Em meio à incerteza sobre o ritmo de aumento de juros nos Estados Unidos, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, considerou nesta quinta-feira, 7, que os movimentos do Federal Reserve devem levar em conta o risco de estresse nos mercados em caso de um excesso de dosagem na elevação dos Fed Funds.
“Se os Estados Unidos fizerem demais, há um custo extra de gerar desorganização dos mercados”, comentou o presidente do BC ao participar de live da Legend Investimentos.
O presidente do BC citou observações de analistas de que os Estados Unidos, um país que se acostumou a ter inflação baixa, terá que subir os juros a patamar restritivo caso a alta dos preços se mostre mais persistente. Hoje, a dúvida é se o Fed vai aumentar o ritmo de alta dos juros de 0,25 ponto porcentual para 0,5 ponto. Porém, segundo observou Campos Neto, ainda que a inflação nos Estados Unidos indique mais um descolamento de alta nos próximos doze meses, as expectativas aos preços no longo prazo estão ancoradas na maior economia do mundo.
Em sua participação na live desta quinta-feira, Campos Neto pontuou que o mercado, cuja expectativa até pouco tempo atrás era de movimento mais suave dos juros, vê agora os bancos centrais dos países ricos levando as taxas para o patamar neutro, um limiar já ultrapassado por países emergentes, entre eles o Brasil.
Segundo ele, países com “maior memória inflacionária”, que estão levando os juros a terreno contracionista, fazem os bancos centrais terem mais medo de ficar atrás da curva, dado o risco de perderem controle das expectativas inflacionárias.
O presidente do Banco Central voltou a destacar que o Brasil tem recebido entrada “bastante razoável” de dólares, mas o fluxo, na avaliação dele, não se deve apenas ao diferencial da Selic com as taxas de economias de menor risco. Há também, como pano de fundo, uma melhora de resultados fiscais que tem permitido ao câmbio voltar a se correlacionar com as cotações das commodities.
“O Brasil tem a moeda que mais performou em 2022”, declarou Campos Neto, atribuindo a apreciação do real também à percepção dos investidores a respeito do trabalho do BC – ou seja, o entendimento de que o instrumento monetário continuará sendo usado para conter a inflação -, além dos investimentos direcionados a empresas mais adaptadas a contextos inflacionários.
Ao se referir à melhora dos resultados fiscais, uma variável não controlada pela política monetária, mas que influencia seus movimentos, Campos Neto lembrou que as curvas de juros têm mostrado queda no longo prazo.
O presidente do Banco Central fez ainda comentários sobre as tendências das cadeias globais de produção após a explosão da guerra na Ucrânia. Para ele, oportunidades podem ser abertas ao Brasil, que, com suas vantagens competitivas, poderá se beneficiar de um mundo de alta no custo da energia.
Conforme Campos Neto, ao mesmo tempo em que o choque de oferta teve proporções maiores do que se imaginava, sobretudo na Europa, o conflito no leste europeu pode levar o Ocidente a buscar menor dependência de países com altos riscos geopolíticos. Esse distanciamento, se acontecer, culminaria na formação de novos blocos comerciais, projetou. “Há grande oportunidade para o Brasil. O mundo ocidental precisa de energia barata … O Brasil pode participar da cadeia global de valor de forma diferente”, avaliou o presidente do BC.