O Banco Central (BC) afirmou nesta terça-feira, 9, que o apetite a risco elevado de instituições financeiras acelerou o crédito às famílias no segundo semestre de 2021, embora sem aumento do ativo problemático na carteira. ‘No geral, o porcentual de APs manteve-se estável, mas o BC está atento à elevação do apetite ao risco’, alertou. A avaliação consta no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) relativo ao período, que deveria ter sido divulgado em abril, mas foi postergado em meio à greve dos servidores do BC.
A atenção à elevação do apetite a risco se justifica, segundo o regulador do sistema financeiro, porque o montante de ativos problemáticos (APs) da linha de financiamento habitacional com recursos do FGTS e do financiamento de veículos cresceu acima do aumento dessas carteiras no segundo semestre do ano passado.
‘Além disso, a escassez de renda disponível para o pagamento de dívidas e uma eventual frustração do desempenho da atividade econômica podem elevar o risco nos próximos meses’, disse, de maneira defasada, já que a atividade econômica tem surpreendido este ano.
O BC também destacou que, dentre as modalidades com maiores risco e retorno no crédito a famílias, destacaram-se na segunda metade de 2021 o crescimento do crédito não consignado e do cartão de crédito, com o aumento das operações rotativas. Além disso, nas demais modalidades, houve crescimento elevado do crédito rural, ‘em linha com o quadro geral da atividade agrícola no país’.
Conforme o BC, as instituições financeiras aumentaram o apetite a risco, sobretudo no crédito não consignado e no financiamento de veículos, com a oferta reduzida de automóveis novos aprofundando a tendência de financiamento a veículos com mais de três anos de uso e houve elevação do prazo médio de financiamento. ‘O crédito não consignado cresceu mais em operações com histórico de maior materialização de risco, sem garantia ou com garantia fidejussória.’
Inadimplência
O Relatório de Estabilidade Financeira do 2º semestre de 2021 também avalia que a rentabilidade do sistema bancário deve evoluir de forma moderada nos próximos períodos, após a rápida recuperação do ano passado. O documento alerta que a perspectiva de alta moderada na inadimplência e a migração das carteiras para um mix de maior risco podem elevar o nível de ativos problemáticos em 2022.
‘O retorno sobre o patrimônio líquido voltou a níveis pré-pandemia. O crescimento da margem de juros, a redução das despesas com provisões e ganhos de eficiência explicam a melhora dos resultados em 2021’, destacou o BC.
Apesar da margem de crédito ser pressionada pela alta dos juros, o Banco Central estima que ela deve se beneficiar do mix de crédito mais rentável e da concessão de crédito a taxas mais altas. ‘O aperto monetário iniciado em março de 2021 ajustou mais rapidamente o custo de captação em relação ao retorno do crédito, o que pressionou a margem de crédito. Não obstante, a migração da carteira para perfis de maior retorno e risco deve continuar em 2022 e favorecer o retorno do crédito’, argumentou o documento.
Liquidez
O Banco Central afirmou que os bancos reduziram o colchão de liquidez que foi formado em 2020, mas que permanecem com níveis adequados ao regular funcionamento de intermediação financeira. ‘A gestão do risco de liquidez dos bancos tem sido saudável. Os bancos que mantiveram liquidez de curto prazo muito elevada no primeiro ano da pandemia foram os que mais reduziram ativos líquidos em 2021’, avaliou o BC, no REF agora divulgado. ‘Em geral, os bancos foram direcionando ativos líquidos para concessão de crédito à medida que as incertezas relacionadas à pandemia foram se reduzindo’, explicou o regulador.
Segundo a autarquia, no segundo semestre de 2021, parte dos investidores aumentou o apetite ao risco e trocou liquidez e baixa remuneração por aplicações longas e mais rentáveis.
‘Com isso, a caderneta de poupança perdeu atratividade, e as captações de longo prazo aumentaram sua proporção no total de captações no segundo semestre de 2021’, destacou o BC, ponderando que a última pesquisa foi realizada em fevereiro de 2022, antes da eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia.