O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, interrogou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na tarde desta terça-feira (10). O interrogatório era o mais aguardado da ação da trama golpista, na qual o político foi denunciado como líder do plano de golpe de estado.
Logo no início, Moraes perguntou saber sobre ‘qual era concretamente o fundamento’ que Bolsonaro tinha para alegar que houve fraudes nas eleições e nas urnas. A ‘farsa’ seria direcionada pelos ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Segundo o ex-presidente, ele sempre defendeu o voto impresso. “A questão da desconfiança, suspeição ou crítica às urnas não é algo privativo meu”, declarou Bolsonaro.
No interrogatório, o político do PL tem a oportunidade de exercer sua autodefesa, apresentando sua versão e desqualificando as denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) e de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, que delatou o ex-presidente. Segundo o delator, Bolsonaro recebeu, leu e pediu alterações em uma minuta golpista para anular o resultado das eleições e prender autoridades do STF e do Congresso.
Bolsonaro é o penúltimo a depor. Depois dele, falará o ex-ministro Walter Braga Netto, que será ouvido por videoconferência do Comando da 1ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro, onde está preso desde dezembro de 2024.
Veja os réus da trama golpista já foram interrogados no STF:
- Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Deputado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
- Almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI.
Bolsonaro chamou Moraes para ser seu vice?
O ex-presidente Jair Bolsonaro pediu licença ao ministro Alexandre de Moraes para fazer uma “brincadeira” durante o interrogatório.
“Posso fazer uma brincadeira?”, perguntou o ex-presidente.
“Eu perguntaria a seus advogados antes”, respondeu Moraes.
“Eu gostaria de convidá-lo pra ser meu vice em 2026”, brincou Bolsonaro, dando risada.
“Eu declino novamente”, antagonizou Moraes.
O ex-presidente está inelegível até 2030. Ele foi condenado pela reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada, em 18 de julho de 2022, para disseminar mentiras sobre o sistema de votação brasileiro e as urnas eletrônicas.
Ao abordar essa reunião, em que questionou a segurança do sistema de votação e cobrou ministros a agirem antes das eleições, o ex-presidente afirmou que foi um “desabafo”.
“Não tinha prova de nada no tocante a isso daí. Um desabafo meu, com toda certeza”, justificou.
“A minha retórica me levou a falar dessa maneira. Essa reunião não era para ter sido gravada. Era algo reservado. Alguém gravou, no meu entender, de má-fé”, completou.
Bolsonaro pediu desculpas pra Moraes?
Em sua primeira resposta, o ex-presidente pediu desculpas aos ministros Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, atual presidente do STF, por acusá-los de terem recebido entre US$ 30 e US$ 50 milhões para fraudar as eleições.
Bolsonaro fez as declarações na reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022. Ao explicar as suas falas, o ex-presidente minimizou o episódio.
“Era uma retórica. Se fossem outros três ocupantes (do Tribunal Superior Eleitoral) eu teria a mesma conduta. Me desculpe. Não tinha intenção”, explicou.
Em outro momento, Bolsonaro disse que para ele era “bastante desagradável” estar frente a frente com Moraes.
Questionado sobre a transmissão ao vivo, feita no dia 29 de julho de 2021, no Palácio da Alvorada, que segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) marca o início da trama golpista, Bolsonaro insistiu na narrativa de fraude.
“Acredito que, dado o que vinha acontecendo, de reclamações por ocasião das eleições, para o bem da democracia seria bom que algo fosse aperfeiçoado para que não pudesse haver qualquer dúvida sobre o sistema eletrônico. Se não houvesse essa dúvida, com toda certeza nós não estaríamos aqui hoje”, afirmou.
Moraes rebateu o ex-presidente e saiu em defesa do sistema de votação: “Na verdade não há nenhuma dúvida sobre o sistema eletrônico.”
Por que Moraes proibiu vídeos da defesa de Bolsonaro?
O ministro Alexandre de Moraes negou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para que ele pudesse exibir vídeos durante o seu depoimento sobre a tentativa de golpe de Estado denunciada pela PGR.
Bolsonaro pretendia expor gravações de autoridades que fizeram críticas às urnas eletrônicas, como o ministro do STF, Flávio Dino, e o ex-ministro Carlos Lupi (PDT). O objetivo era contrastar o seu discurso, que utilizou notícias falsas para atacar o sistema eletrônico de votação, com as manifestações de políticos de esquerda.
O ex-presidente reuniu cerca de 12 vídeos para embasar a sua linha argumentativa de que não teria feito ataques para desacreditar o sistema eletrônico de votação. As imagens comprovariam, na avaliação de Bolsonaro, de que se tratava de mera discordância técnica amparada pela liberdade de expressão.
Ao negar o pedido, Moraes afirmou que o interrogatório “não é o momento adequado para apresentação de provas novas, ainda não juntadas aos autos e desconhecidas das partes”. O ministro indicou que, caso entenda conveniente, a defesa do ex-presidente deve juntar os vídeos aos autos do processo.
“No interrogatório, o réu e sua Defesa podem utilizar, apontar e fazer referência a qualquer prova presente nos autos”, afirmou Moraes.
*Com informações da Agência Estado
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