14 de dezembro de 2024
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Gestantes de Vargem Grande Paulista têm de recorrer à cidade vizinha para terem filhos

COTIA, SP (FOLHAPRESS) – Moradora de Cidade Jardim, Lauanda Victória, 21, está em uma gravidez de risco e nunca conseguiu ser socorrida em Vargem Grande Paulista, cidade da região metropolitana a 48 km de São Paulo. “Tive alguns problemas como sangramentos, o bebê está muito baixo desde o início da gestação. Estou com dores e […]

COTIA, SP (FOLHAPRESS) – Moradora de Cidade Jardim, Lauanda Victória, 21, está em uma gravidez de risco e nunca conseguiu ser socorrida em Vargem Grande Paulista, cidade da região metropolitana a 48 km de São Paulo.
“Tive alguns problemas como sangramentos, o bebê está muito baixo desde o início da gestação. Estou com dores e constipação e ouvi que aqui eles não podem fazer nada”, desabafa.
No ano passado, Lauanda perdeu um filho na primeira gravidez, por má formação do feto. Por conta das sequelas, a segunda gestação também se tornou de risco. O serviço mais próximo é na cidade vizinha, Cotia.
“Sempre tenho que depender de terceiros para me levar a Cotia. Se ligo no pronto socorro daqui, quase nunca tem ambulância disponível, fora o trânsito”, ressalta.
Durante toda a gestação, Lauanda teve as consultas de pré-natal na UBS Bela Vista e foi acompanhada por diferentes obstetras. Agora na reta final com 36 semanas, a transferiram para a UBS São Lucas. As duas ficam em Vargem Grande Paulista.
“Já troquei de médico três vezes. No final da gestação, que precisaria de estabilidade, eles ficam trocando de médicos, enfermeiros, agora o postinho”, reclama a operadora de caixa sobre a rotatividade no atendimento.
O cenário vivido por Lauanda é conhecido na cidade e um problema que há anos tem promessas para ser solucionado. Na eleição de 2016, a construção de um hospital e maternidade fazia parte do programa de governo do prefeito Josué Ramos (PL).
A obra não saiu, e Josué foi reeleito ano passado. Na disputa de 2020, a promessa foi de uma nova unidade de saúde, mas desta vez não citou a maternidade. “Buscar parceria com a iniciativa privada para construção do primeiro hospital da nossa cidade, que atenderá SUS, privado e convênio”, diz o plano de governo registrado na Justiça Eleitoral.
Procurada há mais de um mês, a Prefeitura de Vargem Grande Paulista não retornou até a publicação desta reportagem sobre os cuidados com as gestantes do município.
Outra moradora da cidade que vive problemas com a gestão por causa da distância é Carina Dias, 33.
A moradora do Jardim Madalena ouve há cinco gestações promessas sobre a construção de uma maternidade mais perto de casa. No entanto, em todas elas, precisou correr para a cidade vizinha.
Em 2007, Carina não conseguiu ser atendida a tempo e deu à luz no corredor do Hospital Regional de Cotia.
“Estava sozinha em casa e chamei uma ambulância que me levou para o pronto socorro daqui [em Vargem Grande]. A médica ficou assustada e pediu pra eu deixar as pernas fechadas e chamou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência)”, conta a maquiadora, que demorou uma hora para chegar à maternidade mais próxima.
Chegando lá, como havia apenas uma médica de plantão, que estava numa cesárea, Carina ganhou o bebê no corredor, deitada na maca. Apesar de haver uma enfermeira no local, nada pode ser feito até a chegada da obstetra.
“A médica chegou com o avental ainda sujo do último parto e cortou o cordão umbilical do bebê”, diz.
Outro problema enfrentado pelas gestantes é a demora para fazer exames de ultrassom em Vargem Grande.
“Sempre fiz ultrassom fora de Vargem, pois não achava vaga para fazer particular. Pelo SUS (Sistema Único de Saúde), depois de eu ter ganhado meu bebê, já com dois meses, que me ligarem para agendar o exame”, diz Carina.
Após realizar o parto, normalmente a mãe fica internada por três dias, o que demanda revezamento dos acompanhantes. “Isso acaba gastando bastante com passagem”, desabafa.
Em maio de 2020, Bárbara Maria, 26, moradora de Cotia, chegou ao hospital em trabalho de parto e teve o pedido de camisola negado pela enfermeira. “Ganhei o Matheus com a roupa que eu cheguei, enrolada em um lençol”.
A informação passada era de que a maternidade estava lotada e não tinha camisolas para todo mundo.
Uma outra preocupação é a lotação em meio à pandemia. Segundo uma enfermeira, a ala da pediatria será transformada em ala para Covid-19, pois não havia vagas nas outras alas.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirma que “em eventual necessidade, os leitos podem também ser usados para casos urgentes ou emergenciais, visto que é dever de qualquer serviço público de saúde acolher casos de urgência e emergência”.
A Secretaria de Saúde afirmou ainda que o hospital “segue todas as diretrizes sanitárias, disponibilizando EPIs (Equipamentos de Produção Individual) para os colaboradores e exige uso de proteção correta tanto para profissionais quanto para visitantes”.
Sobre o atendimento, afirma que há um Centro de Parto Normal e Alojamento Conjunto que totalizam 36 leitos para acolher gestantes. A gestão estadual diz que a unidade é referência regional para atendimentos casos graves de Covid-19 e outras patologias, contando também com maternidade.
Sobre a lotação por causa do coronavírus, a unidade conta com ala exclusiva para pacientes suspeitos e confirmados. Até dia 12, o ocupação era de 78% dos 33 leitos de enfermaria e 50% dos 20 leitos de terapia intensiva.

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