Em evento com empresários paranaenses, o diretor de Regulação do Banco Central, Otavio Damaso, argumentou que a pressão inflacionária no País tem componente internacional, iniciado com a pandemia de covid-19 e agora amplificado pela guerra na Ucrânia. “Guerra traz novo componente de pressão inflacionária em emergentes e avançados”, disse, no IV Fórum de Gestão Pública, promovido pela Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), que contou com acompanhamento do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) em Curitiba (PR). “A inflação tem componente global. Há inflação no mundo, que não escolhe se é emergente ou avançado”, completou, citando a inflação norte-americana rodando em torno de 7% a 8% ao ano.
Ao mostrar as expectativas de inflação no Brasil, Damaso citou que, em 2022, está afetada principalmente por fatores externos. “Nos próximos anos, expectativas estão girando ao redor das metas”, reforçou, destacando o trabalho do Banco Central na política monetária desde 2021.
Damaso lembrou que a pandemia de covid-19 iniciou um debate sobre reorganização de cadeias globais de valor após os problemas causados por falta de insumos, o que aumentou com a guerra, que escancarou a dependência da Europa das fontes energéticas russas.
Essa reorganização, que pode aumentar a produção própria de países dos insumos necessários, ou provocar um movimento de busca em países mais próximos, segundo Damaso, pode aumentar as pressões inflacionárias. “Há discussão de potencial redundância na produção e suprimento de insumos. Muitas empresas estão repensando dependência de fornecedor único. Fricções em globalização podem trazer novo componente inflacionário. Há debate geopolítico se reorganização de cadeias globais vai dividir mundo em blocos.”
O diretor do BC ainda repetiu que a transição energética tem um custo e que aumentou muito com a guerra na Ucrânia. Ele destacou que, com o conflito no Leste Europeu, países precisaram recorrer a fontes de energia que não são verdes no curto prazo, mas tendem a buscar diversificar essas fontes no médio e longo prazo.
Interesse estrangeiro no Brasil
Damaso repetiu também que há aumento significativo do interesse de investidores estrangeiros no mercado brasileiro em 2022, que é observado de forma mais evidente na entrada desses recursos externos na Bolsa. Reforçou que um dos motivos é uma realocação de portfólios globais que ocorre atualmente.
Ele citou saída de recursos de países mais ligados à guerra na Ucrânia, mas também citou, sem dar detalhes, que há uma discussão sobre a China. “Há discussão de realocação de portfólios globais, inclusive em relação à China”, afirmou.
O diretor do BC ainda destacou no evento que houve recuperação das expectativas de mercado para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País mais recentemente.
Marco cambial
Damaso deu destaque para a nova legislação cambial, aprovada pelo Congresso no fim do ano passado e que deve ser regulamentada pelo BC este ano. Em meio ao movimento dos servidores do BC, que anunciaram greve a partir da sexta-feira, 1º de abril, ele repetiu que as consultas públicas sobre a modernização da legislação cambial devem ser publicadas em abril, prazo esperado pelo mercado. “Provavelmente em abril vamos publicar consultas públicas.”
A nova lei cambial é considerada pela autarquia uma revolução no setor, uma vez que simplifica e reorganiza o arcabouço, cujas normas eram quase centenárias.
Para o BC, a agenda também abre caminho para conversibilidade do real. “Faz parte da agenda do BC maior conversibilidade do real”, disse, destacando que isso seria relevante para região Sul, dada as relações próximas com países vizinhos.
Damaso ainda argumentou que as iniciativas do BC com o Pix e o Open Finance quebram eventuais monopólios de bigtechs. “Não permite concentração”, afirmou. “Sonho de todas as bigtechs é dominar os dados gerados em compra, pagamento e mensagens”, explicou.
O diretor de Regulação do BC também afirmou que a agenda ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) da autarquia é antes de tudo uma agenda prudencial devido aos riscos de crédito associados. Mas também é uma oportunidade para o sistema financeiro, já que a transição para a economia verde vai demandar muitos investimentos das empresas.