Mensagens e relatos emocionantes de pessoas que venceram a covid-19 na Santa Casa de Araraquara tem motivado profissionais da área da saúde.
A iniciativa de colecionar depoimentos de ex-pacientes foi da terapeuta ocupacional Adriana Argenton e da psicóloga hospitalar Natasha Siqueira.
Elas montaram na unidade respiratória do hospital, o “Mural TBT”, com o objetivo de lembrar aos profissionais da ala que eles já salvaram muitas vidas e com isso motivá-los após tantos meses de trabalho árduo durante a pandemia.
“Nossa ideia com o projeto era servir como incentivo aos profissionais da linha de frente, trazendo por meio de fotos o resultado do bom trabalho”, contou Natasha.
As duas profissionais começaram a entrar com contato com os ex-pacientes para pedir fotos atuais e relatos. As mensagens que retornaram são de gratidão.
“Faz um mês que montamos o mural e tivemos um retorno muito bacana. Muitos profissionais se emocionam, conforme atualizamos a cada semana”, contou Natasha.
“Assim como a gente, que vibra, se emociona a cada contato, a cada foto recebida deles”, completou Adriana.
SUPERAÇÃO E GRATIDÃO
Em um mês, o mural colecionou 15 relatos, um deles, inclusive, do irmão da Natasha que ficou internado no início do ano.
Uma das histórias mais marcantes na memória das profissionais foi a do casal Ailton e Adriana.
“Ele foi um paciente muito grave, com internação prolongada e a esposa tinha uma fé inabalável. Mesmo que o informe não era animador, ela manteve a esperança ate o fim. Foi primeiro paciente que pensamos em convidar”, contou Natasha.
“Eu acho que todos que passam por lá nos toca de alguma maneira, mas a do Ailton me marcou pela fé, pela persistência da esposa”, completou Adriana.
MUITA FÉ
O ferroviária Ailton Nonato da Silva, de 43 anos, foi internado na pior época da pandemia em Araraquara, no início de maio, e ficou 43 dias no hospital, boa parte deles intubado. Católico fervoroso, sua recuperação foi baseada na fé, dele e da esposa, Adriana Catarina Rodrigues da Silva, de 39 anos.
“O caso do Ailton é um verdadeiro milagre. Ele teve duas paradas, um infarto e quatro bactérias, fez hemodiálise, tudo o que acontece dentro de uma UTI ele superou. Foi aquela coisa, joelho no chão e terço na mão, fazia campanha de oração de dia e de madrugada”, contou Adriana que também foi positivada junto com a filha e teve que acompanhar os primeiros dias de internação do marido de casa.
Até passar o período de isolamento e poder ir ao hospital, Adriana contou com os profissionais da Santa Casa para levar um pouco de conforto ao marido.
“Ele internou no domingo e logo na segunda a psicóloga entrou em contato comigo. A gente mandava mensagens diárias e ela colocava para ela ouvir, uma música, uma pregação e depois que ele acordou começaram as chamadas de vídeo. Foi quando a minha sogra, meu sogro e meus filhos conseguiram ver ele. Essa ponte que o hospital tem com as famílias ajuda muito porque a gente não pode ter contato e a psicóloga estando ali fazendo esse contato vai dando a amenizada naquela dor. O suporte dela foi fundamental porque quando você esta passando por um momento assim, você nem sabe o que fazer e ter uma pessoa que te ouve e te acolhe conforta bastante”, afirmou Adriana.
Ela aceitou colocar o seu depoimento no mural porque acredita que a história do seu marido e dela pode servir de inspiração para as pessoas que ainda estão internadas e para os profissionais que trabalham no hospital.
“A minha história é de superação, que a gente não pode desistir, tem que ser persistente e fé acima de tudo. Eu fiquei muito feliz por ela querer compartilhar aminha história para as pessoas que estão vivendo esse vendaval agora não desistir.”
Ailton ainda se recupera dos efeitos deixados pela doença e pela internação, mas sua rotina é pautada pela alegria de estar vivo.
“Eu não lembro de nada do dia 8 [de maio] ao dia que acordei no quarto. Eu via o trabalho das enfermeiras, da psicóloga, do conjunto de médicos, eu não tenho outra palavra que não seja gratidão. É ótimo viver, é maravilhoso. Faz 30 e poucos dias que eu abri novamente meus olhos e eu não reclamo de mais nada. Passar tudo o que eu passei da forma que foi, eu ganhei uma nova vida, eu tenho uma nova data de aniversário que é 21 do mês quatro que foi quando eu tive alta”, afirmou.
Com histórias como a de Ailton, o mural serve de estímulo inclusive para as próprias donas da ideia. “Todo dia quero olhar o mural. Ele fica bem próximo ao local que faço as ligações para as famílias dos pacientes que estão internados atualmente. E realmente serve como inspiração para continuarmos”, conta Natasha.
“É muito gratificante ver o paciente que por muitas vezes já os conhecemos em estado crítico, voltar a sua rotina, a sua família, a sua história. Ver o empenho dos familiares, a fé que eles trazem e a gratidão deles”, afirma Adriana.