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CotidianoRegião de Araraquara vive 'surto' de violência contra mulher

Região de Araraquara vive ‘surto’ de violência contra mulher

Agressões e crime cruel marcaram semana; socióloga e advogada analisam aumento

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Casos de violência chamam a atenção em Araraquara (Foto: ACIdadeON)

“Mulher é esfaqueada após termino de relacionamento em Araraquara”, “Homem que matou ex não mostrou arrependimento”, “Homem persegue ex-namorada e é preso em Araraquara”, “Homem tenta matar a filha com facão na Vila Xavier”, e “Homem é preso em flagrante após estuprar a filha”. 

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Manchetes publicadas no ACidade ON entre abril e junho deste ano escancaram a violência contra as mulheres na cidade e região. São agressões e até mesmo crimes cruéis. 

No último domingo (30), em um quarto de motel na região Sul de Araraquara, um destes crimes chocou a cidade pela crueldade e frieza do agressor. 

O autor do crime, além de ter três filhos menores com a vítima, chegou a tomar banho antes de fugir pulando o muro do motel e não mostrou arrependimento pelo que fez.  

EM CASA COM O INIMIGO
Em tempos de distanciamento social devido a pandemia da covid-19, muitas mulheres se encontram mais tempo dentro de casa com o agressor, longe da rede familiar e amigos. 

Outra face triste da pandemia se revela aqui: o surto da violência doméstica contra a mulher. Dados da Organização Mundial da Saúde ressaltam o aumento de agressões e mortes desde o início da crise sanitária do coronavírus, em março de 2020. 

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“A estatística é horrorosa, precisa ter seriedade e eficácia na proteção das mulheres, para não acordar amanhã com outra mulher morta. É uma pandemia paralela a do coronavírus, com morte de mulheres por violência. Ela existe, está se agravando e não há luz no fim do túnel”, aponta a advogada Carla Missurino. 

A advogada araraquarense é referência e especialista em casos de violência contra mulher na cidade, e está assustada com os altos índices de agressões. Ela cobra mais apoio das redes de proteção e seriedade com a questão. 

“Temos muita conversa, mas isso não salva a vida de ninguém e tem proposta de política pública que nunca sai do papel. Enquanto isso, elas estão morrendo embaixo dos nossos olhos. Alguma coisa é muito ineficaz, não tá dando certo, estão morrendo espancadas, violentadas, estupradas, todos os dias, os filhos pagam por isso quando não são mortos junto”, desabafa.

VIOLÊNCIA EPIDÊMICA X MACHISMO
Para a socióloga Mirlene Simões, a violência contra a mulher é epidêmica e se deve a fatores enraizados em nossa cultura como o machismo e desigualdade nas condições de trabalho entre homens e mulheres. 

“É naturalizado em nossa sociedade que a mulher fique em casa cuidando dos filhos, que não precise de profissão, renda, independência e autonomia. Isso implica em uma série de construções onde o homem entende que é dono da mulher, aí começam todas as violências: verbal, psicológica, e física”, aponta. 

Simões reforça que fatores educacionais e comportamentais precisam ser rompidos para que se supere o machismo e se reverta o histórico de violência contra mulher. 

“Os dados aumentaram por conta dessa atuação restrita dentro de nossas casas, que é onde acontece a maior parte dessa violência. Quando a mulher fica mais em casa num lar já com histórico de violência, o risco é sempre maior”, aponta Simões. 

PRESSÃO SOCIAL
A socióloga reforça que o aumento de situações de violência não deve ser confundido com aumento de denúncias e sim, como um reflexo de toda pressão social vivida dentro dos lares, em confinamento e dependência. 

“Não foi só uma questão de aumento de denúncia, e sim a uma situação de pressão social vivida dentro dos lares por conta da catástrofe humanitária que o Brasil está vivendo. Além do processo todo de crise econômica anterior à pandemia, com condições de trabalho precarizada, principalmente, para as mulheres”, analisa. 

A advogada Carla Missurino comenta que em sua experiência profissional, a maioria das mulheres desiste de fazer denúncias, medidas protetivas ou divórcio por pressão do agressor. Assim, entram no triste ciclo da violência. 

“90% são pressionadas a tirar a medida protetiva, a não denunciar e com falsa ilusão de que o agressor mudou, com promessas que tudo vai ser melhor, e na verdade esse é o famoso ciclo da violência, que é tão importante falarmos e repetirmos”, frisa. 

CICLO DA VIOLÊNCIA
A advogada comenta que o ciclo da violência é clássico e característico na Lei Maria da Penha: primeiro começam as agressões com xingamentos e humilhações. 

“Por exemplo, a mulher é proibida de sair de casa, ou usar determinada roupa, como se fosse um objeto do homem. Já no segundo ciclo, o agressor começa a espancar a mulher, e quando ela ameaça que vai denunciar, ele volta com o chamado ciclo da Lua de Mel”, diz. 

Missurino comenta que muitas mulheres acreditam nas promessas de mudança e arrependimento na “Lua de Mel”, e é onde acabam sendo vítimas de crimes de vingança muitas vezes premeditados. 

“O agressor promete mudanças e arrependimento, mas ele vem com vingança porque as pessoas não mudam assim, e a mulher acredita que vai reabilitar a família e o algoz dela. É onde justamente ela acaba morrendo. Os índices de feminicídio aqui no estado de SP e na região de Araraquara são alarmantes, são índices altíssimos por morte de mulheres por questão de gênero, isso é assustador”, reforça. 

Na visão da socióloga Simões, sair de um relacionamento abusivo não é simples devido a todo um contexto de fragilidade que a mulher se encontra. 

“Temos que pensar na perspectiva que não é tão simples e fácil sair de um relacionamento abusivo, não é da noite para o dia. Há muito medo e temos que pensar na condição fragilizada da mulher e situações onde a ela já rompeu relações de amizade, e muitas vezes não conhece as redes de proteção”, comenta. 

É preciso olhar com muito carinho para essa situação, que se dá em diferentes esferas e formas dentro da mesma casa”, aponta. 

REDES DE PROTEÇÃO
Ter muito diálogo, o apoio dos amigos e familiares é essencial nesse processo de entendimento do ciclo da violência. Além da ajuda de grupos de apoio, redes de proteção e de psicólogos. 

A advogada Carla Missurino enfatiza que a maioria das mulheres que atende não se sente amparada pela lei ou acolhida por redes de proteção no município. 

“Não vejo uma rede de proteção efetiva em Araraquara, a denúncia não está dando certo e não é eficaz na proteção das vitimas de violência doméstica. Eu percebo nos depoimentos que muitas se sentem desamparadas e voltam com o agressor, para a morte dela mesma”, diz. 

Simões lembra que para a rede de proteção à mulher funcionar, a sociedade deve se engajar mais e acolher. 

“Para esse ciclo de violência ser interrompido, toda a rede de proteção pública tem que funcionar e nós enquanto atores sociais agirmos de forma a acolher e dar condições a mulher que ela está vivendo um ciclo de violência e superar isso, porque senão não iremos conseguir superar esses dados absurdos de violência”, conclui. 

PROCURE AJUDA
Delegacia da Mulher
Alameda Rogério Pinto Ferraz 910, Jardim Primavera (16) 3336-4458

Disque-denúncia180

Delegacia Eletrônica
www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br/ssp-de-cidadao/home

Centro de Referência da Mulher
Av.Espanha,532Centro
(16)997620697

Coletivo Bennu

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Walter Strozzi
Walter Strozzihttp://www.acidadeon.com/araraquara
Formado em Jornalismo pela Uniara (Universidade de Araraquara), Walter Strozzi é repórter no acidade on desde 2018. Anteriormente atuou na Tribuna Impressa, Assessoria de Comunicação da Câmara Municipal e CBN Araraquara.
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