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CotidianoPesquisadores de Araraquara testam substâncias menos agressivas para combater o câncer

Pesquisadores de Araraquara testam substâncias menos agressivas para combater o câncer

Em ensaios realizados in vitro, resultados mostraram-se promissores para reduzir os efeitos colaterais do tratamento do câncer de mama e de pulmão

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Pesquisadores de Araraquara testam substâncias menos agressivas do que os quimioterápicos (Foto: Arquivo pessoal/Renan Lira)

 
Pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara, desenvolveram novos compostos que apresentaram, em testes in vitro, resultados promissores para reduzir os efeitos colaterais do tratamento contra o câncer de pulmão e de mama.

Mesmo em baixas concentrações, as substâncias se mostraram muito mais “potentes” que a cisplatina, quimioterápico amplamente empregado no tratamento de diversos tipos de câncer e conhecido pelos seus efeitos colaterais. 

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O trabalho resultou em um artigo que foi publicado recentemente na revista científica internacional Materials Science & Engineering C: Materials for Biological Applications.

TESTES
Segundo o professor do IQ e um dos autores do trabalho, Adelino Vieira de Godoy Netto, com uma concentração 20 vezes aproximadamente menor que a cisplatina, um dos compostos criados pelos cientistas foi capaz de inibir a multiplicação de 50% das células de câncer de pulmão.

“O mesmo composto também conseguiu frear a multiplicação de 50% das células tumorais de câncer de mama com uma concentração aproximadamente 15 vezes menor que o quimioterápico de platina”, explica. 

A partir da avaliação prévia desses resultados, foi possível afirmar que, para alcançar a mesma taxa de inibição da proliferação das células tumorais, as novas substâncias podem ser utilizadas em quantidades bem menores que o fármaco de referência, o que poderá proporcionar um tratamento igualmente eficaz no futuro, mas muito menos agressivo.

COMPOSIÇÃO
As moléculas do IQ levaram cerca de 18 meses para serem desenvolvidas e são constituídas, basicamente, de níquel. No entanto, como esse elemento químico é tóxico quando utilizado de forma livre, os cientistas precisaram modificá-lo.

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A fim de atenuar seus efeitos nocivos, o níquel foi revestido com um composto orgânico chamado tiossemicarbazona, sintetizado a partir de uma substância natural encontrada na canela (cinamaldeído). 

Moléculas de níquel foram revestidas com composto orgânico chamado tiossemicarbazona, sintetizado a partir de uma substância natural encontrada na canela (Foto: Arquivo pessoal/Renan Lira)

 

INOVAÇÃO
De acordo com o também professor do IQ e um dos autores do trabalho, Nailton Monteiro do Nascimento Junior, para que uma substância bioativa chegue até o destino desejado, ela precisa ser transportada pela albumina, uma proteína presente no plasma sanguíneo.

“Quando você ingere um medicamento por via oral, por exemplo, ele é absorvido, cai na corrente sanguínea e é levado para várias partes do corpo. Porém, para que isso ocorra, é preciso haver afinidade entre o princípio ativo e a albumina, que atua como se fosse um carro oferecendo carona para o fármaco chegar até seu alvo”, explica. 

Os pesquisadores ressaltam que a interação de um medicamento com a albumina deve ser equilibrada: nem tão fraca, de forma que comprometa a ligação entre eles, mas também não tão forte a ponto de fazer com que o fármaco “não desça do automóvel” para cumprir sua função.

E, por meio de simulações de programas computacionais (bioinformática), foi possível analisar que as moléculas de níquel criadas no instituto se ligam à albumina de forma ideal e conseguem agir com eficiência nas células tumorais.

VANTAGENS

Uma das vantagens do estudo é que os pesquisadores evidenciaram que os novos compostos são menos danosos às hemácias, células sanguíneas responsáveis pelo transporte de oxigênio.

Além disso, também foi observado que as moléculas são mais seletivas para células tumorais, ou seja, atacam majoritariamente aquelas que estão doentes.

Uma das explicações é que os compostos do IQ atacam por uma outra via, que será investigada nas próximas etapas, enquanto os fármacos à base de platina agem diretamente no DNA das células, atingindo tanto as tumorais quanto as saudáveis.

PRÓXIMOS PASSOS
Nos próximos meses, as moléculas desenvolvidas no IQ começarão a ser testadas em animais e, caso os resultados sejam positivos nesta etapa, a fase seguinte da pesquisa será a de testes clínicos, quando os compostos são aplicados para avaliação em seres humanos.

Com investimento contínuo, os pesquisadores estimam que todas as etapas do trabalho possam ser finalizadas em alguns anos, o que demonstra-se fundamental, já que, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) o Brasil deve registrar por ano, em 2020, 2021 e 2022, cerca de 66 mil novos casos de câncer de mama e 30 mil casos de câncer de pulmão.

O estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O trabalho contou com a colaboração de pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp, em Araraquara, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal de Sergipe (UFS), Universidade Federal do Rio Grande (UFRG), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Técnica de Dresden, da Alemanha, e do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP).

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