5 de dezembro de 2024
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Opositor de Putin vai para colônia penal, e polícia prende mais de mil na Rússia

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça russa reativou nesta terça (2) uma sentença de três anos e meio na cadeia contra o líder opositor Alexei Navalni, por ter violado sua liberdade condicional ao ser removido do país em coma, após ser envenenado em um ataque que ele atribui ao governo de Vladimir Putin. Como […]

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça russa reativou nesta terça (2) uma sentença de três anos e meio na cadeia contra o líder opositor Alexei Navalni, por ter violado sua liberdade condicional ao ser removido do país em coma, após ser envenenado em um ataque que ele atribui ao governo de Vladimir Putin.
Como ele já havia ficado 10 meses preso em casa depois de uma condenação inicial, ele cumprirá os dois anos e oito meses restantes numa colônia penal.
Após bater o recorde de detenções em protestos no domingo (31), quando cerca de 5.600 manifestantes pró-Navalni foram detidos em quase 100 cidades russas, a polícia tomou medidas duras para a audiência desta terça (2).
Segundo a ONG de monitoramento de violência policial OVD-Info, ao menos 1.266 haviam sido presos no país, 1.002 deles na capital.
Grupos de ativistas foram parados nas estações de metrô próximas da Corte Municipal de Moscou, não muito distante do famoso mercado de quinquilharias russas e soviéticas de Izmailovo, a nordeste do centro da capital.
O julgamento iria ocorrer em outra corte, a de Simonovski, mas o juiz do caso pediu para deixá-lo e sugeriu a transferência para o novo prédio, maior e mais seguro.
Navalni chegou ao local às 11h (5h em Brasília). Questionado sobre seu endereço, brincou ao juiz que era Matrosskaia Tichina (o silêncio do marinheiro, em russo), a famosa prisão moscovita que data do século 19 em que ele está detido.
Navalni foi preso em 17 de janeiro, ao desembarcar em Moscou após quase cinco meses de tratamento em Berlim. Ele não passou do controle de passaportes.
Ele havia sido envenenado na cidade siberiana de Tomsk em agosto, e alega que o agente químico Novitchok que os médicos encontraram em seu corpo foi administrado pelo FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor doméstico da antiga KGB).
A partir de investigações próprias, que incluíram um trote no espião acusado de plantar o veneno em uma cueca sua no hotel em que estava, Navalni acusou diretamente Putin.
O presidente nega responsabilidade, e o Kremlin sugere que o ativista está a serviço da CIA (serviço secreto americano).
A prisão de Navalni ocorreu porque, ao deixar o país em coma numa UTI aérea, ele feriu os termos de sua liberdade condicional. Seu advogado expôs a situação para o juiz nesta manhã, alegando que seu cliente iria se apresentar à Justiça na manhã seguinte à sua chegada.
Quando o representante do Serviço Penitenciário Federal da Rússia, que promove o caso, disse que não havia sido informado oficialmente do motivo da saída de Navalni, o clima na corte ficou farsesco. “Eu estava em coma, depois na UTI, e enviamos os documentos”, disse Navalni.
Ante a nova negativa do oficial, ele gritou: “Mas eu estava em coma!”.
Nas suas considerações finais, Navalni fez um discurso político. “É fácil me prender. Mas o objetivo principal é intimidar um grande número de pessoas. Você não pode colocar milhões na cadeia”, afirmou, chamando Putin de “o homem do bunker” responsável pelo julgamento.
Sua mulher, Iulia, chorou ao ouvir a sentença. “Vai ficar tudo bem”, disse Navalni a ela.
​O governo russo protestou contra a presença de diplomatas de 11 países, incluindo os EUA, e da União Europeia. O Ocidente pede a libertação da Navalni.
Protestaram contra o que consideram prisão ilegal a chanceler Angela Merkel (Alemanha) e diversos líderes europeus. O Departamento de Estado americano exigiu a revisão do caso, e a defesa de Navalni promete recorrer a tribuanis na Europa.
“Desavença política nunca é um crime”, escreveu no Twiiter o presidente Emmanuel Macron (França).
“Isso não é só interferência em assuntos internos de um país soberano, mas um auto incriminamento das tentativas ilegais do Ocidente de conter a Rússia”, escreveu no Twitter Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria.
Após a decisão grupos de manifestantes foram para o centro de Moscou, que estava sob forte cerco policial desde o final da tarde. Cerca de 2.000 pessoas, nas contas da mídia local, marcharam pelas ruas, com prisões esporádicas.
Apesar de Navalni não ser exatamente popular, com 4% de apoio a suas posições numa pesquisa de novembro, sua prisão disparou os maiores protestos em anos no país. Eles ocorreram no dia 23 e no domingo (31) passado, levando milhares às ruas sob frio congelante do inverno russo.
Putin condenou os atos porque, pela lei russa, eles são ilegais por não terem sido autorizados.
Na primeira rodada, mais de 4.000 haviam sido detidos. Entre eles estava Iulia, que foi presa e solta novamente no domingo —recebendo uma multa de R$ 1.800 por estimular os protestos.
Diversos aliados de Navalni sofreram o mesmo destino, aumentando a pressão sobre seu grupo.
Em 2012, Navalni e seu irmão Oleg foram acusados de dar um golpe numa filial russa da empresa de cosméticos francesa Yves Rocher. Eles prestavam serviços de transporte à firma. A empresa disse não ter sofrido prejuízos, mas em 2014 ambos receberam três anos e meio de cadeia.
Oleg foi preso, e Navalni teve a sentença suspensa. Por causa de outra condenação por fraude que também alega ter sido persecutória, ele não pôde participar da eleição presidencial de 2018.
Navalni já era um ativista conhecido, tendo participado dos protestos contra a eleição de Putin no começo de 2012. Mas foi em 2017 que ele alcançou fama nacional e internacional, quando investigações de seu Fundo Anticorrupção postadas online estimularam milhares de jovens a protestar contra o governo.
Inicialmente, Navalni evitava atacar diretamente Putin, o que levou a especulações se ele fazia parte de alguma campanha interna de desinformação entre as facções do Kremlin: seu alvo era Dmitri Medvedev, o ex-presidente e ex-premiê russo.
Além disso, como o jornal Folha de S.Paulo mostrou em 2017, a opacidade financeira de sua ONG era notória. Com o tempo, contudo, ele voltou as baterias para o líder russo, no poder desde 1999.
Foi mais uma reviravolta na carreira deste advogado de 44 anos. Ele já foi ativista liberal pró-mercado, filiado ao tradicional partido Iabloko (maçã, em russo), depois flertou com posições ultranacionalistas xenófobas e, mais recentemente, transita num certo populismo de esquerda com apelo entre jovens.
Ele sempre foi visto com desconfiança por partidos tradicionais, como o próprio Iabloko, por desacreditar o sistema político.
Nos últimos dois anos, contudo, sua rede ativista adotou a tática de apoiar qualquer candidato que não pertencesse ao partido do Kremlin, o Rússia Unida —com alguns sucessos e mirando a eleição parlamentar de setembro.
O centro de seu trabalho, contudo, sempre foi o ativismo anticorrupção. Sua peça mais recente acusa Putin de ter ser o verdadeiro dono de um palácio que frequenta às margens do mar Negro, que teria custado R$ 7,6 bilhões e teria até escovas de vaso sanitário de R$ 4.600. O objeto virou um dos símbolos dos protestos.
Navalni ainda sofre outras acusações criminais por fraude, relacionadas justamente às finanças de seu grupo ativista.

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