- Publicidade -
CotidianoDocumentos inéditos da escravidão são recuperados após mais de 130 anos em Araraquara

Documentos inéditos da escravidão são recuperados após mais de 130 anos em Araraquara

A série ‘A História Comprovada’ do EPTV1 conta a história desse material encontrado em Araraquara; confira 

- Publicidade -
Documentos foram encontrados em um cartório de notas de Araraquara  
Documentos foram encontrados em um cartório de notas de Araraquara  

Benedito, Mauricio, Maria, Barbara, José e Clemente.  Nomes sem sobrenomes, negociados como mercadorias de acordo com a moeda da época – pelo preço ajustado de 48 contos de réis. 

Por trás de letras difíceis de ler está o sofrimento de quem nasceu condenado ao trabalho escravo no final do século 19. 
 

- Publicidade -

Pela primeira vez na história do Brasil, você tem de fato uma documentação tão extensa e retirada de um único lugar”, Dagoberto José Fonseca, professor de antropologia, Unesp.

São quase 500 páginas, divididas em cinco livros, encontrados em um cartório de notas e protesto de Araraquara. A ideia de buscar provas do passado escravocrata no interior Paulista é do professor Dagoberto. 

 

VEJA TAMBÉM 

Mascavar: PF de Araraquara deflagra operação contra falsificação de dinheiro na região

Araraquara tem mais de dez vagas de emprego disponíveis

- Publicidade -

Ele participou da comissão nacional da verdade sobre a escravidão, criada pela ordem dos advogados do Brasil em 2015 e que resolveu aprofundar a investigação no estado de São Paulo.  
 

“Traz questões importantes para nós pensarmos na cidade de Araraquara no passado, mas também para nós pensarmos a cidade de Araraquara no presente e no seu futuro”, ressalta Dagoberto.  

 

Por trás das palavras difíceis de ler, está o sofrimento de muitos negros e negras
Por trás das palavras difíceis de ler, está o sofrimento de muitos negros e negras 

 Os documentos inéditos ficaram guardados aqui no cartório por mais de 130 anos. As escrituras de compra e venda de negros só foram divulgadas graças a uma iniciativa de pesquisadores, advogados, autoridades e integrantes de movimentos antirracistas. Eles conseguiram na justiça o acesso a essas informações. 

Com a quebra do sigilo, foi possível descobrir detalhes de um dos capítulos mais cruéis da história do Brasil. 

Essas páginas escancararam a compra e venda de pessoas. Em alguns casos, são vendas de um único escravizado. Em outras situações, são lotes com várias pessoas, famílias, mãe, pai, filhos e os chamados ingênuos – termo jurídico da época para identificar as crianças nascidas depois da lei do ventre livre. Na teoria, deveriam ser libertas, mas na prática eram comercializadas. 

Em quase 400 anos de escravidão, cerca de quatro milhões de pessoas foram traficadas para o Brasil. Muitas vieram para cá, foram obrigadas a trabalhar na agricultura, pecuária e em serviços domésticos. 

 

 Documentos deveriam ter sido queimados em todo o país em 1890, mas foram guardados em Araraquara
 Documentos deveriam ter sido queimados em todo o país em 1890, mas foram guardados em Araraquara 

Logo após a Abolição da Escravatura, o governo brasileiro resolveu acabar com qualquer registro relacionado a esse período. Um despacho de 1890, assinado pelo então ministro da fazenda Rui Barbosa, determinou a queima e a destruição imediata dos documentos referentes ao regime escravocrata – chamada fogueira de Rui Barbosa. 

 

“O motivo de fazer isso foi não pagar, não indenizar, não reparar os escravistas, aqueles que tinham população. Agora, por outro lado, ao fazer isso, ele impede também que a população negra recém liberta pela lei Áurea, tivesse acesso à documentação. Então se matava dois coelhos com uma única cajadada”, explica o professor da Unesp. 

Mas nem todos os cartórios seguiram as ordens do governo e guardaram as escrituras. 
Dagoberto lembra ainda que há uma piadinha terrível que diz ‘Cuidado, negão, porque ela é a Áurea pode ter sido assinada a lápis’. “Ou seja, tem lei que pega, tem lei que não pega. E é dentro desse contexto que eu não tenho meus documentos, eu guardo. Porque se a lei de fato não pegar, eu tenho a documentação para comprovar que aquela população é minha propriedade e eu trago ela de volta”. 

A fogueira de Ruy Barbosa não queimou os documentos de Araraquara. Mas como esses registros ficaram escondidos por muito tempo, as lembranças da escravidão foram contadas pela oralidade do povo de geração para geração. 

Uma delas se passa em uma área de mata no distrito de Santa Eudóxia, em São Carlos. Muitos escravos conseguiam fugir, percorria mata em direção ao Rio Mogi Guaçu, no limite de São Carlos com outros municípios. Era uma rota de fuga. 
 

“A forma de você capturar um negro ou uma negra era soltar, soltar os cães. Isso fazia com que, você entrando na água eles não sentiriam mais o cheiro do escravo ou da escrava. Então essa era uma rota de fuga”, conta Carmelita Maria da Silva, professora e militante do movimento negro. 

 

Família de Pata Seca guarda a história de um dos escravos mais conhecidos da nossa região
Família de Pata Seca guarda a história de um dos escravos mais conhecidos da nossa região 

Uma das mais famosas histórias de compra e venda de escravos vem de São Carlos. Roque José Florêncio, também chamado de ‘Pata Seca’, foi comprado aos 12 anos de idade para trabalhar numa fazenda em Santa Eudóxia e, 65 anos depois da morte dele, os descendentes de Pata Seca lutam para preservar essa história. São netos, bisnetos e tataranetos de um dos mais conhecidos escravos da região. 

Somente o seu Nelson e a dona Madalena chegaram a conviver com o bisavô escravo, dono do apelido curioso. 

Segundo a certidão de óbito, Pata Seca morreu aos 130 anos em 1958. Além da idade incomum, o trabalho dele fugir do convencional. Ele era obrigado a engravidar mulheres para a geração de novos cativos, um escravo reprodutor bem cuidado. 
 

“No crescimento dele, estava vendo que ele era forte, alto, canela fina e um preto bem vistoso, então ele foi escolhido por seu dono para ser um escravo reprodutor e ele teve 249 filhos” conta Madalena Glorêncio, neta do Pata Seca. 

E essa é apenas uma das muitas histórias de seres humanos tratados como mercadorias, como mostram os documentos recém-descobertos em Araraquara. 

Memórias que os descendentes de Pata seca e de muitos outros escravos não vão deixar cair no esquecimento. 

“Eles sofreram muito, né? Então, alguns não lembram, mas eles precisam ser lembrado porque eles foram um ícone”, Davi, tataraneto do Pata Seca.
 

“A gente precisa abrir todos os baús. A gente precisa resgatar a nossa história, porque a nossa família não se resume somente no pai, na mãe, no avô, na avó e aqueles que ainda conseguem ter os seus bisavós. Eu não cheguei a ver os meus tataravós e nem sei os outros, mas é, a gente precisa do dos documentos, esses documentos. Eles fazem parte da nossa história, faz parte da minha família e da família de outros também”, finaliza Carmelita Maria. 
 

 

LEIA MAIS 

6 passos para uma gestação tranquila e feliz
 

- Publicidade -
Mídias Digitais
Mídias Digitaishttps://www.acidadeon.com/
A nossa equipe de mídias digitais leva aos usuários uma gama de perspectivas, experiências e habilidades únicas para criar conteúdo impactante., com criatividade, empatia e um compromisso com a ética e credibilidade.
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Notícias Relacionadas
- Publicidade -