Karim Benzema é o grande nome do futebol europeu nos últimos meses. Artilheiro do Campeonato Espanhol, com 24 gols, e com dois hat-tricks nos últimos dois jogos da Liga dos Campeões, o nome do atacante francês surge como um forte candidato para o prêmio de melhor do mundo da temporada. Como não estava na Copa do Mundo da Rússia, quando a seleção francesa foi campeã, não seria demais afirmar que o time comandado por Didier Deschamps estará mais forte no Catar com sua presença.
De ascendência argelina, Benzema é um dos principais nomes do atual elenco do Real Madrid, ao lado do brasileiro Vinicius Junior, Alaba, Kroos e Modric. Nem sempre foi assim. Desde 2009 no clube merengue, o jogador se tornou apenas recentemente o grande destaque técnico do time espanhol. Também assumiu posição de liderança no vestiário após a saída de Sérgio Ramos, Varane e Cristiano Ronaldo nos últimos anos.
Podendo chegar a mais uma semifinal de Liga dos Campeões, o francês é a cara do mata-mata do Real Madrid nessa edição. Ele decidiu os confrontos com o Paris Saint-Germain e o Chelsea, por exemplo, embora a segunda partida diante dos ingleses ocorra nesta terça-feira. Mas a vantagem do Real Madrid é muito boa. Também foi um ano de superação do atacante, provando que nunca foi coadjuvante do Real e voltando a vestir a camisa da seleção francesa. Seu grande sonho é disputar a Copa.
REAL MADRID E CRISTIANO RONALDO
Benzema chegou em 2009 ao Santiago Bernabéu, vindo do Lyon, da França. Apesar de ter custado mais de 40 milhões de euros aos cofres do Real Madrid, ele não se firmou imediatamente como titular de sua posição. Entrando como substituto na maioria das partidas, marcou 26 gols em 48 jogos em sua segunda temporada pela equipe.
Em um elenco estrelado, Benzema atuou ao lado de nomes como Kaká, Kroos, Modric, Casillas, Bale e Sérgio Ramos ao longo desses anos no clube espanhol, mas nunca foi a “estrela da companhia”. A presença de Cristiano Ronaldo chamava a atenção da mídia, dos torcedores e dos jogadores, que executavam funções para “ajudar” o português. Na verdade, sobrava pouco para Benzema.
Com a transição de Cristiano Ronaldo, da ponta para a função de centroavante, Benzema passou a desempenhar até 2018, ano da saída do craque português do clube, um papel de “garçom”, por vezes abrindo mão do papel de centroavante para auxiliar o time. Correndo mais, caindo pelas pontas e pelo meio e ficando mais longe da área, Benzema deixou de marcar gols – média de 0,4 por partida com CR7 no elenco.
“O Cristiano Ronaldo tem de rezar toda manhã e dizer obrigado por ter jogado com o Benzema. Ele, em 2022 e no ano passado também, marcou 50 gols e deu mais de 30 assistências. Antes estava a serviço de Cristiano Ronaldo”, afirmou Cassano, ex-capitão da seleção italiana, quando discutia a parceria entre o português e o camisa 9 do Real Madrid. Mas a dupla funcionava. Em nove temporadas ao lado de Cristiano Ronaldo, foram quatro títulos de Liga dos Campeões, sendo três de forma consecutiva. Mas para os olhares desatentos, Benzema não passava de um coadjuvante. A estrela era o português e ele estava ciente disso.
“Quando você joga com um cara como Cristiano Ronaldo que faz 50 ou 60 gols por temporada, claro, você está jogando a serviço do time, mas você joga a serviço do jogador também, porque ele é alguém que marca muito. Tive de me adaptar e me adaptei”, afirmou o atacante, no ano passado.
SELEÇÃO FRANCESA
Pela França, Benzema disputou as Eurocopas de 2008 e 2012 e as Copas do Mundo de 2010 e 2014. Mesmo sem conquistar nenhum título nesse período, foi um dos grandes destaques da equipe nacional. Mas, em 2015, após ser acusado pela Justiça da França por associação criminosa, ao cobrar valores em dinheiro para não divulgar vídeos íntimos de seu companheiro de time Mathieu Valbuena, deixou de ser convocado pelo time nacional. Seu nome foi parar nas páginas policiais.
Didier Deschamps e a Federação Francesa de Futebol decidiram deixar o atacante fora da Eurocopa de 2016 e das convocações. À época, Benzema afirmou que o treinador “desistiu de convocá-lo devido à pressão da Federação racista da França”, por causa de sua origem africana.
Com nova ausência na Copa de 2018, seguindo com sua “punição”, Noel Le Graet, presidente da federação, afirmou que a carreira de Benzema estava “terminada”. “Se você acha que estou acabado, deixe-me jogar por um dos outros países para os quais sou elegível e veremos”, respondeu o atacante em 2019.
ESTRELA DO REAL MADRID E RENASCIMENTO NA FRANÇA
Após a saída de Cristiano Ronaldo em 2018, Benzema passou a ser o destaque do time espanhol. Voltando a ser referência no ataque após nove anos, o centroavante aumentou sua média de gols pela equipe – de 0,45 para 0,62 por jogo – e se tornou líder do elenco para os mais jovens, como Mendy, Vinicius Junior e Rodrygo, que fazem parte da reconstrução merengue.
A temporada 2021/22 é o auge da carreira de Benzema. Com o Real líder isolado do Campeonato Espanhol, a dupla de ataque com Vinicius Junior é uma das mais letais do futebol mundial. Ambos cresceram juntos. Capitão da equipe, Benzema fez 33 jogos na temporada. Participou, com gols ou assistências, de 42 gols do time – melhor número da sua carreira.
O desempenho pelo Real também consolidou seu retorno à seleção na Eurocopa do ano passado e para as convocações do treinador. Desde então, foram 13 jogos disputados, com nove gols, além de sua primeira conquista com a seleção: a Liga das Nações da Uefa, marcando na final do jogo contra a Espanha.
Enfrentando o Chelsea nesta terça-feira no Santiago Bernabéu, com vantagem de 3 a 1, graças a três gols seu, Benzema pode voltar a colocar o Real Madrid em uma semifinal pelo segundo ano seguido, algo que não acontecia desde a saída de Cristiano Ronaldo. Além disso, o quarto maior artilheiro da Liga dos Campeões de todos os tempos continua a escrever sua história de reconstrução nessa temporada, digna de Bola de Ouro e outras premiações.