Com a Selic ainda mais alta, a 13,75%, em um contexto de incerteza a dois meses das eleições, analistas de investimento reforçam a recomendação para investimentos mais conservadores. Para investidores que querem escapar de perdas diante da inflação sem correr maiores riscos, a renda fixa continua sendo aposta. A preferência pela liquidez (de poder resgatar o dinheiro em prazos não longos) também está entre as recomendações.
Especialmente para iniciantes, ser conservador é o nome do jogo, afirma Bruno Di Giacomo, da Nero Capital, que sugere títulos públicos pós-fixados, Tesouro e CDBs indexados ao CDI, por exemplo. Em sua opinião, “não é o momento de correr riscos, e o investidor vai ser bem remunerado sendo conservador”. Mesmo para investidores experientes, aconselha-se a prudência. Giacomo acredita que, apesar das oportunidades com os juros altos, não é momento de modificações arrojadas na carteira de quem já é investidor há mais tempo, mas de capturar boas oportunidades relativamente conservadoras.
Para os que já investem, diz Christopher Galvão, analista da Nord Research, é bom ter uma boa carteira com liquidez diante das incertezas da situação fiscal do País e da política econômica que será adotada nos próximos quatro anos. “Ter uma boa parcela da carteira com liquidez é importante pois, à medida que as eleições forem concluídas e as pessoas terem mais ciência de como vai ser o comportamento em relação a situação fiscal, podem aparecer melhores oportunidades no caminho”, diz.
Para quem quer tirar proveito desse ciclo em que as taxas devem se manter em dois dígitos até o fim de 2023, também são opções, embora com maior risco, fundos multimercados, Certificados de Operações Estruturadas (COEs) e ações na Bolsa, mas com muito cuidado. A melhor estratégia é diversificar.
Juros mais altos na renda significam que os investidores podem escolher investimentos de menor risco com retornos melhores do que em momentos de juros baixos, observa José Falcão, líder da área de análise de investimentos do Nubank. Ele lembra que os investimentos pós-fixados, como os CDBs, têm retorno mais interessante pensando no curto prazo, de um a dois anos, já que a Selic deve ficar ainda na casa dos dois dígitos durante esse período.
Entre suas recomendações estão títulos pós-fixados e atrelados à inflação. “Usando como base o Tesouro Selic 2025, a expectativa é de que o investidor tenha um retorno bruto aproximado de 12,5% ao ano, mas pode ser maior se ele topar correr o risco da renda fixa privada onde há taxas de 115%, por exemplo, para o mesmo vencimento”, fiz Falcão.
Poupança
Educador financeiro do C6 Bank, Liao Yu Chieh exemplifica que, com esse patamar de juro, ao aplicar R$ 5 mil em Tesouro Selic ou em um CDB que rende 100% do CDI, mesmo após descontar a alíquota de 17,5% do Imposto de Renda e considerando a expectativa de mercado para os juros futuros no período, de 13,7% ao ano, o valor líquido a ser resgatado seria de R$ 5,56 mil. Na caderneta de poupança, o valor seria de R$ 5,41 mil, ou seja, uma diferença de aproximadamente R$ 150 em 12 meses (ver quadro).
Nas aplicações indexadas ao CDI – que acompanha o juro básico -, as alternativas, além dos CDBs, são fundos DI, Tesouro Selic e LCIs e LCAs, títulos ou fundos e previdência. “São alternativas que estão com prêmio em relação aos títulos públicos e, em alguns casos, são isentas de IR para pessoa física”, reforça Arley Junior, estrategista de investimentos do Santander.
Outra opção de diversificação para investidores que não desejam oscilações são os COEs. Há alternativas que acompanham diferentes índices, como dólar, Ibovespa, IPCA e S&P. De acordo com Arley Junior, “todos contam com capital garantido, ou seja, se o cliente levar o investimento até o vencimento, terá a proteção do valor investido e, em alguns casos, há ainda uma rentabilidade mínima garantida, onde o investidor ganha o que for maior, entre o desempenho do índice ou uma taxa prefixada”.
Cenário de risco
A renda variável também pode oferecer oportunidades interessantes, mas, com o cenário de incerteza e a proximidade das eleições, pode haver volatilidade nas ações de empresas ao longo dos próximos meses, alertam os especialistas. A Bolsa, por exemplo, está atrativa, mas, na análise de Giacomo, há produtos não indicados no momento. Ele, por exemplo, fugiria de fundos imobiliários e de ações.
O gestor da Inter Asset, Marcelo Mattos, recomenda a diversificação das aplicações, mas fazer uma carteira pensando no longo prazo. Ele ressalta que os preços dos ativos no Brasil já precificam juros altos pelo menos até o fim de 2023. “O melhor é compor uma carteira para ficar posicionado para o médio prazo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.