Assim que comprou o Botafogo, o magnata americano John Textor não gastou parte de sua fortuna em jogadores. O que ele fez, antes disso, foi buscar Alessandro Brito, encarregado de coordenar a reformulação no elenco. Brito é analista de desempenho, um profissional cada vez mais fundamental para o sucesso de uma equipe. Novo rico no Brasileirão, o clube carioca é uma das equipes que aposta no aperfeiçoamento dessa metodologia para definir suas contratações.
Dono da SAF do Botafogo, o empresário americano foi atrás de Brito porque já o conhecia. Ele foi um dos responsáveis pela montagem do plantel do Atlético-MG, atual campeão Brasileiro e da Copa do Brasil, e hoje procura atletas para o alvinegro carioca na função de headscout.
Com passagens por Athletico-PR, Paraná e Internacional, Brito coordena todas as áreas de scout do Botafogo – mercado, captação e desempenho. Desde a sua chegada, o Botafogo contratou 11 atletas e foi o clube que mais gastou nesta última janela de transferências. Chegaram Philippe Sampaio, Lucas Piazon, Saravia, Patrick de Paula, Victor Sá, Luís Oyama, Victor Cuesta, Niko Hämäläinen, Tchê Tchê, Lucas Fernandes e Gustavo Sauer.
“Estamos criando um departamento de mercado, que será responsável por atletas com potencial para compra para a equipe principal. Na parte de mercado, queremos trabalhar com observadores in loco e via vídeo para analisar a performance do atleta”, revela ao Estadão. “Pegamos os dados do jogo e transformamos para captar o atleta ou quanto à performance da equipe. O headscout não é só o que contrata. É um banco de dados que passa informações para o clube. O departamento tem que ceder ao clube as informações. Essa é a ideia”, explica.
O Botafogo conta com três analistas desempenho, dois de mercado – entre eles o ex-comentarista do SporTV Raphael Rezende – e um profissional que cuida de toda a base de dados, além do apoio do setor de análise do Crystal Palace, clube da primeira divisão da Inglaterra no qual John Textor, dono da SAF do alvinegro carioca, é acionista. A participação do empresário no processo é grande, visto que ele se comunica duas ou três vezes por dia com os profissionais. A confiança no processo foi o que fez com que a diretoria pagasse R$ 33 milhões para tirar Patrick de Paula do Palmeiras e fazer do volante a contratação mais cara da história do clube.
“Todos os nomes que são sugeridos têm que ter o aval de três frentes: o departamento de scout, o pessoal do Crystal Palace, que nos ajuda com relatórios, e a comissão técnica. Só com esse aval é que caminhamos. Ninguém toma decisões sozinho”, salienta Brito. “Estamos procurando um camisa 9. Pegamos informação que o Botafogo tem, que a comissão técnica tem, que o Crystal Palace. Juntamos, vamos ao mercado e chegamos a um consenso. Não surge um atleta do nada. São atletas, geralmente, pinçados para formar esse novo formato do clube. E o Patrick de Paula é um deles”, exemplifica.
“A ideia do Botafogo neste primeiro e no segundo ano é elevar o nível técnico da equipe nas disputas. Até 2023, a ideia é recolocar o Botafogo em nível competitivo. Queremos trazer jovens para usar o Botafogo como vitrine e colocar esses atletas no mercado internacional. Essa é também uma das ideias, trabalhar com atletas de 22, 23 anos, para que eles consigam performar. Eles ajudam o clube e futuramente o clube pode ter um retorno financeiro com eles. Futebol não é receita de bolo. A gente acredita muito no trabalho, sem vaidade. Esse começo está bem bacana. Estamos remando juntos por um propósito”.
DADOS, INFORMAÇÕES E TECNOLOGIA
Em resumo, o trabalho de um analista de mercado consiste em prospectar “jogadores alvos”, isto é, que virem ativos e proporcionem um retorno técnico e financeiro para a instituição. Esse profissional coleta informações, analisa e produz relatórios para que o clube tome a melhor decisão possível na hora de contratar um jogador.
“Com a evolução do futebol e da tecnologia dentro desse nicho, cada vez mais se faz necessário esse tipo de profissional dentro de um clube de futebol”, observa Leandro Costa, analista de mercado do Fortaleza. Sem tantos recursos, mas organizado financeiramente, o clube cearense montou um elenco coeso e no ano passado ficou entre os quatro melhores do Brasileirão, o que lhe permitiu disputar a Libertadores pela primeira vez em sua história.