RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Petrobras recebe nesta sexta-feira (15) uma segunda rodada de lances para a seleção da empresa que vai explorar o bilionário polo Urucu, no estado do Amazonas, a maior reserva de gás natural do Brasil. A primeira etapa foi cancelada pela estatal após o vencedor, 3R Petroleum, apresentar demandas consideradas inviáveis pela estatal.
Ela fez um lance de US$ 1,1 bilhão, equivalente a R$ 5,7 bilhões. Esse valor superou em US$ 500 milhões a oferta da concorrente que ficou em segundo lugar, a Eneva.
Não é de hoje que a 3R Petroleum apresenta problemas após leilões no setor de óleo e gás e, ainda, retorna às disputas. O histórico é peculiar.
Recentemente, foi um de seus acionistas que ganhou projeção, o fundo Starboard. Esse fundo é acionista majoritário da Gemini, empresa responsável pela subestação que entrou em pane e deixou o Amapá sem luz por 21 dias no final do ano passado.
A Starboard é gestora de dois fundos que detêm 45,9% de participação da 3R Petroleum.
Ao oferecer os R$ 5,7 bilhões pelo polo de Urucu, a 3R Petroleum não teria feito o depósito de garantias exigidas porque a proposta estava condicionada a alterações no contrato pré-existente para transmissão de gás na região, o que foi considerado inviável. Por isso, a Petrobras decidiu abrir uma segunda rodada de ofertas.
Segundo apurou a reportagem, a percepção de quem acompanhou as discussões foi que a empresa não teria condições de apresentar garantias capazes de assegurar seu lance e teria apresentado a outra demanda como desculpa. Diante do impasse, a pimeira etapa foi cancelada, sendo remarcada para essa sexta-feira.
Segundo colocado nessa disputa, a Eneva já comprou Azulão e Juruá, também no Amazonas. Tanto a 3R Petroleum quanto a Eneva foram convidadas pela própria Petrobras para participarem da segunda licitação de Urucu.
A exploração dessa reserva é considerada estratégica para minimizar problema de abastecimento de energia na região Norte do país. O Amazonas é hoje um dos maiores produtores de gás no país, mas vem enfrentando queda intensa em suas reservas.
Faz um tempo que 3R Petroleum apresenta problemas em leilões.
Em 2017, ela foi desclassificada de uma licitação pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Segundo a agência, ela não conseguiu apresentar todos os documentos previstos no edital.
Em novembro de 2018, foi anunciada vencedora em uma outra disputa da Petrobras. Levou os campos do Polo Riacho da Forquilha, na Bacia Potiguar, no entorno da cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Porém, foi desclassificada por insuficiência financeira.
Com o fracasso da operação, em abril 2019, a Petrobras teve que fechar com a segunda proponente, a PetroRecôncavo, a venda dos 34 campos terrestres por US$ 384,2 milhões, valor US$ 68 milhões menor do que o ofertado pela 3R Petroleum.
Ainda assim, em agosto de 2019, a 3R voltou com força para as concorrências. Levou, por US$ 191,1 milhões, o Polo Macau. Em julho de 2020, fechou participação no Polo Pescada-Arabaiana. Também levou, em 2020, os campos de Fazenda Belém e Icapuí. Depois, na Bahia, adquiriu 14 campos terrestres na Bacia do Recôncavo por US$ 250 milhões – onde, segundo a Petrobras, a empresa pagou US$ 10 milhões até o momento.
Apesar do histórico, conseguiu aproveitar o boom da Bolsa brasileira no ano passado. Abriu o capital em novembro de 2020. Com a operação, levantou R$ 690 milhões. Pela proposta apresentada aos investidores, os recursos bancariam uma estratégia de crescimento baseada numa melhor exploração dos chamados campos de petróleo maduros, fontes em fase de declínio após atingirem o pico de produção.
Quando se preparava para abrir o capital, as demonstrações de resultado da empresa chamaram a atenção da área técnica CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o órgão que funciona como regulador do mercado de capitais. Para os técnicos, a empresa poderia não ter musculatura para sustentar operações bilionárias. O conselho da CVM, que tem a palavra final, não endossou a avaliação.
No terceiro trimestre de 2020, pouco antes da operação na Bolsa, a empresa apresentou um prejuízo líquido de R$ 50,4 milhões.
Segundo registro da Junta Comercial do Rio de Janeiro, antes de ingressar no mercado de petróleo e gás, a inscrição da 3R Petroleum representava a JV Tropical Fashion Artigos do Vestuário e era especialista em confecção e comércio varejista de roupas e artigos. Inicialmente, foi registrada como SJV Joias e Bijuterias.
Apenas em 2014, o nome foi alterado para a 3R Petroleum, em documento assinado pelo empresário Ricardo Savini. Antes de ir para a iniciativa privada. Savini fez carreira na Petrobras. Foi funcionário da estatal por 20 anos.
Nesse mesmo ano, Savini ocupava a diretoria da Georadar, grupo que posteriormente foi impedido de fechar contrato com a petroleira por ser considerado inidôneo. A empresa colecionou centenas de processos na Justiça, com pedidos de falência e condenações, inclusive em ações abertas pela própria estatal.
OUTRO LADO
Embora ainda figure como presidente da Georadar na Receita Federal, o empresário disse à reportagem que não é mais executivo da companhia.
Apesar das relações documentais, afirmou que nenhum acionista da empresa faz parte da 3R e que nunca existiu algum vínculo entre ambas. Além disso, apontou que não pode falar sobre a Georadar, mas que o grupo sofreu com a crise econômica entre 2014 – mesmo ano da mudança de nome da 3R Petroleum – e 2017, com dívidas trabalhistas.
O empresário diz que a 3R Petroleum cumpriu tudo o que foi solicitado pela Petrobras no que tange aos critérios financeiros para participação da concorrência. Porém, afirmou não poder comentar o processo ativo e competitivo de venda do Polo de Urucu.
Sobre o fato de ter registrado prejuízo no terceiro trimestre de 2020, Savini afirmou ser normal, pois a empresa só passou a ser operacional em maio.
Segundo ele, o valor de mercado da 3R Petroleum atualmente é de R$ 4 bilhões. Savini disse ainda que a empresa pretende realizar estruturações financeiras adequadas para fazer frente a novas aquisições. Além disso, o empresário destacou que a Starboard é um acionista relevante, mas não é controlador da 3R Petroleum após a abertura de capital.
Savini atribuiu o imbróglio na disputa por Riacho da Forquilha à decisão da Justiça do Trabalho do Rio Grande do Norte, que impediu a Petrobras de assinar o contrato de compra e venda. Durante o processo, houve desistência do sócio financeiro da empresa à época, sem que tenha ocorrido insuficiência financeira, segundo ele.
Assim como Savini, a Starboard afirmou que não é controladora da 3R Petroleum, mas sim gestora de fundos que detêm 45,9% de participação na companhia. Em nota, o fundo ressaltou “que eventuais investimentos realizados na aquisição de ativos serão feitos pela própria 3R Petroleum e não pela Starboard”.
Sobre a Gemini Energy, controladora da Linhas de Macapá Transmissora de Energia, a Starboard afirmou ser gestora de fundos que investem na Gemini. “As companhias 3R e Gemini, e os FIPs geridos pela Starboard, são negócios diferentes e legalmente segregados, inclusive na composição acionária”, diz a nota.
Na nota, a Starboard diz ainda que “desde que começou a gerir a LMTE, em dezembro de 2019, a Gemini Energy após sua troca de controle, realizou investimentos relevantes nos ativos, na revisão de processos, instalações e métodos de trabalho, com governança e o objetivo de aprimorar a eficiência e a qualidade do serviço prestado, cumprindo os requisitos regulatórios do setor de transmissão de energia”.
Em relação ao acidente na subestação Macapá, ocorrido no dia 3 de novembro, acrescentou “a companhia trabalhou ininterruptamente para restabelecer o que lhe cabe como concessionária transmissora de energia e, sem poupar recursos financeiros ou humanos, conseguiu retomar a transmissão no Amapá em um menor prazo possível”.
Já a Petrobras afirmou que a sistemática de desinvestimento adotada pela companhia prevê minuciosa avaliação de integridade e capacidade financeira das empresas que apresentam ofertas por seus ativos.
A empresa acrescentou que os US$ 240 milhões restantes do Polo Recôncavo serão pagos no fechamento da transação, que está sujeita ao cumprimento de condições precedentes, tais como a aprovação pela ANP.
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3R Petroleum volta à licitação de Urucu após ganhar e não levar maior reserva bilionária de gás
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