RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após três meses consecutivos de baixas, a produção industrial brasileira voltou a crescer no país. Em maio, avançou 1,4% na comparação com abril. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado nesta sexta-feira (2).
Com o desempenho, o setor retoma o patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Esse nível havia sido perdido no último mês de abril.
Em relação a maio de 2020, a produção industrial teve alta de 24%. No quinto mês do ano passado, as fábricas sofriam com as primeiras perdas geradas pela crise sanitária.
Os resultados vieram em patamar um pouco abaixo do esperado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam elevação de 1,5% no indicador ante abril, além de crescimento de 24,9% frente a maio de 2020.
Após ser prejudicada pelo começo da crise sanitária, a indústria ensaiou reação ao longo do ano passado. Contudo, esse movimento perdeu fôlego na largada de 2021.
Segundo analistas, a piora da pandemia e a paralisação de medidas de estímulo à economia explicaram o desempenho em nível inferior no começo deste ano.
Nesta sexta-feira, o IBGE também informou que a produção industrial acumulou alta de 4,9% em 12 meses até maio. Em 2021, o indicador registra avanço de 13,1%.
André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, afirmou que a alta de 1,4% em maio pode ser associada a uma combinação de fatores. Entre eles, estão a base ainda fragilizada de comparação, a retomada do auxílio emergencial e o menor nível de restrições a atividades econômicas.
“A combinação de fatores explica o fato de termos em maio um comportamento diferente. A grande questão é saber se isso vai permanecer ou não”, pontuou Macedo.
O gerente da pesquisa também ponderou que, mesmo com a retomada do patamar pré-pandemia, a produção está 16,7% abaixo do nível recorde da série histórica, registrado em maio de 2011.
Dos 26 ramos industriais pesquisados, 15 tiveram altas em maio frente a abril. Produtos alimentícios (2,9%), coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (3%) e indústrias extrativas (2%) puxaram a alta no mês, conforme o IBGE.
Macedo sublinhou que os resultados precisam ser analisados com cautela, porque a base de comparação enfraquecida ainda pesa na pesquisa. Além disso, existem ameaças no cenário macroeconômico, completou.
“Há fatores que permanecem, como taxa de desemprego elevada, massa salarial que não avança, renda menor e inflação mais alta. Tudo isso permanece na análise conjuntural”, declarou.
Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), observa que a produção industrial trouxe “sinais interessantes” em maio. Entretanto, ainda há incertezas sobre o ritmo de retomada a partir de junho.
É que parte das fábricas, incluindo o setor automotivo, segue registrando dificuldades como a escassez de insumos, diz Goulart. “Vamos ter de esperar mais alguns meses para entender se a recuperação é pontual ou se é algo mais forte”, frisa.
Analistas entendem que a retomada consistente das fábricas depende em grande parte da vacinação contra a Covid-19 no segundo semestre. A imunização é vista como peça necessária para permitir a operação segura de empresas.
Outro alento vem da confiança de empresários, que deu sinais de melhora ao final do primeiro semestre. Em junho, o Icei (Índice de Confiança do Empresário Industrial) subiu em 29 dos 30 segmentos pesquisados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Foi o segundo mês consecutivo de avanço disseminado nas fábricas.
“Essa consolidação de uma confiança mais alta, disseminada por toda a indústria, é importante, pois aponta para um segundo semestre positivo. Empresários confiantes tendem a produzir, contratar e investir mais”, disse em nota o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo, na última segunda-feira (28).
Economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito ressalta que “muitos indicadores de expectativas empresariais estão melhorando na esteira da vacinação”. Segundo ele, a tendência é de que a produção industrial também registre desempenho positivo em junho.