“Pareciam que todas as comemorações eram uma despedida“. É desta forma que a jornalista de Araraquara, Ana Carolina Malandrino, de 30 anos, descreveu os momentos enfrentados pela família após o pai ser diagnosticado com câncer no fígado, no Natal do ano passado.
Desde 2015, quando teve a sua primeira crise, o vendedor de bebidas Geraldo Carbonaro Malandrino, 65, lutava contra uma cirrose hepática, que evoluiu para três tumores. A cura, segundo os médicos, dependia exclusivamente de um transplante.
“Eu tenho minha espiritualidade e sempre falei que ‘errei’ e que se fosse da vontade de Deus me levar embora teria que ser. Fiquei muito preocupado, mas tinha muita fé em Deus e Jesus“, lembrou Geraldo.
O erro a que ele se refere foi o descuido com a própria saúde. Quando teve sua primeira crise, após um almoço em família, Geraldo pesava 145 quilos.
Após vomitar sangue e desmaiar, ele foi levado para um hospital, onde foi diagnosticado com a doença. “Não bebia, não fumava, nunca fiz isso”, afirmou.
Desde então, passou a realizar acompanhamento médico, emagreceu bastante, mas voltou a ter sangramentos. Em agosto do ano passado, os médicos apontaram a necessidade do transplante após uma semana internado e, sem ele, Geraldo teria no máximo seis meses de vida.
“É uma doença realmente preocupante. Eu tive um irmão que faleceu por isso. Acredito que essa doença é um pouco hereditária e um pouco do meu descuido pessoal”, disse.
A situação que era delicada ficou ainda pior em outubro, quando Geraldo começou a fazer sessões de paracentese para a retirada de líquido da barriga. Por semana, eram removidos cerca de 15 litros de água.
A necessidade deste procedimento também colocou o vendedor na lista prioritária para um transplante de fígado. Ele foi chamado duas vezes, mas sem conseguir dar prosseguimento à cirurgia.
Após as duas decepções, a boa notícia chegou em maio desde ano: um doador, de 40 anos, apto a doar o fígado. “A reação foi ótima porque é cansativo, não via a hora de resolver isso. Sempre rezando, orando, com fé e falando para Deus e Jesus que a sua vontade fosse feita“, lembrou.
Ana Carolina disse que não imaginava que o transplante poderia dar certo. “Eu não conseguia vir o transplante como uma saída e que meu pai poderia reviver […] Ele me mandou um áudio dizendo que ia fazer o transplante, que era para ficar tranquila e que ele não iria morrer”, disse.
UM NATAL DIFERENTE
Hoje, Geraldo está curado, faz 8 km de caminhada todos os dias e frequenta a academia. Mas vai continuar tomando um medicamento fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para sempre.
Mesmo sem conhecer o doador, ele disse que agradece todos os dias pelo gesto. “Oro todo dia para este irmão, irmã, que me cedeu o fígado, para a família dele. Essas pessoas perderam alguém que amavam. Obviamente, esta pessoa era importante para sua família“, comentou.
Após o último ano, celebrar o Natal ganhou outro significado. “Vou passar com a minha família. Quero um Natal simples, mas farto de alimento e alegria”, pediu.
Depois do pior Natal da sua vida, como ela mesmo disse, este ano vai ser diferente. “É meu presente de Natal, de vida, é uma virada de chave, de que a vida não é só trabalho, dinheiro. É um milagre de Deus, é um milagre que outra pessoa ajudou a minha família a ter meu pai aqui comigo. Esse Natal vai ser feliz”, comemorou a jornalista.
SER UM DOADOR
Geraldo Malandrino também falou sobre a importância da doação de órgãos e disse que já orientou a família sobre o seu desejo de também ser um doador.
“Tem muita gente sofrendo. Então, eu aconselho, quero ajudar, porque estou vivo graças a este irmão ou irmã que fez a caridade de me doar o fígado“, concluiu.