Em meio à crise sanitária e econômica devido à pandemia da covid-19, o número de famílias que buscam apoio social nas dez unidades do Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) espalhadas pela cidade de Araraquara cresceu.
Segundo balanço do trimestre apresentado pela Prefeitura, de janeiro a março deste ano, foram 2.151 novas famílias atendidas nos espaços que são a porta de entrada para apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade no município.
No mesmo período, o levantamento aponta que há aumento também no número de famílias no Cadastro Único, responsável por centralizar os dados das pessoas que necessitam de apoio governamental e participam de programas sociais.
Com 339 novas famílias, o CadÚnico, como é conhecido, ultrapassa a marca de 15 mil famílias em Araraquara. Quando o assunto são programas sociais governamentais, a cidade possui 5.314 famílias beneficiárias do Bolsa Família, 213 pelo programa Bolsa Cidadania e 84 pelo PIIS.
O ACidade ON procurou a Prefeitura para que a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Jaqueline Barbosa, pudesse comentar os números, porém, não houve resposta.
‘NÚMEROS SÃO ENFÁTICOS’
Na avaliação da socióloga Mirlene Simões, os números apresentados pela Prefeitura são enfáticos, mas ainda não são tão graves quando comparados a outras regiões do País onde aprofundou a pobreza das famílias.
“Desde 2018 que temos tido sucessivas políticas de afastamento da proteção social. A primeira delas foi a reforma trabalhista, que promoveu uma demissão em massa e desregulamentação que vinha desde a década de 1990 e agora se agravou”, explica.
“Isso significa que aquela política principal de distribuição de renda, que é a garantia do salário mínimo, que é prevalecido por lei por conta do trabalho que você desenvolve, ela não existe mais. Veja como é grave, nós estamos desde 2018 sofrendo ataques”, completa.
Simões considera que a reforma trabalhista empurrou os trabalhadores para a marginalidade e precariedade de trabalho. Outro ponto observado pela socióloga é a reforma previdenciária, pois considera que ela “foi um ataque aos direitos sociais”.
“Quase 80% da previdência social são pessoas que recebem salário mínimo por tempo de serviço, ou seja, pessoas que trabalharam durante a vida toda, em condições precárias de trabalho, mas que conseguiram garantir o mínimo para poder se aposentar”, ressalta.
A socióloga atribui ainda o crescimento na pobreza no Brasil a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que impõe o limite de gastos e atinge o socorro social.
“Tivemos o agravamento da pandemia e o Governo Federal retirou ainda mais recursos ao invés de investir. Sabemos que devido a ação dos deputados federais tivemos a aprovação do auxílio emergencial no ano passado, que foi fundamental para não ser tão radical”, afirma.
“Este ano, além da retirada de milhões de brasileiros do programa, tivemos a redução dos recursos, o que mais uma vez comprova que o Governo não está se atentando e não está preocupado com esse momento que estamos vivendo de crise econômica profunda associada a uma pandemia, e que exige condições sanitárias para que as pessoas possam preservar as vidas”, completa.
Questionada sobre quais as saídas para enfrentar o crescimento do empobrecimento em Araraquara e no País, Simões defende maior atuação do Estado.
“Com a pandemia, isso tudo se agrava de uma forma radical. A saída seria o que praticamente todos os países estão fazendo. Veja, até os Estados Unidos, conhecido internacionalmente pelo liberalismo econômico, tem atuado no sentido de promover ações de distribuição de renda de diferentes formas, para a sociedade sair do momento de crise econômica”, finaliza.