Nesta sexta-feira, Crystal Palace e Arsenal abrem a rodada que marca o início da temporada 2022/2023 do Campeonato Inglês. Considerada a principal liga de futebol do mundo, a competição é reconhecida pela alta geração de receita e clubes com grande poder de investimento, além de reunir os principais jogadores do futebol mundial.
Segundo um relatório feito pelos analistas da Football Benchmark, publicado no último mês, o Campeonato Inglês tem dez clubes entre os 32 mais valiosos da Europa. Até o ano passado, havia oito times na lista, com Manchester United, Liverpool, Manchester City, Chelsea, Tottenham, Arsenal, Leicester e Everton. Em 2022, Aston Villa e West Ham também se juntaram a essas equipes e agora aparecem entre os mais endinheirados do planeta.
De acordo com o mesmo relatório, que usou demonstrações financeiras anuais e valores do elenco para calcular a avaliação dos clubes, o crescimento da liga, entre outros fatores, tem relação com as receitas de transmissão. No fim de 2021, por exemplo, o Inglês prorrogou o contrato com a NBC, dos Estados Unidos, por mais seis anos pelos direitos televisivos. A agência de notícias The Associated Press divulgou que o valor do novo acordo foi de US$ 2,7 bilhões (cerca de R$ 14 bilhões).
No início do ano, o Inglês anunciou uma arrecadação para o período entre 2022 e 2025 de 6,32 bilhões de euros (R$ 32 bilhões) com os direitos de transmissão fora do Reino Unido. O fato de o torneio contar com jogadores estrelados de diversos países colabora para vender o produto globalmente. Nomes como o sul-coreano Son Heung-min, do Tottenham, o atacante Pulisic, americano que atua no Chelsea, e o colombiano Luis Díaz, atacante do Liverpool, são alguns dos atletas que ajudam na visibilidade da competição em outras praças. Nesta temporada, Gabriel Jesus vai usar a camisa do Arsenal, que o comprou do City.
“É o campeonato nacional mais ‘globalizado’ do mundo e, para explicar isso, envolve muitos elementos. Atletas de renome, clubes com capacidade econômica para fazer grandes contratações, times competitivos e futebol de alto nível não são as causas, mas as consequências de um trabalho que vem desde os anos 90. Um projeto para construir uma liga forte e um produto global desde seu início, exigindo que os times também fossem estruturas 100% profissionalizadas. O resultado não poderia ser outro”, afirma Armênio Neto, especialista em negócios no esporte.
O faturamento dos clubes é um fator que faz diferença para alavancar o nível da liga inglesa. Só na janela de transferências atual, os 20 times já investiram 1,23 bilhão de euros (R$ 6,4 bilhões) em contratações. Segundo os dados da plataforma alemã Transfermarkt, no Top 5 da Europa, o Campeonato Alemão foi o que mais se aproximou do Inglês no quesito de investimento em reforços, com o valor chegando até o momento em 567,9 milhões de euros (R$ 3 bilhões)
Para Júnior Chávare, profissional que trabalhou em Atlético-MG, São Paulo e Grêmio, o poder econômico do Inglês, aliado à organização e estruturação, são fatores que tendem a chamar atenção dos atletas. O dirigente também destaca a distância do futebol brasileiro, por exemplo, da realidade do futebol inglês.
“A nossa diferença passa muito pelo fator financeiro e capacidade de captação e contratação de jogadores. O Brasil, pelo menos na América do Sul, consegue um destaque, mas que, ainda assim, não pode ser comparado com a Europa. A questão da estrutura, como centro de treinamento, qualidade de gramado, organização, até calendário e, de um modo geral, da competitividade, que permite que os clubes possam disputar cada vez mais competições de alto nível, fazem parte dessa disparidade”.
Do ponto de vista dos negócios, Pedro Melo, executivo comercial do Atlético-MG que atua na captação e gestão de patrocínios, explica os motivos dessa diferença do poderio econômico entre os clubes do futebol brasileiro com o Inglês. “Tem relação com que cada clube representa em tamanho de torcida, ações de marketing, vendas de produtos, entre outras razões. Falando especificamente da Inglaterra, nossa disparidade certamente está na distribuição de cotas, a desvalorização da nossa moeda em relação à libra e a exploração de ativos comerciais”, explica.
O executivo acrescenta que o Brasil está no caminho para desenvolver e valorizar as competições nacionais e as discussões sobre a nova liga são um passo importante na busca por melhorias. “O Brasil está iniciando um processo de maior organização e paridade entre os clubes. Dessa forma, acredito que os investimentos serão maiores e constantes”.