A longevidade não é mais uma surpresa no tênis. O suíço Roger Federer e a americana Serena Williams, duas lendas da modalidade, continuam competindo no circuito aos 40 anos. Mas o brasileiro José Nepomuceno resolveu levar essa história para um “outro patamar”. Aos 94 anos, o cearense da cidade de Pacatuba, radicado em São Paulo, se tornou o segundo tenista mais velho do mundo ainda na ativa.
Seu José só está atrás do ucraniano Leonid Stanislavsky, de 97 anos. No fim de outubro, o tenista nascido em 1924 teve o privilégio de bater uma bola com o espanhol Rafael Nadal, outra lenda da modalidade. O brasileiro, que nasceu em 1927, 41 anos antes da profissionalização dos tenistas, ainda não teve tal oportunidade. Mas faz bonito quando está em quadra. Ao menos quando tem a oportunidade.
O desafio do “veterano” brasileiro é encontrar adversários para enfrentar em quadra. São poucos os que aceitam o duelo. A dificuldade se repetiu em seu último torneio, o Golden Lake Multiplan Seniors Internacional, disputado em Porto Alegre, no início do mês. “Vim aqui para jogar com dois senhores de 85 anos. Quando eu cheguei, eles desistiram”, lamenta seu José, em entrevista ao Estadão.
Sem chances com rivais de faixa etária mais próxima, ele precisou enfrentar os “novinhos”, de 70 anos. “Eu sofro com isso, sabe? O cara pensa que pode perder de mim, é um pouco mais novo, e não joga por receio. Ninguém quer perder para velho. O outro não joga porque sabe da minha idade e tem medo de ganhar, por respeito. Aí eu fico atrás de parceiro para jogar e não acho.”
Em São Paulo, o ex-empresário mora a 200 metros do tradicional Clube Pinheiros. Frequentador assíduo do local, está sempre à espera de um convite para bater uma bolinha. “Às vezes falta alguém e o cara me liga. Se eu tiver de barba feita, já apareço para jogar. Não posso aparecer desarranjado.”
Seu José diz que “não se preparou” para chegar aos 94 anos na ativa. “Levo uma vida normal. Só durmo depois das 2h da manhã. Eu não faço muito exercício. Se eu me degastar com exercício, não tem jogo”, explica o tenista. O segredo de sua longevidade, na sua opinião, é a quiroterapia, um tipo de massagem. “É um processo de autoaplicação, para não depender de ninguém. Isso me auxilia bastante. Não tenho problemas de joelho ou tornozelo, torcicolo, nada disso.”
O tenista começou a jogar na década de 40, quando morava no Rio de Janeiro. “Jogava frescobol em Copacabana. Aprendi um pouco assim”, lembra. Ele chegou a ter aulas com Givaldo Barbosa, que chegou a ser 32º do mundo em duplas e disputou os torneios de Grand Slam na década de 80.
Quando se iniciou no tênis, seu José buscava apenas melhorar a saúde. “Sempre tive um pouco de tendência para engordar. Fumava mais do que devia, bebia um pouco. Jogando tênis, se eu continuar com esses hábitos, estou frito. Gosto de estar bem até porque eu não gosto de perder (em quadra).”
Os torneios vieram apenas décadas depois. E ajudaram o tenista em todos os aspectos. “Sou muito elétrico. E o tênis me ajuda a dar uma ‘freada’. Estou sempre fazendo alguma coisa”, conta o atleta, que já foi federado.
A paixão surgiu aos poucos. Hoje seu José não perde um torneio, nem mesmo pela televisão. Enquanto concedia a entrevista ao Estadão, acompanhava as partidas do Masters 1000 de Paris. O tenista diz não ter um ídolo na modalidade porque “todo ano surge um novo”. “Já gostei muito do (Ivan Lendl) e do Sampras. Gosto de torcer pelos jovens. Entrou em quadra, já torço por ele”, afirma. Na sua opinião, Nadal é o melhor de todos os tempos. “É o mais rápido, mais defensor. Pega tudo.”