Há um ano, no dia 24 de fevereiro de 2022, teve início a guerra entre Rússia e Ucrânia. Sem previsão para chegar ao fim e tendo deixado milhares de mortos, muitas pessoas precisaram fugir para preservar a própria vida. Dentre os que fugiram está o sul-mineiro David Abu-Gharbil, de Coqueiral (MG). Atualmente ele vive na República Tcheca e trabalha como engenheiro eletricista.
Em Kiev, na Ucrânia, David trabalhava no setor financeiro e estudava medicina, porém, com a chegada da guerra, ele precisou deixar o país. Foram nove dias até cruzar a fronteira com a Polônia, sendo três deles em fuga.
David conta que, apesar dos dias de medo e incerteza, atualmente vive uma vida feliz e confortável na República Tcheca, onde trabalha na sua área de formação como engenheiro eletricista.
No ano passado, David retornou para o Brasil e permaneceu no país por oito meses, enquanto aguardava pelo visto de trabalho para se estabelecer no país europeu.
“Deu tempo de eu visitar todo mundo, de ver minha família toda, de ir pra Minas, pra Coqueiral, ver meus avós, minhas tias, meus tios, meus primos, e isso foi muito bom. Só tenho a agradecer. Agradecer que eu estou bem, porque se eu estou com saúde, eu posso recuperar tudo, eu penso desse jeito”, conta.
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INÍCIO DA GUERRA E FUGA
O dia 24 de fevereiro de 2022 ficou marcado na memória de David. Após trabalhar até 1h da madrugada, ele foi dormir, mas acordou com um barulho diferente por volta de 4h30. “Ninguém esperava uma guerra. Abri a janela, tinha fumaça bem distante, a sirene tocando já, fui procurar na internet pra ver o que estava acontecendo e aí já estava com a lei marcial decretada e começou a guerra. Então, eu não sabia que ia ter uma guerra, porque pelo que eu conversava com as pessoas, com os próprios ucranianos, ninguém achava que ia ter uma guerra para valer mesmo, de verdade”, relembrou.
Ele conta que, assim que a guerra começou, saiu para comprar comida, mas se deparou com um mercado vazio. Só não ficou sem alimentos porque um amigo já havia feito compras. “Eu estava só com uma mochila, umas trocas de roupa, sai para encontrá-los e não consegui voltar mais para casa, porque acabou que o exército já começou a tomar aquela parte, começou a fazer umas trincheirinhas, umas barricadas, para não passar gente. Então, o que eu presenciei de começo foram as enormes filas, o barulho da sirene […] Era enorme, era muito alto. Além de caças, muitos caças passavam por cima, pelo espaço aéreo, eu presenciei uns dois, três caças passando bem próximo à nossa cabeça, sabe? E aí eu também me assustei, porque passou muito rápido, e eu falei, nossa, é para valer mesmo, ne?”, relembrou.
O sul-mineiro relatou que em dois momentos teve mais medo de não conseguir sobreviver e fugir da Ucrânia.
O primeiro deles foi quando uma bomba caiu a cerca de 2 km do apartamento onde ele e os amigos estavam; o segundo aconteceu quando ele e os outros dois brasileiros, os jogadores de futsal Jonatan Bruno Santiago, de 30 anos, de Santa Catarina e Matheus Ramires, do Rio Grande do Sul, foram deixados para trás por jogadores do Dínamo e do Shakhtar Donetsk.
Foi depois disso que eles tentaram a fuga por outros meios. Eles tentaram fugir pela Romênia, mas a embaixada brasileira repassou informações erradas, segundo David. Depois, eles tentaram ir de trem para perto da Polônia, porém, a estação estava lotada e eles foram expulsos por autoridades ucranianas.
Após a publicação de um vídeo nas redes sociais, a embaixada brasileira entrou em contato com David e organizou a retirada dos rapazes do território ucraniano. A fuga durou 3 dias de viagem de Kiev até a Polônia, sendo 18h até Lviv.
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