SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dono de duas das primeiras medalhas brasileiras nas Olimpíadas de Tóquio, o skate, que no fim da década de 1980 chegou a ser proibido em espaços públicos na capital paulista, atualmente conta com cerca de 100 locais abertos ao público para a prática do esporte na cidade de São Paulo, segundo a Federação Paulista de Skate.
Esses locais estão entre pistas construídas especialmente para a prática do esporte, inclusive em parques públicos, ou nos obstáculos normais de praças e ainda num espaço reservado no recém-inaugurado vale do Anhangabaú, na região central da capital paulista.
“Existe um investimento maior na construção de equipamentos públicos e locais para a prática bem como um entendimento do papel social do skate junto ao jovem”, diz Bruno Asi, diretor técnico da Federação Paulista de Skate. “Acredito que ainda estamos no início de um processo de entendimento por parte do restante da sociedade do que é o skate e qual seu papel junto a vida cotidiana da cidade”, afirmou.
Mas as barreiras encaradas pelos skatistas não eram apenas bancos e escadas de praças. O então prefeito, Jânio Quadros (1917-1992), implantou, em 1988, uma lei municipal que impedia a prática do skate em toda a metrópole. Quem desrespeitasse seria detido e, se fosse menor de idade, acabava levado até ao Juizado de Menores. Contra a medida, cerca de 200 skatistas fizeram uma “passeata sobre skate” desde a estação Paraíso do metrô até o gabinete de Jânio Quadros, no Ibirapuera, em protesto contra a decisão do prefeito.
Isso mudou na primeira semana do mandato de Luiza Erundina, então no PT e atualmente deputada federal pelo PSOL, à frente da prefeitura. Ela cumpriu sua promessa de liberar o skate na cidade, incluindo no parque do Ibirapuera, e revogou o decreto do antecessor.
“Essa caneta serve para muitas coisas no sentido coletivo e isso me dá, ainda na minha idade [86 anos], uma enorme satisfação e orgulho”, diz Erundina, que resgata um episódio que viveu no período. “Em 1989, recebi um relato de um menino de 8 anos, que tinha acabado de ganhar um skate do pai e a Guarda Metropolitana, ainda de Jânio Quadros, quebrou o skate. No fundo se trata de dar oportunidades para pessoas de origem humilde para trazer alegria. O skate é uma tábua com rodas, mas com muita perícia, arte, concentração e alegria eles são capazes de fazer coisas maravilhosas”, destaca.
O hexacampeão mundial Sandro Dias, 46 é nascido em Santo André (ABC), mas vinha encarar os desafios urbanos da cidade de São Paulo antes de se tonar um skatista famoso mundialmente. E lembra que os pais eram obrigados a buscar os filhos na delegacia no fim da década de 1980. “Minha geração fortaleceu bastante deu outra cara ao esporte. Transformou aquilo que não era esporte em esporte”, diz ele, considerado o “Rei do 540”.
Kiko Louco, 49, engenheiro mecânico e músico na banda Três Loucos, costuma descer ladeiras na modalidade downhill desde os anos 1980. “Eu comecei pelo período em que o skate era mal visto na cidade, ainda mais pela lei do Jânio Quadros e pelo fim da ditadura militar. Meu principal incentivo por ser uma forma de transgressão, quase marginal. Ando há mais de 35 anos e gosto demais”, afirma.
Mesmo assim, os praticantes mais antigos não querem deixar de lado a prática do skate como uma forma de manifestação cultural.
“Acredito que estamos em um ponto de reflexão sobre o futuro da modalidade, precisamos evoluir para abraçar o movimento olímpico sem deixar as raízes e cultura que envolve o skate de lado. Um skatista sempre olha para um corrimão, uma escada, uma ladeira e vê algo além do que apenas um espaço imobilizado, enxerga uma possibilidade de diversão, nada mais justo que olharmos para o skate para além do esporte”, ressalta diretor técnico da Federação Paulista de Skate.
“A prática do skate nunca cresceu tanto quanto nos últimos anos. A última pesquisa feita pela CBSK [Confederação Brasileira de Skate], em 2015, mostra que o número de skatistas no Brasil mais que dobrou, indo de 4 milhões em 2009 para 8,5 milhões em 2015”, afirma Mario Marsola, que estuda a modalidade na EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) da USP (Universidade de São Paulo), com as professoras Ana Zimmermann e Soraia Chung Saura.
“Além disso, hoje em dia é mais comum ver praticantes mulheres, a CBSK divulgou que, em 2009, 10% do público skatista era feminino, e, em 2015, a porcentagem quase dobrou, indo para 19%. Hoje com certeza o número de mulheres aumenta cada vez mais”, completa.
É o caso da jovem Ágatha, 13 anos. Sua mãe, a vendedora Samara Carvalho, 42, costuma levá-la para praticar o esporte na praça Franklin Roosevelt (centro). A filha tem acompanhado as Olimpíadas e se inspira na jovem Rayssa Leal, de mesma idade, que na madrugada desta segunda-feira (de Brasília) ganhou a medalha de prata em Tóquio.
“Sempre incentivei meus filhos a praticarem skate. Moro aqui no centro e ela adora vir aqui. Começou faz pouco mais de um ano e ainda está aprendendo, mas já fala que sonha em ser uma skatista profissional”, diz Samara, que tem mais três filhos, de 16, 8 e 6 anos, que que também andam de skate.
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VEJA ALGUMAS PISTAS DE SKATE DE ACESSO GRATUITO EM SP:
Vans Skatepark
Onde: av. Queiroz Filho, 1.365, Vila Hamburguesa (zona oeste) – Parque Estadual Cândido Portinari
Horário: todos os dias, das 5h30 às 19h
Modalidades: Park; ao lado dela existe uma pequena ladeira muito usada por que está iniciando no downHill e longboard.
Centro de Esportes Radicais
Onde: av. Presidente Castelo Branco, 5.700, Bom Retiro (região central) – Centro de Esportes Radicais
Horário: todos os dias, das 8h às 22h
Modalidades: Street, banks, bowl e miniramp
Pista de Skate da Chácara do Jockey
Onde: av. Prof. Francisco Morato, 5.257, Vila Sônia (zona sul) – Parque Chácara do Jockey
Horário: todos os dias, das 6h às 18h
Modalidades: Street e park
Skate Park da Mooca
Onde: r. Taquari, 549, Mooca (zona leste) – Clube Escola Mooca
Horário: de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h; sábados e domingos, das 9h às 18h
Modalidades: Street e park
Pista de Skate do Parque Chuvisco
Onde: av. Doutor Lino de Moraes Leme, próximo à avenida jornalista Roberto Marinho – Parque do Chuvisco, no Jardim Aeroporto (zona sul)
Horário: todos os dias, das 7h às 19h
Modalidades: Street e park
Praça Franklin Roosevelt
Onde: r. da Consolação, s/n, Consolação (região central)
Funcionamento: todos os dias, o dia todo
Modalidade: Street
Vale do Anhangabaú
Onde: Centro Histórico de São Paulo (região central)
Funcionamento: todos os dias, o dia todo
Modalidade: Street
Parque da Juventude
Onde: av. Cruzeiro do Sul, 2.630, Santana (zona norte)
Quando: de segunda a sábado, das 6h às 23h59; e aos domingos, das 6h às 22h
Modalidades: Street e miniramp
Parque da Independência
Onde: av. Nazaré, s/n, Ipiranga (zona sul)
Quando: todos os dias, das 5h às 20h
Modalidades: Street, downhill e longboard.
CEU Butantã
Onde: av. Engenheiro Heitor Antonio Eiras Garcia, 1.870, Butantã (zona oeste)
Quando: de segunda a sexta, das 7h às 22h; e aos sábados e domingos, das 8h às 20h
Modalidades: Bowl e street
Pista da Saúde
Onde: Complexo Viário Maria Maluf, Cursino (zona sul)
Quando: todos os dias, o dia todo
Modalidades: Street
Principais equipamentos de segurança
Joelheira (R$ 150)
Cotoveleira (R$ 80)
Capacete (R$ 120)
Luvas (opcionais)
Preço médio de um skate para um iniciante
Cada modalidade tem um tipo de skate
Para a modalidade Street, que é o mais conhecido, custa, em média, entre R$ 260 e R$ 300
Fonte: Bruno Asi, diretor técnico da Federação Paulista de Skate, e The House Skate Shop