TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Há exatos 9 anos, Ana Sátila, então com apenas 16 anos, encontrou a reportagem da Folha de S. Paulo na Vila Olímpica de Londres e relatou a angústia que sentia pela distância dos pais durante aquelas Olimpíadas.
Sátila era a mais jovem integrante da delegação brasileira daqueles Jogos. Ela mesmo admite que a participação foi simbólica, uma espécie de diversão juvenil.
Obteve apenas o 16º lugar, mas carrega na memória a voz do locutor da prova pedindo apoio da torcida a uma adolescente brasileira nascida em Iturama (MG).
“Cheguei tão nova, sem entender nada, nem do esporte nem de mim como atleta e pessoa. Era a primeira competição separada da minha família. Me senti perdida ali”, contou à reportagem, em Tóquio.
De lá para cá, Sátila, 25, virou gente grande e a referência do Brasil na canoagem slalom, modalidade na qual o atleta rema em canoa (C1) ou caiaque (K1) por percurso em corredeira definido por balizas.
A mineira estreia em Tóquio na madrugada de domingo (25), na K1, pouco depois de 2h30 (horário de Brasília). Três dias depois, no dia 28, compete na C1, onde tem obtido resultados mais expressivos nas disputas internacionais.
O sonho de medalha nos Jogos do Rio em 2016 foi interrompido precocemente por um erro cometido por ela durante o começo da prova no K1, levando a uma eliminação e o 17º lugar. É certamente a maior decepção de sua carreira.
“Cheguei confiante, era a quarta no ranking mundial na K1, para pegar medalha de ouro, e nada abaixo seria suficiente. Cheguei me cobrando de maneira surreal. Era primeira fez da minha família me assistindo”, relembra. “Foi um choque muito grande, não consegui colocar nada do que sabia.”
Duas Olimpíadas depois, além de quatro medalhas em Pan-Americanos e um ouro inédito em uma etapa da Copa do Mundo, no ano passado, Ana Sátila diz que se sente madura para subir no pódio em Tóquio. Foi a primeira atleta brasileira a desembarcar no Japão, dia 5.
“Chego aqui (Japão) mais confiante do que nunca, não me cobrando tanto”, afirma a brasileira.
“Fiz tudo que poderia ter feito para chegar até aqui, treinei o máximo que pude. Agora é questão de conseguir colocar em prática no momento específico”.
O adiamento dos Jogos Olimpícos de 2020 para 2021, por causa da pandemia da Covid-19, atrapalhou os planos da atleta brasileira. “Levei um choque muito grande quando adiou porque estava com foco total naquele momento. Não sabia o que fazer”, diz.
Apesar de ter tido resultados mais expressivos na categoria C1 (canoa), ela mantém expectativa de medalha na K1.
Para a atleta, o veto de público na competição, em razão da pandemia, fará pouca diferença.
“Na verdade, nunca fui acostumada à presença de público. São raras as competições em que há um público incrível. Lembro que no Rio e em Londres fiquei surpresa com a quantidade de pessoas”, diz a brasileira, que disputa sua terceira Olimpíada.
“Competir sem ninguém em Tóquio só vai ajudar a ficar mais focada, mais concentrada.”
O fato de ganhar uma medalha nos Jogos que poderiam ter sido cancelados não deixa de ser um estímulo a mais para a brasileira. “Estamos passando por problema delicado, mas para mim é uma felicidade muito grande estar aqui, com oportunidade de representar meu país país nos Jogos que poderiam nem ter ocorrido”.