14 de dezembro de 2024
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Salto em números de casos de coronavírus pressiona leitos no Triângulo Mineiro

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – No último sábado (13), o prefeito de Monte Carmelo (MG), cidade com população estimada pelo IBGE em 47,9 mil habitantes, fez um apelo nas redes sociais para que quem tivesse cilindros vazios de oxigênio doasse à rede municipal devido à escalada recente de casos do novo coronavírus. Paulo Rocha (PSD), […]

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – No último sábado (13), o prefeito de Monte Carmelo (MG), cidade com população estimada pelo IBGE em 47,9 mil habitantes, fez um apelo nas redes sociais para que quem tivesse cilindros vazios de oxigênio doasse à rede municipal devido à escalada recente de casos do novo coronavírus.
Paulo Rocha (PSD), eleito em 2020, atravessou a pandemia como vice-prefeito e secretário municipal de Saúde, acompanhando os números desde o início. O município, cujos dez leitos de UTI e seis semi-intensivos abertos para atender casos da Covid-19 estão todos ocupados, costumava usar de quatro a cinco cilindros por dia na rede municipal, mas hoje precisa de 123, segundo ele.
“[Número de] infectados só aumenta. Nós tínhamos, cinco, seis, quando muito 10 confirmados por dia, de quinze dias para cá, estamos tendo 50, 60 confirmados por dia. Até o dia 27 de janeiro, tínhamos 18 óbitos, mas de lá para cá tivemos mais 31. Em 20 dias, tivemos mais mortes do que quase um ano de pandemia”, diz ele.
O município é mais um do chamado Triângulo Norte, na região do Triângulo Mineiro, que vem atravessando a pior fase da pandemia, passando os números registrados no pico do ano passado. “Está uma situação caótica na nossa região”, diz Rocha.
Coromandel (a 55 km de Monte Carmelo), com população estimada em 27,9 mil habitantes, segundo o IBGE, registrou 11 mortes por Covid-19 em 24 horas, no fim de semana — haviam sido 10 durante todo o ano de 2020. Agora são 32 mortes no total.
O município conseguiu respiradores e recursos humanos via governos federal e estadual, mas casos graves ainda precisam ser transferidos.
“Assumi o mandato esse ano e, com 30 dias, estoura uma crise dessa, que o meu governo não tem como controlar porque deveria ter sido feito um planejamento desde o governo passado, junto ao Ministério da Saúde e à Secretaria Estadual, prevendo esse momento e equipando as cidades para enfrentar esse desafio”, avalia o prefeito. “Nossa situação é uma das piores, mas conseguimos apoio para tentar superar.”
Os dois municípios adotaram medidas que incluem toque de recolher, proibição de venda de bebidas alcóolicas e liberação apenas de serviços essenciais. Em Coromandel, barreiras sanitárias também foram colocadas na entrada da cidade e há controle da circulação de pessoas.
Prefeitos e outras fontes ouvidas pela Folha apontam o relaxamento no distanciamento social e as festas de fim de ano, com viagens para destinos turísticos, como fatores que podem ter influenciado para maior circulação do vírus e o salto nos casos. Além disso, a região fica próxima à divisa de Minas com outros estados, como São Paulo, com grande circulação de pessoas.
Entre os dias 5 e 16 de fevereiro, o governo do estado transferiu 24 pacientes da região do Triângulo Norte para municípios como Montes Claros, Divinópolis, Pará de Minas e Formiga. Nesta quarta, estavam previstas mais quatro transferências, uma delas para Belo Horizonte.
Na terça, uma força-tarefa do estado foi enviada para a macrorregião onde está Coromandel. O secretário estadual de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, diz que o município é um ponto fora da curva, mas que o estado está buscando um redimensionamento da rede para atender o volume significativo de casos sendo registrados na região.
Segundo ele, o estado vem observando aumento de casos há algum tempo, começando pela região leste e migrando para outras até chegar ao Triângulo. “É como se fosse uma onda migrando pelo estado de Minas Gerais”, disse a jornalistas.
“Enquanto estado, estamos tentando, além de remanejar casos para outras regiões de saúde, que passam a ter impacto assistencial importante, abrir mais leitos e alertar municípios sobre necessidade de maior rigor e controle sanitário”, afirmou ele à Folha.
“Hoje, temos dificuldade de contratação de recursos humanos em todo o estado. Isso significa que, por mais esforços que venhamos a fazer, vamos ter limitações na ampliação de leitos.”
Em Uberlândia, cidade referência da região, a ocupação de leitos de UTI para Covid era de 96 na rede municipal, no boletim de quarta-feira. O prefeito Odelmo Leão (PP) anunciou medidas restritivas a partir de sábado, para tentar conter a pandemia na cidade, que registrou o recorde de 14 mortes na segunda.
“A decisão de entrar na fase mais restrita é uma tentativa de conter o contágio e amenizar as internações, porque a situação é grave. Como estamos presenciando uma falta de consciência coletiva, vamos ter que tomar uma atitude mais drástica para aumentar os índices de isolamento social. O sistema de saúde, tanto do público quanto privado, está no limite”, afirmou Leão.
Segundo o epidemiologista e professor do departamento de saúde coletiva da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) Stefan Vilges de Oliveira, os números de hoje superam os do pico registrado em meados de agosto. A média móvel do município chegou a 470 casos registrados, passando os 160 do fim do ano.
Além disso, ressalta Oliveira, as medidas de segurança estão mais relaxadas. “O distanciamento social está quase como em um período pré-pandemia.”.
“Esse colapso é provável que aconteça nos próximos dias, se não tivermos uma estratégia rápida para solucionar a questão dos leitos, como estamos mantendo média alta de casos e internações”, diz. “Não apenas para Covid, mas temos pacientes com outros problemas, problemas cardíacos, pessoal que espera leitos para cateterismo.”
Em Uberaba (a 108 km de Uberlândia), a taxa de ocupação de leitos de UTI reservados para Covid-19, na terça, era de 91%, no setor privado e 44% no SUS, de acordo com a prefeitura.
“No estado de Minas, como um todo, a gente vive uma época pior do que outras desde o começo da pandemia”, afirma o infectologista Guilherme Henrique Machado, que atende no Mário Palmério Hospital Universitário, da Uniube (Universidade de Uberaba), e no Hospital Regional José Alencar.
“Aqui no Triângulo Sul, onde a referência é Uberaba, a gente percebe que a taxa de ocupação de leitos de UTI e enfermaria vem se mantendo em níveis bem elevados. Pode chegar a um momento que o sistema entre em colapso.”
No final de janeiro, 18 pacientes de Manaus foram transferidos para o Hospital Regional de Uberaba, oito deles morreram e dez voltaram para o Amazonas após alta. Seis pacientes tiveram detectada a presença da variante P1, mas ainda não há confirmação de que o vírus esteja em circulação em Minas Gerais. Apenas um deles, uma mulher, sobreviveu.
Segundo a prefeitura de Uberaba, os manauaras foram mantidos em área isolada, porque já existia a suspeita de que pudessem estar infectados com a nova cepa do vírus, e quatro servidores que tiveram contato com os pacientes foram colocados em isolamento. Dois deles que tiveram resultado positivo para o novo coronavírus ainda esperam resultado dos exames para saber se estão com a nova variante.

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