A educação passou por uma verdadeira reviravolta na pandemia da covid-19. O giz, a lousa, as conversas e o contato diário ficaram suspensos no último ano.
Vieram as aulas em plataformas online e muitos desafios, tanto para professores como para alunos.
Desde adaptações com os aparatos tecnológicos e as mídias sociais, não foi um caminho fácil o período de isolamento social e também de luto vivenciado por muitos.
No Dia do professor, comemorado nesta sexta-feira (15), a reportagem conversou com professores da rede pública de Araraquara para entender os desafios e a luta incansável por uma educação de qualidade.
A professora Leocárdia Cristina Reginaldo da Cruz, 43 anos, leciona há 23 anos na região de Araraquara. Ela comentou que na pandemia o que não faltou foi aprendizado.
“Apesar de todo o contexto que estamos vivendo, lecionar e ou estar na coordenação pedagógica em tempo de pandemia nos trouxe muitos desafios e aprendizagens. Nós professoras e professores tivemos diariamente que estudar muito, desenvolver novas habilidades, aprender e aprofundar nossos conhecimentos em relação as mídias sociais e recursos tecnológicos”, apontou.
Já a professora Cláudia Braga, de 49 anos, que atua na Educação de Pessoas com Deficiência, relatou que foi um período de reinvenção na educação.
“Viver na pandemia foi abrir as portas da nossa casa, como também entrar na casa do aluno; nos reinventar para levar o ensino até o aluno, sem ao menos poder tocá-los. Apesar de todos os desafios, eu amo o que faço”, comentou.
PROFESSORES PREOCUPADOS
Aos poucos, o retorno presencial vai acontecendo, após vacinação contra o coronavírus e estratégias sanitárias de combate à doença, como o uso obrigatório de máscaras. E com isso novas adaptações vão surgindo.
Um dos pontos levantados pela educadora Leocárdia é a preocupação com a saúde mental de todos os alunos no pós-pandemia, entre outros.
“Agora estamos em um outro momento, ou seja, estamos retornando ao trabalho presencial, infelizmente ainda temos muitos desafios a serem superados em relação a acesso, a permanência, aprendizagem dos alunos pós pandemia, como as questões relacionadas ao acolhimento da comunidade escolar (alunos, alunas e famílias), saúde mental de todas as pessoas das escolas, a vulnerabilidade social, econômica e cultural, violências explicitas ou veladas, o luto, enfim os problemas existentes no espaço escolar que com a pandemia também estiveram presente”, ressaltou.
O professor Tadeu Marcato, que dá aulas no bairro Cecap de Araraquara, lembrou também o receio com a evasão escolar, devido a dificuldade de acesso a computadores e celular por parte de muitos alunos somado ao acúmulo das tarefas domésticas.
“Acredito que no próximo ano veremos o tamanho da evasão escolar, principalmente no ensino médio, alunos que tinham uma obrigação em casa como ajudar em casa, trabalhar fora e com esse tempo que ficou dentro de casa acabou absorvido para outras tarefas também”.
“Ser professor, é dedicar-se ao ensino, não só de ler e escrever, também de educação, pois muitos veem a escola sem essa bagagem, preocupar-se se o aluno está sendo bem tratado em casa e se tem comida suficiente para matar sua fome é constante. E ainda sim somos desvalorizados”, apontou.
AMOR E VALOR AO ENSINO
Em um ano em que os professores foram alvos de ofensas e retaliações por setores políticos, além do baixo salário, a luta pela educação e transformação através dos estudos se manteve presente.
Para Tadeu Marcato, apesar da desconfiança de parte da sociedade sobre a educação, o papel do professor continua sendo o de transformar vidas.
“O olhar desconfiado da sociedade é instigado por setores políticos reacionários, e sofremos alguns ataques do Estado, onde alguns direitos estão sendo ameaçados. Apesar de tudo isso, o professor é a figura da sociedade que tem a possibilidade de transformação junto as crianças, juventude e infância”, reforçou.
O professor Felipe Dias, de 33 anos, é da área da educação de pessoas com deficiência e disse que apesar de desafiador exercer a profissão nos tempos atuais no país, não desiste de ensinar e enfoca o respeito as diferenças.
“Ser professor é desafiador em um país tão desigual socialmente e rico em diversidade. Cabe a nós apresentar essas diversidades e ensinar as pessoas a conviverem com mais respeito as diferenças”, apontou.
Felipe refletiu sobre a escolha da profissão, que para ele está além do salário.
“Apesar de o salário do professor do Brasil ser o menor entre 40 países, escolhi ser professor por acreditar que a educação é o que constrói o ser humano e este transforma a sociedade. Assim, ainda sigo acreditando apesar de tudo que fazem para desistimos. Dizem que os médicos salvam vidas. E os professores, será que não?”, refletiu.