No Brasil, a Natura tem usado muito a inovação de rede para apoiar seu setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Em 2012, a empresa iniciou relacionamento com 25 universidades espalhadas pelo mundo para auxiliar em diversos desafios internos: de tecnologia a ciência da pele. Antes disso, em 2018, 50% do fluxo de produtos da empresa vinha de seu programa de inovação aberta. Hoje, a Natura segue com inovações de rede e é uma empresa que se destaca nos seus relacionamentos com startups e centros acadêmicos.

Em relação à tecnologia, é muito possível inovar em rede sem fazer uso da tecnologia. Aqui, o principal foco é, como o próprio nome diz, na rede de contatos e parcerias da empresa. Claro que, algumas vezes, a parceria terá como foco o desenvolvimento tecnológico, mas existe um leque imenso de outras possibilidades que podem ser exploradas.

Estrutura

As inovações de estrutura focam em como organizar e tirar o melhor de cada um dos ativos da empresa (físicos, humanos e intangíveis). Aqui estamos falando de, literalmente, tudo o que é da empresa: sistemas, talentos de ponta até equipamentos pesados.

Além dos ativos, podemos incluir os custos fixos da empresa e funções corporativas de empreendimentos (aqui, estamos falando de áreas como RH, P&D e TI). Para alguns mercados, essa inovação pode ajudar na retenção de talentos pois é possível criar ambientes de trabalho altamente eficientes e produtivos, sendo assim um grande diferencial competitivo da empresa.

Tangibilizando um pouco mais esse tipo de inovação, podemos falar de sistemas de benefícios e incentivos por metas, padronização de ativos para diminuição de custos operacionais e até mesmo a criação de uma universidade corporativa para capacitação contínua de alto nível. É importante ressaltar que, geralmente, esse tipo de inovação é muito difícil de ser copiada pois é algo extremamente específica de cada empresa, o que ajuda a manter a vantagem de mercado por muito tempo.

Um dos exemplos mais emblemáticos de inovação de estrutura era a Whole Foods. A estrutura da empresa era organizada como “altamente confiáveis” ao ponto que a transparência das informações gerenciais e financeiras era tão grande que todos os funcionários da Whole Foods eram considerados “detentores de informações privilegiadas” pela comissão de valores mobiliários. Isso fez com que as equipes, munidas de informações, tomassem melhores decisões e se tornassem mais competitivas entre si.

Quando pensamos na tecnologia, ela pode servir de suporte para, por exemplo, compartilhar dados e informações, além de garantir a segurança deste processo. Também pode ser um recurso para modernização dos ativos, mas não é algo necessariamente essencial para realizar inovação de estrutura.

Processo

Antes de entrarmos na nossa última inovação, é importante ressaltar a diferença entre inovações de estrutura e processo. Via de regra, as inovações de estrutura “referem-se à natureza de seus talentos e ativos e a forma como eles estão organizados. Quando você pensa sobre como os ativos estão de fato sendo utilizados na prática, provavelmente está pensando em uma inovação de processo”.

As inovações de processo “envolvem as atividades e operações que produzem os principais produtos ou serviços oferecidos pela empresa”. Aqui, estamos olhando para as rotinas e o dia a dia da empresa, com objetivo de torná-los mais organizados, eficazes, adaptáveis e até mesmo melhorar as margens da empresa. Por ser algo bastante particular de cada empresa, essa é uma inovação bastante difícil de ser copiada pela concorrência. Nesse tipo de inovação, é muito comum e até indicado o uso de metodologias, como a produção enxuta (lean) e padronização.

Um exemplo desse tipo de inovação é a cadeia de produção e distribuição da Zara: ele é todo projetado para captar rapidamente as tendências de moda, produzir as peças e distribuí-las pelo mundo da forma mais eficiente possível. Para captação de tendências, a Zara conta com um time de insights, além de ter lojas em localizações estratégicas no globo (spots de sofisticação e principais áreas de compra). A Zara também trabalha com um sistema de produção integrado para minimizar os estoques das lojas por meio de uma rápida comunicação entre os gerentes. Nesse sentido, os centros de distribuição são estrategicamente distribuídos para minimizar ao máximo o tempo do pedido de um produto e sua entrega nas lojas.

Aqui, a tecnologia tende a ter um impacto importante pois possibilita as integrações e automatizações dos processos, além de apoiar as rotinas de controle de qualidade. Contudo, o não investimento em tecnologia não impossibilita que as empresas façam inovações em processos. Aqui, o mais importante é entender e mapear os processos existentes, achar os pontos mais importantes de melhoria ou seja, que podem ter maior impacto no negócio – e torná-los mais eficientes. Em outras palavras, o indispensável aqui é a metodologia! 
 
Quem é a Carol?

Carolina Pazinato é formada em Relações Internacionais e Economia, Pós Graduada em Economia Criativa, master em Neurobusiness, além de grande entusiasta de Inovação como modo de viver e ver o mundo. Já foi auditora contábil, trainee e especialista do setor farmacêutico, mas encontrou seu propósito trabalhando com inovação. Em 2020, começou como consultora de Inovação na Inventta e hoje trabalha na área de Inovação do Grupo EP, focada em cultura, futuro e tendências. Carol vai escrever nesta coluna sobre inovação e tendência a cada 15 dias. Esse conteúdo é de sua estreia!

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Luciana Félix
Supervisora de conteúdo digital do acidade on e do Tudo EP. Entrou no Grupo EP em 2017 como repórter do acidade on Campinas, onde também foi editora da praça. Antes atuou como repórter e editora do jornal Correio Popular e do site do Grupo RAC. Também atuou como repórter da Revista Veja, em São Paulo.
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