SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As recentes falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) elevaram a percepção do risco fiscal no mercado e ajudaram a puxar o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, para baixo nesta sexta-feira (30). A queda nas ações da Vale e o movimento dos mercados internacionais também foram ponto que pressionaram o índice para baixo.
A Bolsa de Valores brasileira encerrou a sessão desta sexta com queda de 3,08%, aos 121.800 pontos, no menor patamar desde maio. O volume financeiro foi de R$ 35,502 bilhões. Em julho, o Ibovespa acumulou perdas de 3,94% é o primeiro mês negativo desde fevereiro.
“O presidente afirmou que pretende dar um aumento de 50% do valor médio do Bolsa Família e defendeu que o país se endivide para custear o programa social. Isso é tudo que o mercado não quero ouvir em termos de fiscal”, afirmou o analista da Clear Corretora Rafael Ribeiro.
O temor do mercado é que o governo assuma um viés fiscal mais expansionista conforme sofre queda de popularidade em pesquisas. Segundo um levantamento recente feito pelo Datafolha, a reprovação do presidente Jair Bolsonaro atingiu 51%.
Para Romero Oliveira, diretor de renda variável da Valor Investimentos, ainda que a maior arrecadação do governo tenha aliviado a questão fiscal no curto prazo, a melhora é temporária.
“Além do risco de rompimento do teto de gastos no [lado] fiscal, ainda temos questões inflacionárias e o agravamento do risco político, com as tensões entre Bolsonaro e STF [Supremo Tribunal Federal] se acentuando”, disse.
No mais recente episódio de uma discussão que já dura dias, Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (29) que a corte cometeu crime ao permitir que prefeitos e governadores tivessem autonomia para aplicar medidas restritivas contra a pandemia da Covid-19.
Mais tarde, o presidente também fez uma live nas redes sociais para apresentar o que ele chamava de provas das suas alegações tendo trazido apenas teorias que circulam há anos na internet e que já foram desmentidas anteriormente.
Em resposta, os ministros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) classificaram a live, nos bastidores, como “patética”. Para magistrados, o presidente revelou-se desesperado diante da perda de popularidade que vem sofrendo e por ser alvo de denúncias de suspeitas de irregularidades e corrupção na compra de vacinas.
Além disso, as preocupações com o comportamento da inflação persistem no mercado, uma vez que o indicador se encontra cada vez mais distante do centro da meta definida pelo Banco Central. As estimativas são de que a taxa básica de juros Selic chegue ao final do ano em 7%, conforme a mais recente pesquisa Focus.
Nesta sexta-feira o Banco Central também divulgou o último resultado referente à dívida bruta do país, que ficou em 84% em junho, sob o impacto do aumento do PIB (Produto Interno Bruto) nominal e da valorização cambial.
Foi o quarto mês consecutivo de recuo do indicador. Em maio, a dívida bruta estava em 84,6%.
Outro ponto que ajudou a puxar o Ibovespa para baixo foram as ações da Vale, que caíram 5,64% nesta sexta, para R$ 109,05, afetadas pelo tombo dos contratos futuros do minério de ferro na Ásia. Os preços foram atingidos por diminuição na demanda doméstica e pela decisão da China de reduzir a produção.
“Vale também acabou seguindo o movimento de correção da véspera em vista do resultado ligeiramente abaixo do esperado e com a queda expressiva do minério de ferro”, disse Ribeiro.
No exterior, o dia também foi bastante negativo. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq Composite encerraram com quedas de 0,42%, 0,54% e 0,71%, respectivamente. Os papéis da Amazon.com foram destaque negativo após a empresa projetar um crescimento menor nas vendas.
Ainda assim, o S&P 500 cravou seu sexto mês consecutivo de ganhos.
No câmbio, o dólar encerrou a sessão com alta de 2,55%, a R$ 5,2090. O movimento reflete a maior aversão ao risco no Brasil e no mundo, com os investidores em busca de ativos de proteção. As taxas dos contratos de DI registraram acréscimos relevantes.
Em julho, o dólar subiu 4,66%. A alta mensal é a maior desde janeiro (5,53%) e fez a cotação devolver quase totalmente a queda de junho (-4,77%). Para meses de julho, a valorização foi a mais forte desde 2015 (10,16%). Em 2021, o dólar volta a acumular ganho de 0,32%.