BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio à escalada persistente dos preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central considerou elevar ainda mais a taxa básica de juros na reunião da última quarta-feira (16), mas decidiu manter o ritmo e anunciou alta de 0,75 ponto percentual.
Na ocasião, a Selic foi a 4,25% ao ano, conforme sinalizado em maio.
“Frente à revisão da trajetória de política monetária implícita nas suas projeções, o Comitê avaliou uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários [elevação de juros] já nesta reunião. Considerando os diversos cenários alternativos, o Comitê entendeu que a melhor estratégia seria a manutenção do atual ritmo de redução de estímulos, mas destacando a possibilidade de ajuste mais tempestivo na próxima reunião”, disse ata da reunião divulgada nesta terça-feira (22).
O Comitê indicou nova alta na mesma magnitude para a próxima reunião, em agosto, para 5,00%. O texto, contudo, não descartou uma elevação ainda maior caso as expectativas do mercado para a inflação –especialmente de 2022– continuem subindo.
A avaliação do mercado é que o BC abriu caminho para uma elevação de 1 ponto percentual na próxima reunião caso o cenário se deteriore.
A autoridade monetária justificou que decidiu seguir o que havia sinalizado na reunião anterior para acumular informações sobre os próximos dados e as expectativas para a inflação.
Além disso, o BC esclareceu que o cenário pode mudar entre uma reunião e outra e a sinalização sobre os próximos passos do Copom pode ser revista.
“O compromisso inequívoco do Banco Central é com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e os passos futuros da política monetária são livremente ajustados com esse objetivo, conforme novas informações se tornam disponíveis. Desse modo, indicações sobre a trajetória futura dos juros, sejam para a próxima reunião ou para o patamar final, são elementos úteis para a compreensão da função de reação da política monetária”, afirmou o texto.
“As informações obtidas no período entre as reuniões do Copom modificam as hipóteses presentes no cenário básico e no balanço de risco, e naturalmente alteram a trajetória futura dos juros”, completou.
O Comitê ponderou que, apesar da evolução recente mais positiva, os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções de inflação.
“Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária menos estimulativa do que a utilizada no cenário básico”, destacou.
De acordo com o documento, o Copom considerou diferentes trajetórias para a taxa de juros. “O Comitê observou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções em torno da meta de inflação no horizonte relevante”.
Isso significa que o BC deve levar a taxa básica até o nível considerado neutro, que não estimula nem contrai a economia. Nas reuniões passadas, a avaliação era que a atividade ainda precisava de estímulo e que esse ajuste seria parcial, ou seja, abaixo da taxa neutra.
Atualmente, a taxa de juros neutra gira em torno de 6,5%.
“Sendo assim, tornou-se apropriada a normalização da taxa de juros para esse patamar. O Comitê decidiu comunicar essa decisão, mantendo a transparência sobre a trajetória de política monetária implícita nas suas projeções e reafirmando que essa visão será sistematicamente reavaliada conforme ocorrem mudanças nos determinantes de inflação ou no balanço de riscos”, disse a ata.
Sobre a atividade econômica brasileira, o BC espera “uma retomada robusta da atividade” no segundo semestre com o avanço da vacinação.
” Os membros do Copom discutiram a evolução da atividade econômica doméstica à luz dos indicadores e informações disponíveis. Consideraram que, a despeito da intensidade da segunda onda da pandemia, os últimos dados disponíveis continuam surpreendendo positivamente”, trouxe o documento.
Com a recuperação da atividade e as revisões nas expectativas do mercado para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2021, o Copom avaliou que os “riscos baixistas para a inflação” se reduziram significativamente.
Quando a atividade está fraca, a inflação é puxada para baixo porque o consumo cai.
Para os membros do Copom, o nível de ociosidade da economia deve retornar rapidamente ao nível do fim de 2019, mas ainda com efeitos diferentes entre os setores “com consequências para a dinâmica recente e prospectiva da inflação”.
“O Copom avalia que os dados de atividade e do mercado de trabalho formal sugerem que a ociosidade da economia como um todo se reduziu mais rapidamente que o previsto, apesar do aumento da taxa de desemprego”, ressaltou o texto.
A ociosidade da economia indica o nível de produção em relação à capacidade do setor real. Se a ociosidade é elevada, a economia ainda pode produzir mais com a estrutura atual. Quando ela diminui, indica que a produção está próxima da potência máxima.
O mercado de trabalho é um indicador importante para medir a ociosidade da atividade.
No setor externo, os membros do Copom discutiram sobre os riscos da inflação em países desenvolvidos para os emergentes.
“Para o Comitê, novas discussões sobre o risco de um aumento duradouro da inflação nos Estados Unidos podem tornar o ambiente para as economias emergentes desafiador”, afirmou o texto.
Segundo o Copom, a inflação de bens comercializáveis no Brasil foi superior à observada em outros emergentes, mas esse movimento pode se inverter no futuro, criando “um novo risco baixista para a inflação”.
“O recente aumento do peso de itens comercializáveis no índice de inflação aumentaria a relevância desse evento”, completou.