Entidades de classe de Araraquara vêm divulgando nos últimos dias seu posicionamento sobre a necessidade de comprovação da vacina da covid-19 em eventos e estabelecimentos comerciais da cidade. A obrigatoriedade do passaporte vacinal seria votada no dia 18 na Câmara Municipal, mas a votação foi adiada.
A União dos Deficientes Físicos de Araraquara (Udefa) divulgou comunicado dizendo que apoia a vacinação de todas as pessoas. “Trazemos em nossa carne, em nosso cotidiano, as deficiências causadas pela ausência de vacinação e do negacionismo endêmico, que a ciência enfrenta desde sempre, por interesses políticos, sociais e religiosos”, diz trecho da nota.
A nota lembra que grande parte dos usuários da Udefa, pessoas com idades entre 40 e 50 anos, utiliza hoje cadeiras de rodas e muletas devido à Poliomelite, que vitimou 3.400 crianças no Brasil em 1975, casos que foram se agravando até 1980.
Ainda segundo a Udefa, muitas vítimas viviam em lugares remotos na infância e não receberam a vacina por desconhecimento dos pais, negligência e negação de gestores de saúde pública.
“O Brasil é considerado uma referência mundial em vacinação e o Sistema Único de Saúde (SUS) é responsável por garantir a vacinação gratuita para a população com as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e autorizadas pela ANVISA. Mesmo assim, muitas pessoas deixam de se vacinar, o que é um desacerto, uma vez que a vacinação é a melhor forma de prevenir doenças potencialmente perigosas que podem levar a óbito e a sequelas graves”, segue a nota.
POPULAÇÃO NEGRA
Os conferencistas municipais da V Pré-Conferência de Igualdade Racial, realizada em Araraquara nesta segunda-feira (24), também emitiram nota apoiando o passaporte da vacina no município.
A nota lembra que, com a “chegada de uma das piores crises sanitárias do mundo, causada pelo coronavírus, o racismo estrutural acentuou ainda mais e consequentemente a população negra, que já vivia em situação de exclusão com falta de recursos básicos, foi violentamente atingida pelo vírus e suas mazelas”.
“Considerando ainda que a população negra é majoritariamente vulnerável às doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, configurando comorbidades suscetíveis ao vírus, o que sistemicamente a atinge pela Pandemia em todos os estágios, apoiamos o passaporte da vacina”, diz outro trecho da nota.
REDUÇÃO DE MORTES
A União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Araraquara (Umesa) também divulgou nota de apoio à apresentação do comprovante vacinal.
“Hoje, mais de 69% da população brasileira está com o esquema vacinal completo, o que garantiu a redução drástica no número de mortes e nos deu a possibilidade de retomarmos aos poucos as atividades presenciais”, inicia a nota.
O texto lembra que atualmente 90% das internações no país são de pessoas que não se vacinaram, o que não deixa dúvidas sobre a importância da vacinação.
“Em Araraquara os números da vacinação são ainda mais expressivos. Hoje 83% da população está com o esquema vacinal completo. Infelizmente a variante Ômicron tem nos colocado em alerta e exige que tomemos novas medidas sanitárias para garantir a segurança de todos. Estudos mostram que o contágio entre pessoas vacinadas é 73% menor do que entre os não vacinados, o que reforça a importância de medidas como a exigência do passaporte de vacinação”, diz outro trecho do comunicado.
Por fim, a Umesa lembra que pesquisas recentes mostram que 81% dos brasileiros apoiam a exigência do passaporte vacinal, e que o passaporte é essencial para diminuir o contágio e garantir avanços na retomada das atividades presenciais.
“Araraquara tem sido espelho no combate à pandemia e precisamos seguir assim, não é o momento de se acovardar e nem de retroceder. Garantir o passaporte da vacinação é garantir a vida”, finaliza a nota da Umesa.
ACIA É CONTRA
No dia 15 de janeiro, a Associação Comercial e Industrial de Araraquara (Acia) divulgou comunicado se colocando contra a “imposição do passaporte da vacina”.
“A Acia vem publicamente posicionar-se contrária ao Projeto de Lei que impõe aos cidadãos e empresários do município de Araraquara severas penalidades e cerceamentos de direitos, visando impor o Passaporte da Vacina. Tal iniciativa extrapola a prerrogativa dos poderes Executivo e Legislativo locais, portanto são inconstitucionais”, inicia o comunicado, assinado por José Janone Júnior, presidente da Acia.
Na nota, ele comenta ainda que “as empresas privadas de Araraquara respeitam e cumprem todos os protocolos sanitários de trabalho seguro, valorizam a vida e estão unidas visando debelar a pandemia de covid-19, porém, não podem estar sujeitas às inúmeras situações de insegurança jurídica e trabalhista, tampouco possuem papel de fiscalização pública”.
“Tais inseguranças gerariam o fechamento ou mudança para municípios vizinhos de centenas de empresas, milhares de demissões de trabalhadores, evasão de consumidores para outras cidades, drástica queda de arrecadação de tributos e empobrecimento da população local”, encerra o comunicado.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
Após a polêmica causada na cidade devido ao projeto de lei enviado pela Prefeitura ao Legislativo, a votação do projeto foi adiada e uma audiência pública foi marcada para o dia 2 de fevereiro, quando o tema será debatido.
A audiência foi chamada pelo vereador Guilherme Bianco (PCdoB), autor do requerimento ao Executivo que deu origem ao Projeto de Lei do passaporte vacinal.