O circuito brasileiro de vôlei de praia começa nesta quarta-feira em novo formato, depois do desempenho abaixo do esperado da modalidade na Olimpíada de Tóquio, a primeira edição dos Jogos desde Atlanta-1996 sem uma medalha. O novo modelo, que altera estruturas importantes da competição, foi recebido com críticas de parte dos atletas. A primeira etapa teve as inscrições encerradas no dia 19 de janeiro e não terá a participação de nomes como da dupla Ana Patrícia e Duda. As duas disputaram os Jogos de Tóquio com Rebecca e Agatha, respectivamente, e Duda é atualmente líder do ranking mundial.
No novo formato, o circuito brasileiro agora terá um calendário iniciando em janeiro/fevereiro e terminando em dezembro, com dois torneios dentro de uma mesma etapa. O principal será o Top 8, em dez edições, disputado entre as sete melhores duplas do ranking, além do vencedor do aberto anterior. Já o Aberto, em 15 edições, vai reunir equipes abaixo do top 8 no ranking, sendo um total de 16 participantes, mais uma dupla de jovens sub-21 e outras duas do classificatório da própria competição. Ambas competições contarão pontos para o circuito nacional.
“O projeto foi elaborado com base em muito estudo e trabalho. Partimos de um diagnóstico profundo da competição, e trabalhamos com foco em renovação, atratividade e sustentabilidade. O nivelamento dos jogos, que serão entre duplas de ranqueamento mais próximo, torna o espetáculo mais atrativo para o público e estimula o desenvolvimento dos atletas. No modelo anterior, os confrontos eram definidos pela colocação no ranking: o mais bem ranqueado enfrentava o time de colocação mais baixa e assim por diante, desnivelando as partidas, principalmente no começo da competição”, explicou o gerente da modalidade, Guilherme Marques, ao Estadão.
A premiação total agora é de R$ 6 milhões, 25% superior à do ano passado, segundo a CBV. No entanto, com o aumento do número de etapas, o valor para cada uma cai, sendo essa uma das críticas da Comissão de Atletas, principal voz contrária ao novo regulamento. “Na nova proposta, houve um corte de aproximadamente R$ 600 mil”, diz a nota do grupo. A premiação foi tema de grande disputa entre a CBV e a Comissão de Atletas.
“A maior questão, no entanto, foi em relação ao valor da premiação. E não foi possível um aumento além dos 25% no total da premiação já proposta. Sem esse aumento no valor total da premiação, a Comissão de Atletas, que inicialmente se mostrou favorável ao novo modelo, passou a solicitar um retorno ao modelo antigo”, rebateu Marques.
Mas os atletas também reclamaram de outros pontos específicos do novo formato e destacaram que a principal crítica não está relacionada à premiação, impasse que gerou grande desconforto entre as partes e motivou manifestação nas redes sociais por parte dos atletas.
A Comissão alega que o processo de formulação e aprovação do novo formato não contemplou a opinião dos atletas, o que foi rebatido pela CBV em nota. “Não houve a chance de um debate claro e eficiente para discutirmos sobre a nova proposta”, diz o grupo de atletas, que afirma que a maioria preferiria manter o formato de disputa anterior.
A CBV rebateu e disse que, após a apresentação da proposta do novo circuito brasileiro, a Comissão de Atletas afirmou à entidade que havia gostado da ideia e tinha a intenção de avançar na discussão. “Tivemos conversas com atletas, treinadores e a Comissão Nacional de Atletas durante todo o desenvolvimento do projeto. E continuamos abertos ao diálogo”, diz Marques.
Outro ponto de discordância se deu com a CBV ter como foco rejuvenescer a média de idade dos atletas, que, segundo a entidade, “se mostra pertinente, uma vez que a média de idade dos competidores brasileiros em atividade que estiveram entre os 10 primeiros do ranking mundial no último ciclo olímpico é de 33 anos. Além disso, quase metade (48%) das atletas que disputam o circuito brasileiro tem 35 anos ou mais”, diz o comunicado, que também foi mal visto e rebatido pela Comissão.
“Gostaríamos de mencionar que o fato de termos atletas ‘mais velhos’ jogando o circuito brasileiro não deveria ser visto como um problema. O vôlei de praia é um esporte longevo”, informa a nota que cita a atual presidente da CBV, Adriana Behar, que conquistou medalha olímpica aos 35 anos.