Em que pese a superioridade técnica evidente do Corinthians em comparação com a Ferroviária e que se trata do primeiro jogo de 2022, o empate de ontem, por zero a zero, em Itaquera, nos permite verificar o que funcionou ou não na primeira partida da Locomotiva na temporada.
Em campo, o Corinthians apresentou a mesma estrutura da reta final de 2021. O 4-1-4-1 manteve-se como plataforma tática básica. Du Queiroz foi o primeiro jogador do meio-campo, com Renato Augusto e Giuliano mais avançados. Róger Guedes, jogou pela esquerda, mas com liberdade de movimentação, enquanto Willian ocupava o corredor pela direita. Gustavo Mantuan ganhou uma oportunidade no ataque de um time sem Diego Costa, Arthur Cabral ou Cavani.
Já a Ferroviária, que passou por um processo de reformulação em seu elenco para a disputa do estadual, estreou seis novos jogadores, além de Didi e Bruno Mezenga que retornaram ao clube. Taticamente o time alternou entre o 4-2-3-1 e o 4-4-2, com Uillian Correira e Marquinhos como volantes, Murilo Rangel de meia-atacante, Gegê aberto pela direita, Netto pela esquerda e Bruno Mezenga, artilheiro do último Campeonato Paulista, no comando de ataque.
O início da Ferroviária foi promissor. Com jogadas desenvolvidas pelos lados, com Netto e Gegê, a Locomotiva ocupou o campo de ataque e produziu ofensivamente, aproveitando, sobretudo, que os laterais do Corinthians são repetidamente deixados em situações de um-contra-um com os pontas adversários.
Entretanto, no transcorrer da primeira etapa, o Corinthians mudou seu comportamento defensivo, o que transformou o contexto da partida. Ao subir sua marcação e atrapalhar a saída de bola da Ferroviária, o alvinegro praticamente impediu que sua oponente alcançasse o campo de ataque, forçando erros de passe e ligações diretas sem sentido. Nesse momento, faltou um volante com característica para organizar a fase ofensiva desde a defesa.
Além disso, o alvinegro atraia a marcação afeana com o cinismo que um bom ataque exige. Induzindo que a Ferroviária fizesse seu balanço defensivo em direção ao corredor esquerdo do ataque corintiano, a bola sempre acabava no lado oposto, no pé de Willian, que jogou como quem queria destruir os sonhos de infância do lateral-esquerdo João Lucas. Creio que conseguiu.
No segundo tempo, o domínio do Corinthians foi ainda maior. Para além da dificuldade de sair do seu campo de defesa, quando a Ferroviária recuperava a posse de bola, era incapaz de contra-atacar, entregando-a gratuitamente para o Corinthians, provocando uma reação em cadeia que tinha como resultante um aumento progressivo do volume ofensivo corintiano.
Em números, segundo o Sofascore, o Corinthians finalizou ao todo 23 vezes, com 14 chutes dentro da área. Na segunda etapa, foram 15 finalizações, oito delas na grande área. A atuação de um sistema defensivo também é avaliada pelos espaços cedidos para seu adversário concluir. Nenhuma defesa que sofre 14 finalizações dentro de sua própria área pode ser considerada um destaque positivo.
Contra o Palmeiras, o Novorizontino, derrotado por 2 a 0, permitiu que o alviverde finalizasse dentro de sua área em seis oportunidades.
Por fim, foi durante a segunda etapa que Paulinho se reapresentou para a torcida. Quando o time estava com a bola, ao lado de Giuliano, Paulinho se tornava o jogador que mais oferecia profundidade ao ataque corintiano, pisando na área para concluir as jogadas. Em trinta minutos, Paulinho arrematou seis vezes no gol defendido por Saulo que, definitivamente, foi melhor jogador da peleja.
Com isso, é necessário diferenciar resultado e desempenho.
Empatar fora de casa contra uma das melhores equipes do Brasil, na estreia de um dos estaduais mais difíceis do país, sempre será bom. Ver mais de 20 bolas chutadas contra a sua meta, errar sistematicamente a saída de bola e ser incapaz de contra-atacar, indica qual é a rota da evolução afeana.