BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O grupo hoteleiro de luxo mais antigo da Europa, o alemão Kempinski, criado em 1897, anunciou nesta sexta-feira (27) uma parceria com os empresários José Paim, José Ernesto Marino Neto e Márcio Carvalho para revitalizar o hotel Laje de Pedra, em Canela (RS).
Os empresários, por meio da LDP Canela S/A, vão investir R$ 540 milhões para transformar o tradicional hotel da serra gaúcha em um resort cinco estrelas padrão internacional. A expectativa é inaugurar o projeto em 2024.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, José Paim, empresário do ramo imobiliário, que foi um dos fundadores da Rossi Residencial, diz que o Kempinski vai administrar o empreendimento, assim como faz com a maioria dos seus 78 hotéis em 34 países. “Hoje, apenas quatro unidades na Alemanha são de propriedade do grupo”, afirmou.
Os empresários são parceiros exclusivos do Kempinski no Brasil e estão avaliando quatro novos empreendimentos no país. “Dois deles serão anunciados ainda este ano e um deve ser no litoral do Nordeste” disse Paim.
Hospedar-se em um hotel Kempinski faz parte do status da elite política, econômica e artística global. A rainha Elizabeth e o cantor Michael Jackson estiveram entre os hóspedes ilustres do histórico Adlon Kempinski, em Berlim, fundado em 1907, nas imediações do Portão de Brandemburgo.
No Laje de Pedra, a diária está prevista inicialmente em R$ 2,5 mil. “Serão cerca de US$ 500 por dia, mas este valor pode ser revisto até o lançamento e depende do aval do Kempinski”, disse Marino Neto, investidor do mercado hoteleiro, que já participou do lançamento de empreendimentos como Unique e Fasano.
Segundo Paim, a crise provocada pelo novo coronavírus pegou em cheio a hotelaria urbana. “As viagens de negócios têm sido substituídas pela videoconferência, assim como os eventos corporativos”, diz o empresário. “Mas o turismo de luxo continua crescendo, especialmente com mais empresários e profissionais liberais trabalhando remotamente a partir de uma segunda residência”, afirma. “Eles podem estar na sua casa de campo, de praia, ou no resort”.
Marino Neto concorda. “Os preços das diárias não são mais proibitivos e devem aumentar na alta temporada. São preços de mercado”.
O foco do grupo em um primeiro momento são cerca de 160 mil famílias da classe A+ que moram em um raio de 300 quilômetros do Laje de Pedra. “Grande parte desse público pode vir de carro ao resort”, diz Paim.
Além da operação hoteleira, o Kempinski Laje de Pedra contará com residências privadas ultra premium com serviço de hotel cinco estrelas, incluindo um mordomo à disposição, adega e garagem privativas.
O empreendimento estará afiliado a um serviço de intercâmbio de propriedades de altíssimo luxo. Com isso, os proprietários de Canela poderão trocar estadias em propriedades de igual padrão em mais de 90 países. “Eles podem passar uma temporada em propriedades em Paris, Londres ou na Borgonha, por exemplo”, diz Paim.
O resort de luxo na serra gaúcha vai ocupar uma área de 61 mil m² (metros quadrados). O hotel terá 357 apartamentos com tamanhos de 54m² a 290m². Entre as atrações, estão quatro restaurantes e cinco bares internacionais com amplos terraços, enoteca, bar na cobertura (“rooftop”), teatro e área para eventos. Uma academia de 1 mil m², um spa de padrão europeu, clube para crianças e piscinas aquecidas completam a infraestrutura.
Construído em 1978, o Laje de Pedra estava desativado desde maio do ano passado, quando foi comprado por Paim, Marino e Carvalho da Habitasul. A ideia é oferecer experiências junto à natureza, como roteiros de turismo ecológico, cavalgadas, brunch ao ar livre e visitas a vinícolas. “É preciso valorizar essa cultura maravilhosa do Rio Grande do Sul”, disse Paim, de família gaúcha.
Segundo ele, o resort vai proporcionar um conjunto de experiências que valorizem as riquezas e culturas locais, incluindo a Orquestra Sinfônica Laje de Pedra que deverá se apresentar ao ar livre. “Será o melhor resort do Brasil”, afirma.
De acordo com os empresários, a serra gaúcha é o terceiro maior destino turístico do país, depois de Rio e São Paulo.
Há cerca de 20 anos, o Kempinski ensaiou sua estreia no Brasil, com um hotel urbano na região da avenida Faria Lima, na capital paulista. Mas desistiu do empreendimento. “Na época, minha empresa prestava assessoria de investimentos ao grupo e o alertou sobre o alto número de lançamentos, o que não daria o retorno esperado”, diz Marino Neto.
Com 78 unidades em 34 países, a Kempinski Hotels se interessou pelo projeto Laje de Pedra por conta da sua localização sobre o Vale do Quilombo, com vista para uma falésia de 400 metros na serra gaúcha. Faz parte da tradição do grupo alemão valorizar a cultura local de cada um dos seus empreendimentos espalhados pelo mundo -o que inclui destacar nos projetos a arquitetura, o artesanato e a culinária locais.
No caso de Laje de Pedra, Bernold Schroeder, presidente do Conselho de Administração da Kempinski Hotels, disse ser um prazer aliar a cultura alemã à da cidade de Canela, formada por imigrantes alemães. “É uma excelente oportunidade de ingressar no mercado sul-americano com um projeto excepcional”, disse Schroeder, em coletiva de imprensa virtual que anunciou o empreendimento.
Segundo ele, o empreendimento gaúcho vai fazer jus às três premissas do grupo: valorizar prédios icônicos, devolver à comunidade local parte dos ganhos e respeitar o meio ambiente.
No ano passado, já sob a nova direção, o Laje de Pedra leiloou antigas obras de arte e levantou R$ 280 mil para apoiar o hospital público de Canela, durante a pandemia.
“Um hotel como o Kempinski vai elevar ainda mais o status de turismo de negócios e de lazer da serra gaúcha”, disse o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que participou do anúncio. Serão gerados cerca de 500 empregos diretos com o projeto.
Eleito seguidas vezes como o melhor hotel do Brasil, o Laje de Pedra foi destino da elite econômica, cultural e política brasileira, além de palco dos festivais de música por 15 anos. Em 1992, o local foi escolhido para sediar a assinatura do Tratado do Mercosul.