Por Roberto Schiavon
O empresário José Bonifácio Coutinho Nogueira, que foi responsável por colocar no ar a TV Cultura na década de 1960, encarou em 1979 o desafio de implantar a EPTV em Campinas, desbravando um terreno até então desconhecido: viabilizar um canal de televisão no interior de São Paulo.
“Entramos no edital de concorrência convencidos de termos grande chance, porque tinha uma cláusula dizendo que precisava ter experiência em televisão. E eu tinha ficado quatro anos na TV Cultura. Mas não tínhamos programação nenhuma”, contou JB, em entrevista à EPTV em 1997.
TELEVISÃO E POLÍTICA
Quando foi implantada a TV Campinas, o embrião da EPTV, Bonifácio abandonou a vida política, que exercia desde os tempos de liderança estudantil, para se dedicar totalmente à função de executivo de televisão.
Ainda na época da TV Cultura, ele exigiu que a Fundação Padre Anchieta, gestora do canal, fosse uma entidade de direito privado, para evitar interferência política no seu trabalho.
“Não sou contra ser político, sou contra ter um veículo de comunicação, que é concessão do poder público, para fazer política. No fim, o veículo acaba se transformando em um cabo eleitoral. E perde a credibilidade”, disse.
DESBRAVANDO O INTERIOR
Ele destacou o pioneirismo da EPTV como empresa de televisão no interior do Estado, iniciativa incomum no Brasil naquela época.
“Foi a partir daqui que as TVs do interior começaram a aparecer. Nós entendemos que o Interior de São Paulo era muito mais do que se pensava”, ressaltou.
Para Bonifácio, a razão do sucesso da EPTV é o trabalho contínuo para que o planejamento inicial fosse cumprido à risca. “Pusemos na pauta que ia dar trabalho e temos cumprido o roteiro, custe o que custar”, acrescentou.
ISENÇÃO
O empresário falou ainda sobre os princípios da empresa, reforçando que a EPTV nunca comprometeu sua isenção. “Nós vendemos anúncios, não vendemos opinião. Porque o fato é que tem opinião”, disse.
JB destacou ainda que o período de implantação da EPTV foi carregado de emoção, por ser um projeto ainda mais desafiador do que o convite para a TV Cultura.
“Na TV Cultura fui convidado para algo já decidido pelo governo. Meu compromisso era colocar no ar. Aqui a responsabilidade foi de entrar em um mercado que não existia, sem programação. Apenas achando que a televisão ia dar certo no interior”, completou.
SUCESSO
Para Bonifácio, o sucesso do grupo é explicado por meio do trabalho. “Nós pusemos na pauta que isso iria dar trabalho e temos cumprido o roteiro. Custe o que custar, o roteiro vai ser cumprido”, afirma.
Cauteloso, ele ressalta durante entrevista concedida a EPTV em 1997, que o grupo poderia ter feito televisão a cabo dois ou três antes, mas, por não estarem capitalizados, optou por esperar e dar início naquele ano.
“Conforme for tendo evolução, nós faremos, mas ninguém deve correr o risco de por sua empresa a perder. Porque vai a sua posição pessoal e de todos que trabalham com você. Uma empresa que fecha com 700 funcionários, não é apenas o emprego do dono que foi para o espaço, mas o emprego de 700 pessoas que foi para o espaço junto”, comentou
SERVIÇO A COMUNIDADE
Para JB, “televisão é uma atividade que dá prazer”, principalmente pela troca entre os profissionais de comunicação e os telespectadores.
“Televisão dá uma ideia de comunicação com o povo, a oportunidade de chegar à casa das pessoas. Por outro lado, as pessoas te identificam como alguém que tem um recado a dar. Esse intercâmbio humaniza a profissão. Ganhar dinheiro ou não em televisão é um aspecto até certo ponto secundário. Porque a grande alegria que a gente tem é saber que a televisão está prestando um serviço à comunidade”, concluiu Bonifácio.