“Fake News” é uma expressão de origem inglesa que ganhou muita força recentemente no cenário político. Em terras brasileiras, essa expressão pode, inclusive, camuflar o que ela realmente significa na tradução do inglês para o português: notícias falsas, ou seja, mentiras, falácias. O fato é que a elaboração de notícias falsas não acontece de forma inocente ou neutra: sempre revela uma posição política e tende a diminuir a capacidade democrática da sociedade na medida em que a verdade, embasada através da reflexão sensata e coerente, torna-se obscura, incerta, duvidosa. Quando isso ocorre, as fake news, ou melhor dizendo, as mentiras, se espalham no sentido da manipulação social e se tornam perigosas artimanhas políticas.
Com a explosão da internet e das redes sociais, as notícias estão a um clique de serem lidas e compartilhadas, por isso é sempre muito importante considerar a validade dessas notícias. As fake news costumam são disseminadas de duas formas: primeiro, a partir da elaboração e propagação de notícias falsas que são espalhadas com o intuito de defender interesses particulares de alguma pessoa, ideologia, instituição ou grupo social, de forma mal-intencionada; e segundo, a partir de pessoas desavisadas que compartilham notícias falsas veiculadas em seu próprio círculo social, de forma inocente.
Um grande exemplo atribuído ao perigo das fake news ocorreu em 2016 no contexto das eleições presidenciais dos Estados Unidos. Na véspera das eleições estadunidenses, grupos sociais ligados ao candidato identificado com a extrema-direita disseminaram várias notícias falsas nas redes sociais relacionadas à violência, polarização, xenofobia e atos terroristas, obtendo apoio de empresa privada especializada em análise de dados para tornar mais eficaz o projeto de manipulação social. Situação que desencadeou uma avalanche de movimentos sociais fervorosos e preconceituosos e concretizou, por fim, a vitória política de Donald Trump.
Pensando neste tema dentro do cenário da política brasileira, ocorreu algo semelhante durante as eleições presidenciais de 2018, quando fomos bombardeados por diversas notícias falsas no contexto das campanhas eleitorais. Mentiras (apresentadas em forma de notícias) que possuem o poder de transformar o nível do debate político e são capazes de mobilizar as paixões, ideologias e atitudes dos cidadãos. O resultado desta situação: um apoio eleitoral potente a favor do candidato Jair Bolsonaro, que se beneficiou amplamente com as notícias falsas espalhadas contra seus adversários políticos na internet (como a suposta defesa do PT em prol da distribuição de mamadeiras sexuais nas escolas), contribuindo para seu triunfo político.
As notícias falsas minam os fundamentos da sociedade civil e democrática. O direito à verdade é essencial dentro de uma democracia e deve ser usufruído por todos. Quando as notícias falsas se espalham, elas têm sido acompanhadas majoritariamente por posicionamentos políticos que se aproximam de expressões antidemocráticas, unilaterais e tendenciosas. Para acabar com o poder das fake news, é fundamental que os cidadãos tomem medidas afirmativas contra a disseminação de notícias falsas: lendo integralmente os conteúdos antes de compartilhar com os outros, certificando a veracidade e o nível de consenso das informações lidas e, principalmente, levando em consideração dados de base científica. A eliminação da propagação de notícias falsas representa o avanço de argumentos sensatos e coerentes, mais do que isso: representa o fortalecimento da sociedade democrática.
* Alunos de Graduação do Curso de Ciências Sociais da UNESP – Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara. O projeto “Pílulas de Educação Política” é realizado sob a supervisão do Prof. Danilo Forlini, responsável pela disciplina “Ciências Sociais e Educação: Diálogos com a Ciência Política” feito em parceria com o Prof. Bruno Silva, coordenador do blog Multipli_Cidade do Portal A CidadeON.