SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Caixa Econômica Federal reportou, nesta quinta-feira (19), um lucro de R$ 6,3 bilhões no segundo trimestre deste ano. O valor representa uma alta de 144,7% frente ao mesmo período do ano anterior e é o maior resultado para um segundo trimestre da história do banco estatal.
Em relação aos três meses imediatamente anteriores, o resultado cresceu 36,6%. No primeiro semestre, o lucro totalizou R$ 10,8 bilhões, aumento de 93,4% em relação a igual período de 2020.
O desempenho do segundo trimestre foi resultado de uma melhora das margens financeiras e do crescimento da carteira de crédito, além de uma redução nas despesas com reservas para cobrir eventuais calotes.
A carteira de crédito total do banco somou R$ 816,3 bilhões no final de junho, crescimento de 13,4% na comparação ano a ano. Tal performance foi influenciada pelo avanço da carteira comercial para pessoas jurídicas, que subiu 61,1% em 12 meses, para R$ 73,6 bilhões impulsionada principalmente para os empréstimos feitos às micro e pequenas empresas.
O crédito para habitação, principal fonte de receita da Caixa, subiu 9,2% no período, totalizando R$ 529,5 bilhões. A carteira voltada para o agronegócio subiu 45,7%, para R$ 10,2 bilhões, enquanto a carteira comercial para pessoas físicas atingiu R$ 96,7 bilhões, avanço de 18,5%. Os empréstimos voltados para infraestrutura tiveram alta de 6,6% na comparação ano a ano, para R$ 91,3 bilhões.
Relatório divulgado pelo banco nesta quinta aponta também foram concedidos R$ 100,7 bilhões em crédito para a população brasileira no segundo trimestre, acréscimo de 4,8% em relação a igual intervalo de 2020.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou nesta quinta-feira (19) que o resultado do banco deveria estar entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões no trimestre. A diferença das cifras reflete a redução da remuneração do FGTS, que é de responsabilidade do banco estatal.
Segundo Guimarães, a redução da taxa de administração, que foi de 1% para 0,47%, teve um impacto de quase R$ 3 bilhões no lucro líquido da Caixa, já que o banco não paga imposto em cima desta receita específica.
Outro ponto levantado pelo presidente da Caixa que impacta no resultado seria a necessidade de provisionar perdas econômicas por problemas advindos de gestões passadas, entre 2009 e 2015.
“Temos mais de R$ 46 bilhões de perdas econômicas geradas no passado, todas investigadas pelo Ministério Público e pela polícia federal. Houve mais de R$ 5 bilhões em provisões que não haviam sido feitas, em especial para empresas que acabaram indo para recuperação judicial”, disse Guimarães em entrevista a jornalistas nesta quinta.
As despesas com provisões totalizaram R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre, uma queda de 8,1% em relação a igual período de 2020. Em relação aos três meses anteriores, o número corresponde a um avanço de 1,7%.
A inadimplência acima de 90 dias do banco ficou em 2,46% em junho deste ano uma queda de 0,02 p.p. (ponto percentual) em relação a igual período de 2020, mas uma alta de 0,42 p.p. em comparação aos três meses anteriores.
A margem financeira alcançou R$ 11,1 bilhões, alta de 19,7% . “O crescimento [da margem financeira] é decorrente do aumento de 8,2% nas receitas com operações de crédito e da redução de 10% nas despesas de recursos de clientes, principalmente”, afirmou o banco em relatório.
O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido) do banco, aumentou 2,68 p.p., para 19,01%. O índice de Basileia ficou em 20,1% e o de capital de nível 1 em 15,6%.
Em relação aos desinvestimentos que o banco tem feito, o presidente da Caixa afirmou que pretende fechar a CaixaPar braço de participações do banco estatal.
“Basicamente todos os investimentos da CaixaPar deram problemas. Nós já terminamos diversas operações com outros parceiros que eram uma máquina de prejuízo. O tempo inteiro nós fomos focados em resolver problemas do passado e vender todos os ativos”, afirmou Guimarães.
“Vamos fechar a CaixaPar porque não há sentido a Caixa ter uma empresa de participações. A Caixa é o banco dos pobres, de todos os brasileiros, do auxílio emergencial, da micro e pequena empresa e do Casa Verde Amarela. Mas certamente não é [o banco] do patrocínio de clube de futebol e nem de ficar fazendo empresa sem ter uma participação transparente na escolha dos sócios”, completou.
O banco somou mais de R$ 5 bilhões em desinvestimentos até junho.
Sobre os planos de abertura de capital, Guimarães afirmou que o foco do banco está em fazer o IPO (oferta pública inicial de ações) da sua gestora, Caixa Asset, e da Elo bandeira de cartões que tem a Caixa, o Banco do Brasil e o Bradesco como acionistas até o começo do ano que vem.
“A Asset é a mais madura entre as holdings porque estamos crescendo fortemente. O crescimento de previdência da [Caixa] Seguridade é mais um motivo de crescimento da Asset, bem como a migração dos fundos e a abertura de agências”, afirmou.
Segundo o executivo, a empresa está estruturada, mas ainda aguarda a aprovação do Banco Central para atuar. Depois disso a Caixa precisará migrar todos os fundos de investimentos líquidos para a companhia o que levaria cerca de 20 dias, e a Asset precisará de pelo menos um trimestre em operação para serem apresentados em um balanço de resultados.
Sobre a Elo, Guimarães afirmou que as negociações entre os três sócios estão avançadas, bem como a discussão para uma decisão se a abertura de capital da bandeira será feita no Brasil ou nos Estados Unidos. Os planos de IPO para a Caixa Cartões, braço de meios de pagamentos, só devem seguir depois da abertura de capital da bandeira.
“A Caixa Cartões está bem estruturada, mas a questão é se há a necessidade nesse momento, antes da maturidade maior das das operações que fizemos há pouco tempo. É importante que essas operações amadureçam um pouco, porque se não a Caixa Cartões fica muito dependente dos resultados da Elo. Ela tem que mostrar as outras vertentes de pré-pago, adquirência e fidelidade”, disse o presidente da Caixa.