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Economia'Nós que temos dinheiro e raciocínio lógico temos dificuldade em entender Bolsonaro', diz Stuhlberger

‘Nós que temos dinheiro e raciocínio lógico temos dificuldade em entender Bolsonaro’, diz Stuhlberger

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, que administra R$ 55 bilhões em ativos, não acredita que o Brasil esteja prestes a ver o dólar chegar a R$ 6 (hoje em R$ 5,25) ou a taxa Selic a 10% (atualmente em 5,25%).

“Não há razões econômicas para isso”, disse ele nesta quinta-feira (26), durante participação no evento virtual Expert 2021, promovido pela XP Investimentos.

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“Isso só acontecerá se houver uma escalada de tensão política muito forte”, disse Stuhlberger, que participou do evento ao lado do gestor da estratégia multimercado e previdência da Verde AM, Luiz Parreiras.

“Toda pessoa que tem dinheiro, como nós dois [disse, referindo-se a Parreiras], ou pessoas do mercado financeiro, que se pautam por raciocínios lógicos, têm muita dificuldade de entender a estratégia do presidente Bolsonaro de escalar a tensão com o Judiciário”, afirmou. “Não adianta muito pregar para convertido”, disse, referindo-se à parcela da população que apoia o presidente da República.

Segundo Stuhlberger, as primeiras pesquisas espontâneas de intenção de voto apontavam 24% para Jair Bolsonaro e 24% para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 52% de indecisos. “Agora temos 24% de Bolsonaro, 29% de Lula e 36% de indecisos. Uma parte de quem estava indeciso foi para o voto em branco ou nulo”, disse.

“Ou seja, esta tensão criada pelo presidente afasta dele o eleitor antilula, que votou em Bolsonaro por apoiar a agenda econômica e contra tudo o que o PT fez no Brasil, especialmente no governo Dilma Rousseff”, afirmou.

O gestor disse que não sabe o quanto esta situação de confronto entre Judiciário e Executivo “vai piorar antes de melhorar”, mas avalia que será muito difícil a aprovação da Reforma Tributária.

“Fazer a reforma com um presidente fraco e refém do centrão, vai virar um negócio perigosíssimo no Congresso, com lobbies de todos os setores. Ninguém quer que o seu setor seja prejudicado, mas é impossível fazer uma reforma para pegar o que todo mundo tem hoje e ser daí para melhor”.

Para o gestor do fundo Verde, “essa noção de justiça e patriotismo” defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, é “verdadeira”. “Mas a gente acha que este momento não é o ideal”, afirma Stuhlberger, que tem dúvidas sobre a eficácia da tributação dos dividendos, uma das propostas da reforma que gerou mais polêmica no meio empresarial e financeiro.

“Não tenho muita noção se isso [imposto sobre dividendos] vai ajudar muito o Brasil. O que ajudaria muito o Brasil seria a simplificação tributária, proposta em parte da PEC [proposta de emenda à Constituição] 45, sem onerar o setor de serviços”, disse. “Eu acho que essa reforma seria uma reforma com menos complexidade. O que tem de contencioso em PIS e Cofins no Brasil é coisa de trilhão de real”.

Questionado sobre a gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, Luiz Parreiras afirmou que o ministro “é bom na teoria e no slogan e ruim na execução”.

“O discurso liberal é muito bom, no que se refere às privatizações, mas a execução e a negociação política, a gestão do processo de reformas têm deixado muito a desejar”.

QUEBRA DO TETO DE GASTOS VAI SER “O MANTRA DA CAMPANHA ELEITORAL”, DIZ GESTOR

Segundo Stuhlberger, até pouco tempo atrás, Bolsonaro era de centro, mas adotou “uma proposta econômica e política da extrema direita tupiniquim, aprendiz do Trump” [ex-presidente americano Donald Trump]. Agora o presidente tenta emplacar “propostas populistas”, como o Bolsa Família a R$ 400, ampliação do número de famílias, vale gás, diesel subsidiado aos caminhoneiros, quebra do teto dos gastos. “Isso seria algo para o Lula propor, no final do ano que vem, durante a campanha”.

“Mesmo que essas propostas populistas não se materializem, o mercado começa a ficar um tanto quanto preocupado”, diz o gestor, para quem a quebra do teto de gastos vai ser “o mantra da campanha eleitoral” de 2022.

“O Lula foi popular porque a despesa pública subia 6%, acima do IPCA, todos os anos. Por que o Brasil foi tão bem naquela época? Porque a arrecadação subia 8% enquanto a despesa subia 6%. Você teve ganhos como o boom das commodities, da formalização e do crédito que fizeram com que a aceleração do PIB e da receita fossem um fenômeno único na história do país. A gente não vai ver isso de novo”, afirmou.

Para Stuhlberger, Lula vai herdar um Brasil em que a relação do custo da cesta básica sobre o salário-mínimo dobrou em comparação ao seu governo. A aproximação do candidato ao centro pode gerar certa tranquilidade ao mercado, na opinião do gestor, ao mesmo tempo em que mantém o Banco Central independente e indica um bom ministro da Fazenda.

“Seriam boas premissas [para Lula] dizer que o teto será quebrado se a arrecadação subir. Ou que os investimentos vão ficar de fora do teto. E, evidentemente, acabar com essas premissas de eliminar as reformas que foram feitas”, afirmou.

Já Parreiras acredita que a eleição que vai definir o próximo presidente da República ainda está muito longe. “As pessoas têm convicção demais que eleição vai ser Lula versus Bolsonaro. Eu diria que o cenário é muito mais aberto”, afirmou, dando como exemplo a última eleição presidencial nos Estados Unidos, em novembro de 2020, vencida por Joe Biden.

“Em agosto de 2019, Biden era carta fora do baralho. As pessoas estão subestimando o espaço do imponderável”.

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